O início de ano teve o verão se manifestado com dias mais quentes e abafados. Mesmo diante da pandemia, os caxienses têm encontrado formas de aproveitar a família e se refrescar para amenizar o calorão. Como os demais locais e estabelecimentos da cidade, os parques aquáticos e clubes também precisaram aderir aos novos protocolos sanitários de enfrentamento da covid-19. A reportagem percorreu alguns desses lugares para ver como está sendo a rotina e a movimentação de pessoas.
Um dos mais tradicionais parques aquáticos da região, o Thermas Clube Parque das Águas, que fica entre Caxias do Sul e Farroupilha, foi fechado em março e só pôde ser reaberto em dezembro do ano passado. Segundo o assessor executivo do local, Vitor Costa, os funcionários foram afastados e apenas uma equipe reduzida de manutenção ficou em atuação durante o período.
A organização do parque teve que se adaptar aos novos procedimentos. Além da medição de temperatura corporal na entrada, distribuição de álcool gel pela sede e o uso de máscaras obrigatório nas áreas de circulação, o espaço está atendendo somente com 25% da sua capacidade.
— Estamos seguindo os protocolos do governo estadual e municipal. As máscaras são liberadas apenas nas piscinas e nos brinquedos. Mesmo com todos os cuidados, o nosso sentimento é de que a população ainda está receosa. As pessoas ainda estão com medo de sair de casa — salienta Costa.
Mesmo com o movimento ainda considerado baixo, Vitor explica que foi percebido um aumento durante as últimas semanas, principalmente aos sábados e domingos. O parque permite o acesso tanto de sócios quanto de visitantes.
— Nos anos anteriores, tínhamos movimento todos os dias. Nos dias de semana, eram mais escolas que nos visitavam. Reabrimos em dezembro sem público nenhum e, nas últimas semanas, as pessoas voltaram a procurar o parque. No final de semana, muitas famílias vieram. Muitos com quem falei demonstraram não aguentar mais ficar presos em casa — descreve.
Recreio Cruzeiro
A sede campestre do Recreio Cruzeiro, que fica mais afastada do centro da cidade, no bairro Monte Bérico, é outro ponto que também está sendo procurado pelos caxienses. Apesar de estar respeitando os protocolos liberados pela prefeitura, o clube está com maior flexibilização das atividades devido ao Sistema de Cogestão aprovado. Assim, estão liberados os jogos de duplas nas quadras de esportes, bem como os espaços comuns e churrasqueiras.
O espaço foi fechado de março a abril de 2020 e, após o período, iniciou restrições de atividades. O uso das piscinas e vestiários foi liberado apenas no dia 30 de dezembro e eles permanecem abertos com os procedimentos de higienização, distanciamento e uso de máscaras nas áreas de uso comum. No acesso à sede, local que se realiza a biometria para liberar a entrada do sócio, é aferida a temperatura dos ocupantes dos veículos e aplicado álcool gel.
Como o Thermas Clube Parque das Águas, o maior fluxo de pessoas no Recreio Cruzeiro está sendo nos finais de semana. Segundo a direção do clube, apesar da redução de movimento comparada ao mesmo período do ano passado, o ambiente está sendo frequentado pelos sócios que praticam esportes, como o tênis, e pelas famílias que aproveitam as piscinas e a área verde.
A direção do espaço explica que a procura por parte de novos sócios aumenta durante a temporada de verão, de novembro a março, mesmo com a pandemia. O motivo é pelo local possuir uma área ampla, aberta e com contato direto com a natureza.
A dona de casa Sirlei Casagrande, 58 anos, é uma das associadas que estava se refrescando com a família no Recreio Cruzeiro, na última semana. Ela, os filhos Giovani Scalabrin, 29, e Daniele Scalabrin, 34, e o neto Vinicius, de um ano e dois meses, aproveitaram o calor para sair de casa.
— Aqui a gente aproveita a natureza, não tem tanta gente e se sente mais tranquilo e seguro. Com essa pandemia é difícil. Estamos evitando a praia e os parques que estão lotados. Viemos também nos finais de semana. Mesmo tendo mais gente, todo mundo mantém o distanciamento — comenta Sirlei.
Quem também estava aproveitando a piscina era o morador do bairro Santa Catarina, Claudiomiro Brustolin, 53. O técnico em eletrônica foi com a esposa Alexandra, 48, e o filho Murilo, 8, amenizar o dia quente.
— Estamos evitando participar de festas e ir na casa dos amigos, mas aqui já viemos três vezes desde que abriu, porque é uma área grande e aberta e com pouca movimentação. Como moramos em apartamento, dentro de casa é complicado — relata Brustolin, que usava o espaço para esportes e caminhadas até mesmo antes das piscinas serem liberadas, em dezembro.
Clube Calhambeque
Também mais afastada da área central do município, a Sede Campestre do Clube Calhambeque tem recebido bastante procura das pessoas nos dias quentes. Localizado na Linha São Giácomo, o clube voltou a ter maior fluxo de pessoas no mês de janeiro.
De acordo com o vice-presidente do Calhambeque, Oscar Chiarani, a direção optou por abrir o clube nos horários normais, tanto as piscinas quanto as quadras, seguindo os protocolos sanitários. Uma das exigências é de que os frequentadores utilizem máscaras nas áreas de circulação, regra que está sendo seguida, mas segundo ele, ainda há dificuldade de conscientização.
