O perfil das internações relativas ao coronavírus está se alterando em 2021 e isso tem refletido diretamente nas mortes. Pessoas com menos de 60 anos, que por teoria estariam fora do grupo de risco principal, estão evoluindo formas graves da infecção e, com isso, alternando em partes aquilo que foi observado em todo o ano de 2020.
Nesse quadro há de se pontuar algumas situações. A variante brasileira do Sars-Cov-2 se mostra mais agressiva e com uma capacidade maior de disseminação. Ela está presente na Serra e os efeitos são visíveis. A começar pelo número de mortes, que aumentou 60% nos primeiros meses de 2021. A parcela da população abaixo dos 60 anos nesse total de óbitos também cresceu. Se no ano passado, essa faixa etária correspondia a 15%, agora são 19%.
Quando são analisadas fatias da população, quase todas dobraram – exceto as entre 30 e 39 anos. Esse quadro é reflexo do que é sentido nos hospitais. A infectologista Lessandra Michelin, responsável pelo serviço de controle de infecção hospitalar do complexo da Unimed e diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia, ressalta que a idade dos pacientes internados por coronavírus reduziu.
— Notamos que os idosos, que já foram vacinados e eram o maior contingente no início da pandemia, agora raramente internam. A maior parte são jovens, com algumas comorbidades, mas muitas vezes sem doenças prévias — relata ela.
A junção entre a redução dos cuidados com uma cepa com maior poder de disseminação colabora para o novo quadro. A P.1 atinge famílias inteiras, o que acaba deixando até pessoas sem doenças prévias por mais tempo em tratamento intensivo – entre 30 e 40 dias. Isso acaba provocando um alerta até para outras bactérias, que podem trazer novas consequências devido à redução da imunidade causada pelo tratamento em UTI.
— A gente vê a cepa se disseminando mais e, além disso, ela é mais trombogênica, causa mais problemas de coagulação. Isso é um fator diferente, fazendo pessoas sem comorbidades adoecerem mais gravemente — explica Lessandra.
Comorbidades aumentam a vulnerabilidade
Com a vacinação de pessoas acima dos 60 anos, as comorbidades viraram fator de risco aos mais novos. Cardiopatias e diabetes estão entre as de maior perigo, mas a obesidade é um problema recorrente.
— Chama a atenção o número de jovens com obesidade. Do ponto de vista de cuidar dos pacientes é que a obesidade gera um dificultador na quantidade de medicamentos. Grande parte da nossa vulnerabilidade quanto ao estoque de medicamentos foi atribuída ao número de pacientes com obesidade — alerta a médica Roberta Pozza, diretora da divisão hospitalar do Tacchini Sistema de Saúde, de Bento.
No entanto, ela também destaca que há outro ponto que exige maior atenção:
— A gente comenta a respeito que o adoecimento não se dá só na fase inicial. A grande parte, depois de 21 dias da fase aguda, possui um componente inflamatório e predispõe ao risco de tromboses. Estamos ainda em busca desses dados.