Do mês de março até o início de abril, 285 pessoas foram internadas nos hospitais de Caxias do Sul após testarem positivo para o coronavírus. São histórias que mostram o quanto esse vírus está se tornando mais agressivo e que independe da idade dos pacientes. Júlia Carbonera, 27 anos, é uma dessas tantas pessoas que acabaram sendo internadas e evoluíram para quadros graves, mas que conseguiram se recuperar.
Júlia começou a sentir os primeiros sintomas no dia 16 de fevereiro e teve uma reação quase instintiva: “não pode ser, eu já devo ter pego em outro momento”. No entanto, os dias subsequentes foram de agravamento dos sintomas. Até que, no dia 19, fez o exame, que indicou que ela era reagente. Os sintomas pioraram e um primo, médico, indicou para realizar uma tomografia dos pulmões. Resultado: 50% deles estavam tomados pelo vírus. No dia 27 ela foi ao Hospital Geral para tirar dúvidas sobre a necessidade de internação, mas a resposta veio antes de ingressar na instituição de saúde.
— Estava em casa e decidi ir lá para tirar a dúvida. Só que eu não consegui chegar até o Hospital Geral. Eu fiquei sem ar e precisei ser levada de cadeira de rodas. Ali eu fiquei internada por 34 dias — relata.
A partir de então começaram dias que seriam ainda mais intensos nessa recuperação. Dia 1º de março ela precisou ser entubada devido ao agravamento da infecção. Foram 22 dias sedada e tendo que passar por uma traqueostomia para acordar do procedimento. No dia 2 de abril, Sexta-feira Santa, Júlia ganhou alta do hospital. E começou ali a segunda saga. O período internada e a infecção geraram uma embolia pulmonar, perda de massa muscular e de movimentos mais simples.
— O que ninguém fala é que a recuperação de quadros graves para a covid-19 é muito dolorosa. Faço fisioterapia dia sim, dia não para recuperar alguns movimentos, partes do meu corpo que estão amortecidas e o sistema nervoso. A covid cria uma neuropatia, como se desse uma pane em todos os sistemas. Até recuperar leva muito tempo. Essa é a parte que ninguém te conta — diz Júlia.
Esse período longe da família e do filho Joaquim, cinco anos, ajudam a mensurar o quanto vale se recuperar de uma doença tão grave. A vida vale mais que tudo nesse momento.
— A gente aprende a dar valor para coisas que gente não dava. Grande parte do tempo que eu estava na UTI, estava com sonda porque não podia me alimentar por causa da traqueostomia. Então, eu ficava imaginando como era tomar um copo de água, sentir o vento no rosto. Tu acabas ficando deitada numa cama, na mesma posição e durante dias — conta ela, que encerra:
— Foi bem traumatizante, sendo bem sincera. Espero não passar por isso tão cedo.