Entre as dezenas de pessoas que caminhavam pelas ruas centrais de Caxias do Sul na manhã deste sábado (27), estava Gomercindo Ribeiro, 60 anos. Desavisado, ele ficou surpreendido ao constatar as lojas de portas fechadas:
— Vim pegar meus óculos (na ótica) e consegui! Pensei que viria e aproveitaria para fazer umas compras, mas vi tudo fechado. Eu não sabia porque achei que valia a partir de segunda-feira — contou.
Este é o primeiro fim de semana em que as regras impostas pela classificação em bandeira preta no risco de contaminação por coronavírus está em vigor. A esposa de Ribeiro, Eneci, 57, também não sabia que o comércio estaria praticamente todo fechado:
—Está tudo bem parado por aqui. Ainda bem que conseguimos pegar os óculos dele porque não dá pra ficar sem — disse.
As óticas são consideradas serviço essencial e, por isso, estão liberadas para funcionamento, mas desde que dentro dos protocolos sanitários. Já comércio de vestuário, acessórios e bijuterias, por exemplo, não. A reportagem observou algumas lojas de roupas, localizadas na Avenida Júlio de Castilhos, com as portas entreabertas, mas não constatou a presença de clientes. Em um estabelecimento de eletroeletrônicos, também na avenida, um funcionário permanecia na entrada principal para organizar o fluxo. O permitido era um cliente por vez. Mesmo chamando a atenção, esse funcionamento é permitido porque, segundo a fiscalização municipal, muitas destas lojas são caracterizadas como de materiais para construção, que têm permissão para abrir, mesmo em bandeira preta.
Andando pela Rua Visconde de Pelotas por volta das 11h, a moradora do Centro Iara Goulart, 72, contou que saiu de casa para comprar um frango no supermercado.
— A situação está triste e tem um porquê. Todo mundo fez carnaval, tudo mundo andou pelas parias, todo mundo 'ferveu'. Eu me cuido ao máximo e minha família também. Aqui no Centro notei que reduziu o movimento. Infelizmente eu vejo muitas pessoas chorando em frente aos hospitais do Centro — contou.
Em um café na Rua Visconde de Pelotas, a gerente Suzete Zanardi organizava as funcionárias que se dividiam para levar encomendas escolhidas por telefone. Na porta, algumas pessoas perguntavam sobre o formato de funcionamento. As cadeiras sobre as mesas sinalizavam que não era possível receber clientes para fazer a refeição dentro do local.
— Estamos fazendo as tele-entregas no comércio mais próximo ou residências. A movimentação é baixa e já vem caindo ainda mais desde sexta-feira — disse.
O motorista de aplicativo Oscar vieira, 42, que também atua como representante comercial e é funcionário de uma empresa no turno da noite, constatou a redução da circulação de pessoas na manhã deste sábado.
— Se comparar sábado passado (dia 20) com hoje, houve 70% de redução. A movimentação que tem é só de pessoal que vai ao supermercado — citou ele, que deixava uma passageira no centro.
"O caminho está certo, mas a eficácia só o tempo dirá", diz ex-prefeito
O comerciante e ex-prefeito de Caxias, Flavio Cassina (PTB), estava em frente ao seu estabelecimento comercial, na Rua Visconde de Pelotas, por volta das 11h45min. As portas do local estavam fechadas e todos os funcionários dispensados.
— Aproveitamos o decreto para colocar algumas atividades burocráticas em dia. Hoje recebemos uns 30 telefonemas, o pessoal quer saber se está aberto ou fechado. É interesse de todo mundo que consigamos reverter essa situação —disse.
Questionado sobre a necessidade bandeira preta, o petebista admite que as pessoas não têm colaborado:
— Tem que fazer uma operação de choque mesmo. O caminho está certo, mas a eficácia só o tempo dirá (sobre as medidas de distanciamento que atingem o comércio) — disse.
A noite de sexta-feira (26) foi de ação da Fiscalização da prefeitura com detenções de proprietários de estabelecimentos. Para este fim de semana, a informação do gerente do setor, Rodrigo Lazzarotto, é de que haverá uma megaoperação envolvendo Brigada Militar, Guarda Municipal, Bombeiros e todos os fiscais do município para conter aglomerações. A ideia é que cerca de dez viaturas e 50 pessoas integrem a ação.