Desde o início da pandemia, que já completa um ano, março de 2021 tem se mostrado o mês com maior número de óbitos na Serra. Em todo este período, profissionais da saúde se sacrificaram incansavelmente para combater o vírus que tem marcado nossas vidas. Nesta quinta-feira (12), em entrevista ao Gaúcha Hoje, da Gaúcha Serra, a enfermeira Silvana Boff, que atua no Hospital Pompéia, em Caxias do Sul, contou sobre como tem enfrentado a pandemia estando na linha de frente e como é sua rotina.
— Sou funcionária do Hospital Pompéia, dos setores de emergência e pronto atendimento há 17 anos. Eu trabalho à noite. O ano passado, quando estourou essa pandemia, eu estava tentando sair de férias, não consegui. Em seguida, a minha mãe, que é idosa, já se afastou de casa em função do perigo que eu causaria a ela. Desde então, a minha rotina tem sido de cuidados redobrados para não me contaminar e poder assistir aos meus pacientes. Eu faço a recepção do suspeito e dos pacientes positivo para covid.
A técnica em enfermagem analisa e demostra sua preocupação com o momento atual.
— Tá cada vez pior. Eu diria que agora, nesses últimos 20 dias, a nossa rotina tem ficado extremamente exaustiva a tem muitos funcionários que se contaminaram, apesar das duas doses da vacina. Eu tenho colegas afastados, colegas em regime de UTI, entubados. Os profissionais estão cansados e não estamos em número suficiente para atender toda essa demanda.
Por mais que doenças, perdas e dificuldades façam parte do ambiente de trabalho dos profissionais da saúde, Silvana relata as dificuldades e diferenças desta realidade durante a pandemia.
— Nossa, completamente diferente. Uma coisa é tu morrer com os teus familiares por perto, uma coisa que morreu conseguindo se despedir, uma coisa é tu morrer acompanhado e outra coisa morrer completamente sozinho, né, com assistência da enfermagem.
Ela também salientou como é emocionalmente triste a situação enfrentada pelos pacientes em isolamento.
— Essa doença trouxe muitas tristezas além da perda, são perdas progressivas, entendeu? Tu perde o contato com teus familiares, depois tu perde o amparo de seus familiares, não podem estar contigo no teu leito, depois tu perdes a vida, é muito complicado. O que mais impacta é justamente esse sentimento, de ver nos olhos desses pacientes que tu tá levando para andar ou levando para uma UTI o desespero de estar sozinho.
Os profissionais da linha de frente muitas vezes se tornam, por um momento, a família, a ponte, quem está mais próximo destes pacientes que, além da doença, enfrentam a solidão.
— Eu tento me colocar no lugar, de como eu gostaria de ser trocada naquele momento enquanto familiar e como eu gostaria que tratassem a minha mãe enquanto paciente, tento fazer exatamente isso.
Com a exaustão de um ano de desgaste físico, Silvana fala como mantém a esperança e a saúde mental:
— Estou a um ano sem ver meus irmãos, praticamente a gente só se vê pelos portões, né, um ano sem comemorar aniversário, um ano sem abraçar minha mãe, tem muitas coisas, né? Mas eu tenho uma outra Silvana, que é protetora de animais, eu tenho trabalho voluntário, os animais fazem isso muito bem, são terapeutas natos. Envolvimento com os animais me ajuda muito, me ajuda a esquecer, sabe, quando sai do hospital, assim esquece um pouco.
Após um ano, sem se contaminar, tomando cuidados redobrados, Silvana fala sobre a vacinação e sua expectativa para o futuro.
— Já tomamos a segunda dose, estamos imunizados, apesar disso, tem muitos colegas que se contaminaram. A expectativa é que esse programa siga, vacinação mais rápido possível, né? Que vacine a maior quantidade de pessoas possível para que se tenha mais tranquilidade.