A redução do volume de resíduos recicláveis e do recolhimento de rejeitos das triagens de recicladoras preocupam associações do segmento de Caxias do Sul nos últimos meses. Ambos os serviços são prestados pela Codeca a 12 empresas da cidade.
Segundo relatos concedidos ao Pioneiro, os problemas operacionais estariam causando grande impacto no faturamento de recicladores, chegando a afetar mais de 50% dos ganhos de parte das associações. Outro agravante é o aumento de catadores de rua surgidos nos últimos meses, em razão do desemprego gerado pela pandemia. A situação faz com que diminua ainda mais o percentual de material reciclável aproveitável coletados dos contêineres e lixeiras da cidade.
— Há uns dois meses, a Codeca enfrenta problema interno, com dificuldades de caminhões e essa situação acabou afetando a gente. Tivemos dificuldade de eles retirarem as caixas de rejeito e principalmente pela pouca quantidade de material que vem. Em razão da pandemia, muita gente acabou ficando sem emprego e teve que se submeter a catar na rua. A gente não culpa eles e também sabemos que a Codeca enfrenta problema grave lá dentro. Agora sofremos consequências junto com eles — informa Suelen de Freitas, da Associação de Recicladores Arca, do bairro Esplanada.
O processo funciona assim: a Codeca realiza a coleta de resíduos seletivos pela cidade e repassa para as associações, que são responsáveis pela triagem desse material. No processo, são separados os rejeitos (restos orgânicos misturados ao seletivo) do material reciclável. Conforme convênio estabelecido, a Codeca então faz o recolhimento desses rejeitos, que são depositados no Aterro Municipal Rincão das Flores.
— O problema está geral. Afetou mais do que a metade da nossa produção. Tem dias que não se consegue nem trabalhar. Esse problema já vem de muito tempo, mas há uns dois meses piorou bastante. O certo seria (a Codeca fazer a remoção) duas vezes de manhã e duas de tarde. Mas ultimamente tiravam uma de manhã e lá de vez em quando uma de tarde, às vezes nem vinham — comenta Marisa Ferreira, presidente da Associação Vida Nova, localizada no Centenário.
Conforme estimativa da Codeca, diariamente, cerca de 90 toneladas de resíduos seletivos são coletados em Caxias do Sul e repassados às associações.
Recicladores clandestinos e frota reduzida
O diretor operacional da Codeca, Rafael Tregansin, admite que parte dos serviços está comprometida em razão da frota reduzida de caminhões.
— A empresa tem passado por um período, que entendo momentâneo, em que alguns caminhões que fazem este serviço estão na manutenção — revela.
Ele informa ainda que a companhia tem 113 veículos no patrimônio, sendo 32 para a coleta. A idade média da frota de veículos é de 10 anos e há caminhões com mais de 30, o que alega que pode contribuir para a recorrências de problemas mecânicos.
De acordo com algumas associações, em momentos neste ano, apenas um caminhão efetuaria o serviço de recolhimento dos rejeitos para as 12 recicladoras. A situação, no entanto, teria melhorado nas últimas semanas.
Tregansin destaca especialmente que a diminuição de material aproveitável se dá pelo recolhimento de resíduos de clandestinos:
— Verificamos o aumento de veículos particulares, os quais entendemos serem irregulares, que recolhem o material seletivo um pouco antes da passagem dos caminhões da Codeca. Já houve casos em que nossos funcionários já haviam feito os montes para recolhimento e um caminhão desses passou e recolheu o material. Muitas vezes não recolhem todo o material, mas recolhem o de melhor qualidade, deixando o pior para o recolhimento da Codeca e destinação às Associações.
Conforme levantamento da Codeca, em janeiro de 2020 foram coletadas 691 toneladas de seletivo. No mesmo período, em 2021, foram 511 toneladas, um decréscimo de 180 toneladas.
— Esta redução significativa não decorre dos veículos em manutenção e, sim, do aumento de catadores de resíduos recicláveis e a atuação de coletores irregulares. Importante salientar que as viagens não realizadas em um dia são compensadas no dia seguinte ou no decorrer da semana — reforça.
A Codeca recebe R$ 43 milhões por ano para realizar os serviços de coleta e destinação de resíduos.
