CORREÇÃO: As fraldas descartáveis estão em falta na farmácia especializada do CES, por meio da qual são fornecidas, e não na farmácia básica, como noticiamos inicialmente. A informação incorreta permaneceu publicada das 15h16min de 06/05/21 até as 11h56min de 07/05/21.
Idosos, pacientes acamados ou mesmo pessoas que se recuperam de cirurgias e precisam usar fraldas descartáveis estão sem acesso ao item pelo Centro Especializado de Saúde (CES) de Caxias do Sul. Usuários do serviço relatam que a falta do item em tamanho grande começou a ser registrada ainda em fevereiro de 2021, sendo que, recentemente também ficou suspenso o fornecimento de fraldas de tamanho médio, ambas sem previsão para reposição. Conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde, cerca de mil pessoas estão atualmente cadastradas para recebimento de fraldas pela rede pública. A situação gera transtornos para familiares de pacientes que dependem do fornecimento e encontram dificuldades para garantia do item.
Há cerca de cinco anos, Tatiana Oliveira Sales, 37, deixou o emprego de recepcionista em uma clínica de diagnóstico por imagem para cuidar da mãe, Eliana Oliveira Sales, que, aos 60 anos, está acamada em estágio avançado de Mal de Alzheimer. Neste mês, Eliana receberá a primeira parcela da aposentadoria de um salário mínimo mas, de acordo com Tatiana, o valor ainda é baixo para arcar com todos os custos que a condição da mãe dela demanda.
— A gente conseguiu algumas doações mas agora estamos começando a pagar e fica bem pesado porque tem o rancho, tem os medicamentos que a rede pública não fornece, além de materiais e outros gastos médicos que a gente já tem fixo todo mês, em torno de R$ 400 — relata Tatiana, que cuida da mãe em casa, no bairro Reolon, contando com auxílio de outras três irmãs.
Segundo ela, a mãe utiliza cerca de 150 fraldas por mês e um pacote com 24 unidades custa quase R$ 60. Em um mês, o custo sem o fornecimento pela farmácia municipal passa dos R$ 350.
— A gente vai dando jeito, porque precisa, mas sempre foi tudo na ponta da caneta e agora fica mais difícil ainda — relata a filha, que mantém a mãe na sala porque, desde que ela ficou acamada, a família ainda não teve condições de arcar com a estruturação de um quarto equipado conforme as necessidades de Eliana.
Em uma clínica geriátrica do bairro São Caetano, Ari Pereira do Santos, 74, também passou a depender de fraldas por consequência do Mal de Alzheimer. De acordo com a filha dele, Tailene Zanatta dos Santos, 37, o idoso não chega a ser acamado, mas depende de fraldas há três anos.
— No primeiro ano encaminhei o pedido e logo entrou em falta. Fiquei oito meses sem receber até que desisti de ir lá. Um tempo depois amigos me incentivaram a recorrer novamente ao serviço e consegui ao longo de todo ano passado. Mas neste ano começou a faltar de novo — lamenta Tailene.
Ela conta que diante da falta das fraldas de tamanho grande, em fevereiro, buscou encaminhamento para o uso de fraldas médias, mas o item também acabou entrando em falta na farmácia do CES em abril.
— Ele usa cerca de 280 fraldas por mês. Eu retirava 130 e comprava as restantes, mas agora estou precisando comprar tudo. São R$ 450 por mês e a gente compra, nem que seja parcelado, porque não tem como ficar sem — relata a cozinheira, que mora no bairro Esplanada e também, com a ajuda de três irmãos, arca paralelamente com as despesas da clínica e outros custos referentes aos cuidados com seu pai.
Fornecimento sem previsão
Ainda no início de abril o Conselho Municipal de Saúde emitiu um ofício sobre a falta de fraldas descartáveis com cópias para a prefeitura e a Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara de Vereadores, presidida pelo vereador Rafael Bueno (PDT). Na sessão do dia 27 de abril, Bueno afirmou que no dia 9 de março de 2021 ocorreu a abertura da licitação que havia sido solicitada em junho de 2020, mas ainda não havia definição de vencedor, algo previsto para ocorrer até o final do mês passado.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Caxias do Sul declarou, na manhã desta quinta-feira (6), que o processo licitatório está vigente, mas amostras enviadas pelas empresas vencedoras foram reprovadas em testes que são exigidos nesse tipo de aquisição. "Novas amostras seguiram para análise e não há data prevista para normalização do abastecimento", afirmou.
Medicamentos em falta
Atualmente, além da falta de fraldas descartáveis, a farmácia do CES também está sem 21 medicamentos em estoque. Um ofício emitido pelo Conselho Municipal de Saúde no dia 16 de abril também chamou a atenção para a situação junto à prefeitura e à Câmara de Vereadores e o Ministério Público (MP).
Ainda no mês de março, um inquérito chegou a ser aberto pelo MP mas foi arquivado sob entendimento de que a prefeitura estava tomando as medidas cabíveis para a reposição dos medicamentos faltantes.
— A gente vai continuar denunciando a falta até que, algum dia, um órgão cobre isso porque não pode ser normal ficar sempre faltando — afirma Alexandre de Almeida Silva, presidente do Conselho Municipal de Saúde.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informa que atrasos de entrega e falta de estoque por parte de fornecedores, falta de interesse em licitações e demora na entrega de documentação por parte de empresas, bem como a indisponibilidade de alguns itens no mercado, prejudicam o fornecimento de medicamentos adquiridos pelo município pela rede básica. Além disso, a prefeitura diz que também há atraso na entrega de remédios que são fornecidos pelo Estado e União.
Caxias do Sul também ainda enfrenta falta de reposição de materiais nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), como sondas uretais, gases, algodão e máscaras PFF2. A SMS diz que a licitação para os materiais foi fracassada e que o município está em processo de compra direta.