A pergunta pode ser comum: até quando vamos enfrentar esse momento crítico da pandemia de coronavírus na região? Após três semanas em bandeira preta, trata-se de uma indagação difícil de responder, porque o momento é realmente excepcional. Com o sistema hospitalar esgotado fica impossível afirmar que atingimos o platô e que já há uma desaceleração das hospitalizações por covid-19. Há que se considerar que o número de casos aumenta dia após dia e todas as demais taxas estão altas. Prever quanto tempo se levará até a redução dos óbitos e um retorno de bandeira vermelha, por exemplo, ainda é inconclusivo.
A pandemia de coronavírus segue uma lógica matemática. Primeiro, aumentam os casos positivos, depois o número de pacientes ativos com a infecção e, por fim, isso atinge o sistema de saúde, com internações em leitos clínicos e de UTI. Só depois a curva de óbitos entra em ascendência. Feito esse ciclo, atingimos o platô da curva, quando todas as estatísticas se estabilizam – podendo ser em números altíssimos, como os de agora – para, então, começarem as reduções, seguindo a mesma tendência já citada: número de casos, os ativos, as hospitalizações e as mortes.
Agora é preciso compreender que não podemos afirmar que atingimos esse platô ou uma desaceleração. As internações estão estáveis, mas por falta de novas vagas. O que se pode analisar é o número de casos ativos, que só aumenta desde 7 de fevereiro em Caxias do Sul. Desde o último dia 26, quando atingimos a marca de 2.626 pacientes em tratamento, o município vem criando novos recordes dessa estatística quase que diariamente. Nesta segunda-feira (15), por exemplo, eram 4.570 pessoas em tratamento do coronavírus. Esse fato preocupa as autoridades, afinal ele indica que ainda estamos com todas as curvas em ascensão.
— Extraoficialmente, sabemos que a nova cepa do vírus circula em Caxias. Ela tem um potencial de infecção até dez vezes maior, por isso, tanta gente que não pegou está pegando, gente que já teve covid está se contaminando de novo. Além disso, anteriormente, casos graves chegavam à entubação entre sete e dez dias após a contaminação. Hoje, estamos entubando pacientes já no quarto dia — afirma a secretária municipal da Saúde, Daniele Meneguzzi.
Os dados de hospitalizações estão estáveis, variando próximo de 1.010 internados – em leitos clínicos e de UTI. Outros dois dados interessantes estão nas vagas de alta-complexidade. Em Caxias, a ocupação aumenta conforme as instituições conseguem disponibilizar novos espaços, não há estabilização ou redução. Se abrirem novos leitos, a fila de pacientes esperando está em 49 pessoas, sendo 24 caxienses, serão ocupados.
Outro ponto está em Gramado, onde o Hospital São Miguel Arcanjo possui 18 leitos para tratamento intensivo e, desde 23 de fevereiro, somente um dia a instituição não trabalhou com 18 pacientes positivos para a covid-19 nessa ala – em 2 de março, quando eram 17 pacientes. Nos demais dias, esse número superou a disponibilidade de vagas formais – porque o hospital conseguiu improvisar leitos em outros espaços. Isso sem contar as outras enfermidades, que não pararam de ocorrer por causa da pandemia.
Com tanto dado negativo, os óbitos também tendem a manter uma média altíssima nos próximos 10 dias, se não aumentar ainda mais. Qualquer previsão acima disso é uma chance enorme para errar. Um quadro que exige avaliação diária e só irá parar de verdade quando todos se entenderem vulneráveis.
— É inacreditável que, diante desse cenário, as pessoas ainda não respeitem, não tenham empatia. Precisamos que as pessoas mudem seu comportamento — desabafou Danielle.