A queda do faturamento de famílias
De acordo com Suelen de Freitas, da Associação de Recicladores Arca, a soma de todos os elementos externos que afetam a produção dos recicláveis compromete consideravelmente a renda dos associados.
— Hoje 23 famílias dependem da associação. Há alguns anos, conseguia fazer pagamento de R$ 1 mil (mês por associado). Hoje, devido à pandemia, por haver muitos catadores, pela situação da Codeca, consigo fazer no máximo R$ 500, R$ 700 para os meus associados — conta.
Situação semelhante é a vivenciada pela Associação Vida Nova, do bairro Cinquentenário. Segundo a presidente, a partilha anteriormente gerava em torno de R$ 1,2 mil/mês para os associados. A última, revela, rendeu R$ 800.
Menos dramático foi o impacto para a Associação de Recicladores Serrano, que conta com 50 associados. De acordo com o presidente, Daniel Rodrigues do Prado, em torno de 15% da produção foi afetada, no entanto, em razão das vantagens que a empresa dispõe, estruturalmente, foi possível realizar reorganização interna para amenizar os prejuízos.
— A gente passou duas semanas prejudicados nessa parte. Deu uma melhorada agora, mas porque sempre batemos na tecla com os responsáveis do operacional.
Ele ressalta, no entanto, que mesmo com todos os esforços internos, muitas vezes, as limitações da Codeca são incontornáveis:
—A questão da falta da coleta de rejeito é que eles não têm as próprias caixas, os contêineres e quando não quebra caminhão. No nosso caso, tínhamos três contêineres, que vinham, faziam rodízio e removiam. Ficamos com um a menos porque um dia foram coletar e caiu o fundo de um contêiner. Até tentamos ver com eles se eles mandassem aquele contêiner sem o fundo para nós mesmos consertarmos. Mas disseram que a Codeca não podia. Aí estamos com menos uma caixa — ressalta Daniel.
Falta de consciência prejudica
Outra situação relatada pelas associações é o pouco aproveitamento de materiais seletivos contaminados pela destinação incorreta dos resíduos por parte da população. As coletas da noite, relativos a contêineres, localizados principalmente na área central, são conhecidos por acumular os resíduos menos aproveitáveis. Todos os recicladores contactados pela reportagem informaram que apenas 30% do material coletado nos contêineres do lixo seletivo são aproveitados. Os cerca de 70% restantes são encaminhados ao aterro sanitário por serem resíduos orgânicos ou contaminados pelo descarte incorreto.
Dica Simples
:: Caso o material seletivo esteja sujo com resíduos orgânicos, a orientação é que ele seja limpo antes de despejado na lixeira/contêiner ou, no caso de a pessoa não querer limpá-lo, o melhor é então descartá-lo no lixo orgânico.
As associações
Total: 12
Quais são: Arca (bairro Esplanada), Novo Amanhã (bairro Cidade Nova Industrial), Vida Nova (Centenário II), Serrano (bairro Serrano), Interbairros (bairro Vila Maestra), União dos Catadores do Reolon (bairro Reolon), Monte Carmelo (bairro Jardim Teresópolis), Girassol (Loteamento Jardim dos Alpes Verdes), Associação Centenário (Centenário I), Associação Santa Rita (bairro São Victor Cohab), Grupo de Catadores do 1º de Maio (bairro 1º de Maio) e Associação Belo Horizonte (bairro São Ciro II -Rota do Sol).
Abrangidos: 360 associados beneficiam indiretamente 1,2 mil pessoas e a distribuição da renda varia conforme volume de negócios realizados mensalmente.
O Problema
:: Coleta clandestina de seletivo e veículos danificados comprometem coleta e destinação de materiais para associações de reciclagem de Caxias.
:: Para efeito comparativo, em janeiro de 2020, a Codeca realizou a coleta e destinação de 691 toneladas de seletivo às associações. No mesmo período, em 2021, foram 511 toneladas, um decréscimo de 180 toneladas
:: Diariamente, cerca de 90 toneladas de resíduos seletivos são coletados em Caxias do Sul.
:: De lixo orgânico, são coletadas 360 toneladas diárias.
FONTE: Codeca