O acidente com um paramotor que ocorreu na tarde de sexta-feira (9) em Caxias do Sul e acabou resultando na morte do instrutor Valdair Ihacos, 36, deixou amigos e familiares da vítima perplexos. Isso porque, além de perderem uma pessoa querida, todos sabiam da responsabilidade que Vavá — como era conhecido — tinha em relação às práticas, tanto de voo livre quanto de paramotor.
Ele era proprietário da Fly Sports Escola de Voo Livre e Paramotor e, de acordo com familiares, tinha experiência de cerca de 12 anos na atividade, com todas as habilitações necessárias e certificados de cursos realizados até mesmo fora do Estado.
Na tarde do acidente, ele planejava voar com o filho, Leonardo Arancibia Ihacos, 7 anos, sobre o município de Flores da Cunha, conforme relata um aluno que os acompanhava no ponto de decolagem, em uma propriedade privada com acesso pela Rota do Sol. Pai e filho sofreram a queda segundos depois da decolagem, na região do bairro Santa Fé. Eles foram hospitalizados, sendo que Vavá acabou morrendo na madrugada de sábado. Leonardo segue internado na UTI pediátrica do Hospital do Círculo, sem risco de morte, e deverá passar por uma cirurgia ortopédica ainda nesta semana.
— Ele costumava voar com o menino e nós fomos ajudar na decolagem. Foi questão de segundos, ele decolou e a vela (parte do equipamento que sustenta o praticante no ar) entrou em giro, fazendo com que eles batessem de volta no barranco. Eu nunca vi acontecer isso. Ele era muito experiente, ensinou muita gente a voar e as condições estavam ideais naquela tarde — afirma Daniel da Silva Grizon, 36, que era aluno de Vavá há cerca de um ano e meio.
Ele relata que vinham praticando voo com bastante frequência. Na sexta-feira estava no local junto de outro aluno e ambos foram os primeiros a prestar socorro assim que o acidente aconteceu, no mesmo morro da rampa.
— Eles estavam conscientes, um perguntava pelo outro e ele dizia que estava sentindo dores. Se eles tivessem caído um pouco mais para o lado teriam sido amortecidos pelas árvores, mas eles caíram justamente em cima de uma boca de lobo de concreto, que ficava em meio à mata — relata Grizon.
"Eu me espelhava muito nele", diz irmão que também foi aluno
Natural de Frederico Westphalen, Vavá nasceu em uma família de dez irmãos e mudou-se para Canela ainda quando tinha 14 anos. Formou-se técnico em Enfermagem e chegou a trabalhar na profissão nos hospitais de Canela e Gramado. A morte do pai, ocorrida há 12 anos no mesmo dia do acidente (9/4), em decorrência de um câncer, fez com que o filho retornasse à cidade natal. Em poucos meses, ele foi chamado para trabalhar no Hospital Pompeia, mudando-se para Caxias do Sul, cidade onde começou a praticar o esporte.
— Ele começou por hobby, mas depois acabou buscando especialização e deixou o emprego como enfermeiro. Ele não era iniciante, tinha 12 anos de prática e exigia bastante dos alunos também. Em 2018, ele foi meu instrutor, e pude realizar o sonho de praticar um voo solo, porque eu me espelhava muito nele. Fomos no Ninho das Águias e no Morro do Diabo, e ele me passava total segurança. Até agora não entendi muito bem o que aconteceu, mas sabemos que foi um acidente, até porque ele checava todo equipamento antes de voar — relata o irmão de Vavá, Mauro Ihacos, 27, que mora em Frederico Westphalen.
Além da mãe e dos nove irmãos, Vavá deixa a esposa Diana, com quem estava há cerca de oito anos, e os filho Leonardo, de sete anos, e Matheus, de um ano.
"Ele morreu para salvar o filho", afirma presidente de clube
O instrutor caxiense era associado ao Clube Vila Oliva de Paramotor, que hoje registra cerca de 20 praticantes do esporte na cidade. Com 22 anos de experiência em voo de paramotor, o presidente da entidade, Evandro José Danelus, afirma que o acidente ocorrido com Vavá foi uma fatalidade e que ele morreu para salvar a vida do filho.
— O acidente foi uma fatalidade. Aconteceu com nosso melhor piloto. Temos certeza que ele morreu para salvar a vida dele (filho), pois o passageiro sempre vai na frente do piloto e portanto seria o primeiro a receber o impacto. Achamos que ele abraçou e envolveu o Léo em seus braços, por isso o salvou. Era um grande instrutor e exímio voador, inclusive recordista em competições de distância e triangulação. Um amigo que deixará muita saudade, pessoa correta e companheira — relata o presidente.
Segundo ele, Vavá costumava frequentar a rampa do clube em Vila Oliva, interior de Caxias do Sul, para instruir seus alunos. Ele diz conhecer o local do acidente, que fica mais próximo à área urbana, e garante que o mesmo também era indicado para voo, cumprindo as normas técnicas exigidas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) da Aeronáutica Brasileira, documento conseguido, inclusive, pelo instrutor associado.
Danelus explica que o paramotor é uma modalidade de voo segura, mas que requer instrução correta, conhecimento de meteorologia, relevo e direção dos ventos, algo que Vavá ensinava para seus alunos.
— Os riscos sempre existem em qualquer esporte. As causas do acidente são apenas suposições. Apenas ele poderia nos dizer se houve alguma falha no equipamento. As condições climáticas eram excelentes naquele horário. Uma fatalidade, com certeza — completa o presidente.
Ele afirma que este foi o primeiro acidente com associado e não soube informar se ele será investigado por algum órgão correspondente. A morte de Vavá foi registrada pelo hospital junto à 1ª Delegacia de Polícia (DP), mas será investigada pela 2ª DP, que cobre a região onde ocorreu a queda.