O Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) está desenvolvendo um projeto que pretende identificar moléculas ativas capazes de atuarem como antivirais, combatendo os efeitos da covid-19, doença causada pela infecção por coronavírus. O trabalho, que envolve diferentes frentes da Biotecnologia, também pretende desenvolver novos diagnósticos ou aprimorar os procedimentos já utilizados para este fim.
— Buscamos compostos inéditos que ainda não foram relatados no mundo. Acredito que o combate não se dará apenas a partir de um composto, mas sim com a mistura de compostos, assim como ocorre com o HIV, no qual o portador acaba tomando um coquetel de medicamentos — comenta o pesquisador Sidnei Moura e Silva, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
— Ainda estamos em fase inicial, mas acredito que neste ano publicaremos alguns resultados preliminares. Isso porque, mesmo depois de desenvolver a molécula, é necessário um longo período até que se chegue a um composto ativo — complementa o coordenador.
Projeto selecionado pelo Capes
A pesquisa foi uma das 30 selecionadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), no Edital de Combate a Epidemias. Dos R$ 70 milhões destinados pelo Governo Federal, o programa da UCS recebeu aproximadamente R$ 1,8 milhão, sendo R$ 240 mil em recursos somados a quatro cotas de pós-doutorado e 10 bolsas de doutorado.
Segundo o coordenador do programa caxiense, foram mais de 500 candidaturas ao edital. A divulgação dos classificados se deu ainda no mês de julho de 2020 e a pesquisa na UCS foi iniciada em agosto. Conforme edital, ela deverá ser desenvolvida dentro do prazo de três anos, com possibilidade de prorrogação por mais um ano.
O projeto desenvolvido em Caxias do Sul integra o Programa Estratégico Emergencial de Combate a Surtos, Endemias, Epidemias e Pandemias que, dentro das chamadas Ações Estratégicas Emergenciais Induzidas em Áreas Específicas, lançou três editais por meio dos quais foram selecionados, além do projeto da UCS, pesquisas de universidades brasileiras e até estrangeiras. Entre as contempladas também estão a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Reconhecimento à região
O Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia foi o primeiro stricto sensu (com mestrado e doutorado) da UCS, criado em 1993. Para o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Juliano Gimenez, o projeto caxiense é de extrema relevância e, além disso, demonstra o reconhecimento do MEC às pesquisas desenvolvidas pela universidade em diversas áreas.
— Com a nossa capacidade de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico instalados temos o importante diferencial de podermos responder de forma ágil à sociedade. Além de apontar soluções para problemas prementes e preocupantes, estes programas também estão capacitando pessoas de diversas formações, desde estudantes de graduação até pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado), algo que coloca a nossa região como destaque nesse quesito e que reverte-se diretamente em benefícios para a sociedade — avalia Gimenez.
O pró-reitor destaca, ainda, que a realização de projetos como este contribui para o incremento do volume de recursos financeiros que acaba circulando na economia regional — como resultado das bolsas, dos financiamentos, equipamentos, etc. que acabam sendo destinados para subvencionar as pesquisas.
Conforme o pró-reitor, a UCS está envolvida com pelo menos seis pesquisas relacionadas à covid-19: a da área de Biotecnologia, referente ao diagnóstico e combate da doença; o desenvolvimento de um sistema de inteligência artificial para mapear dados da covid-19; o estudo clínico para tratamento pós-infecção; a participação no desenvolvimento do respirador THOR, da empresa Zextec, subsidiada com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); parceria com a Unicamp no desenvolvimento de materiais para produção de EPIs, filtros e superfícies com ação antimicrobiana (com ênfase no SARS-CoV-2); além da participação efetiva na pesquisa Epicovid, coordenada pela UFPel, que avalia incidência, avanços e recuos da doença no Estado.