— As cadeiras dentro da piscina estão com distanciamento, as pessoas têm disponível álcool gel para a higienização das cadeiras também. A gente tem controle de pessoas dentro da piscina e solicita que eles mantenham o distanciamento. Fizemos as demarcações e pedimos que eles respeitem isso — discorre Chiarani.
A movimentação e a procura pela população em se tornar sócia do Calhambeque aumentou nos últimos dias. Chiarani explica que a maioria do público que frequenta o local são as famílias dos associados.
— Estamos tendo um movimento positivo e percebendo uma grande procura agora no verão. Para se ter uma ideia, em três dias, recebemos a média de 30 mensagens de pessoas com interesse em se tornar sócias do clube. Isso nos deixa bem felizes — elucida o vice-presidente do clube.
Recreio da Juventude e Clube Juvenil
No Recreio da Juventude, com suas duas sedes - Juventude e Guarany -, o fluxo de sócios, de todas as idades, continua grande tanto nas piscinas, quanto nas academias, quadras de tênis e áreas de lazer. De acordo com o presidente executivo do clube, Paulo Marchioro, para ingressar no local, os associados precisam agendar com antecedência de, pelo menos, 24 horas via aplicativo. O sócio deve se identificar de forma digital e passar pela aferição de temperatura. Também são obrigatórios em todas as dependências do clube o uso de álcool gel e a utilização de máscara.
— A novidade do agendamento passou a ser utilizada com o intuito de conseguir controlar a quantidade de associados que frequentam os espaços. Com a bandeira laranja, dentro das piscinas, por exemplo, o distanciamento exigido é de 10 metros quadrados e nas espreguiçadeiras o clube adotou o distanciamento de 4 metros, maior que o emitido pelo decreto. Também na bandeira laranja foi permitida a abertura dos quiosques, que tiveram grande adesão, mas, com capacidade limitada para, no máximo, seis integrantes do mesmo núcleo de convivência — explica Marchioro, que também afirma que o espaço chegou a ser fechado durante o período de um mês no ano passado.
O Clube Juvenil foi procurado, mas a direção do clube, que não se encontra na cidade, não autorizou entrevistas de funcionários sobre o momento vivenciado na pandemia.
Uma opção mais segura
Desde quando abriu o Hostel Casa do Rogério, em janeiro de 2017, o empreendedor Rogério Cordeiro, 45, procurou maneiras de atrair o público. O espaço, que serviu como sua residência anteriormente, foi o ponto inicial do negócio que já conta com mais duas sedes na cidade. Natural de Dom Pedrito e há 18 anos em Caxias, ele relata que a iniciativa começou depois de uma locação para conhecidos.
— Eu tinha uma casa bem grande e com vários quartos. Optei por alugar um quarto para um amigo, para outro amigo e para outro, e ficou uma vibe bem legal dentro de casa. Sempre chegavam mais pessoas e perguntavam se eu tinha um quarto para alugar. Resolvi, então, investir na minha casa transformando ela em um hostel — conta.
Com um estilo rústico e localizado no bairro São Pelegrino, o hostel oferece acomodação em ambientes compartilhados — o diferencial desse tipo de espaço —, o que faz com que o preço seja mais barato. Com acesso à sala de estar, cozinha, bar com espaço para jogo de sinuca, deck com churrasqueira e piscina, o ambiente possui quartos compartilhados e quartos privados.
Segundo Rogério, o espaço também foi afetado pela pandemia, mas permaneceu fechado por apenas uma semana. Depois, se adequou às novas medidas sanitárias e atende com capacidade reduzida e os cuidados de higienização e distanciamento.
O que tem chamado a atenção do público que circula pelo local, principalmente no verão, é o ambiente externo. O uso da piscina é um direito dos hóspedes do hostel, mas a partir da experiência da locação do espaço para eventos, antes mesmo da pandemia, surgiu a oportunidade de Rogério alugar o deck com piscina para as famílias que querem aproveitar para se refrescar em um lugar mais seguro e tranquilo do que as praias, os clubes e os parques aquáticos.
— Todo mundo está querendo piscina. Estamos tendo a média de 10 a 15 procuras por dia, para passar o dia, das 10h às 18h, horário para respeitar os demais hóspedes. Eles pagam a diária de R$ 35 para a piscina e podem usar também os espaços comuns do hostel — esclarece o proprietário.
— O pessoal que não vai para a praia, procura bastante a piscina — complementa Laura Cordeiro, 20, irmã de Rogério que atua como assistente administrativa e recepcionista do hostel.
Dois dos hóspedes que estavam aproveitando a piscina são os estudantes catarinenses Gabrieli Schlickmann e João Melgarejo, ambos de 21 anos. O casal de Braço do Norte é voluntário do espaço e atua no hostel em troca de hospedagem e alimentação. A oportunidade é possível por meio da plataforma colaborativa Worldpackers, em que diversas pessoas garantem a estadia no local.
Eles chegaram no hostel no dia 11 de janeiro e planejam ficar até o dia 24. Aprovada a primeira experiência, os dois pretendem se voluntariar em outros locais que realizam a troca de serviços por acomodação, até mesmo fora do país.
— A gente está fazendo algo que provavelmente estaríamos fazendo na nossa cidade, trabalhando, e conseguimos conhecer outras pessoas e lugares. Queremos ficar aqui no Rio Grande do Sul por um período indeterminado, até abrir as fronteiras, talvez, e ir para o Uruguai. O próximo que a gente vai é em Santa Vitória do Palmar. Pretendemos sair do Hostel do Rogério e ir pra lá — projeta Gabrieli.