Gramado, mais uma vez, registrou aglomerações em espaços públicos em meio à pandemia de coronavírus. Um flagrante, feito por um morador da cidade na noite de domingo (6), mostra a Rua Coberta lotada. Assim como os demais municípios da Serra, a cidade da região das Hortênsias está em bandeira vermelha, com medidas restritivas mais rigorosas para tentar barrar o avanço do vírus no Rio Grande do Sul.
Os registros do morador, que tem a identidade preservada pela reportagem, mostram centenas de pessoas reunidas no espaço. Eles estão muito próximos uns dos outros e alguns sem máscara para cobrir o rosto. Pelas imagens, é possível perceber que se trata de uma foto recente devido a decoração natalina. Além disso, como as pessoas estão agasalhadas, confirma-se que foi registrada neste final de semana, em que a temperatura foi mais baixa na região.
O morador conta que fez o registro por volta das 19h do domingo (6). Segundo ele, a cidade fica lotada aos finais de semana.
— Não posso te confirmar se depois das 22h havia movimento, mas eu passei por lá às 19h e estava cheio. Havia muitas pessoas na cidade. Nesse horário da foto, estava com uma leve garoa e os locais fechados estavam cheios. Sábados e domingos a cidade está cheia, vem muitas pessoas da região Metropolitana e de Caxias do Sul passar os dias aqui. Chegam grupos de turistas de fora do Estado. O turismo aqui está normal — conta.
Ele ainda ressalta que o maior movimento é no entorno da Rua Coberta, devido ao número de restaurares no local. Ele questiona porque no espaço podem ocorrer as aglomerações.
— Por que na Rua Coberta pode aglomeração e uma praia ao ar livre não? Não adianta cercarem as praças, trancarem as praias e fecharem os bares no Rio Grande do Sul se as pessoas que iriam para esses locais estão vindo pra cá. Isso prejudica as fontes de renda do interior, sendo que essas pessoas retornaram para suas casas na segunda-feira. Aqui vem pessoas de todos os lugares do Brasil, então fica a pergunta: o vírus não circula, e as pessoas que aqui estão são imunes e não levam a doença para suas cidade? — indaga.
O que diz a prefeitura
Não é a primeira vez que a cidade, conhecida como um dos principais destinos turísticos do país, registra movimentação intensa em meio à pandemia. Na abertura do Natal Luz, em 22 de outubro, registros feitos pela reportagem do Pioneiro mostravam espectadores reunidos na Rua Coberta muito próximos e sem a proteção facial. O sistema de monitoramento instalado pela prefeitura identificou 400 pessoas no espaço por volta das 20h, o que excede o limite estabelecido como seguro pela administração municipal.
Ainda em agosto, o acúmulo de público e a interdição de dois restaurantes na Rua Coberta, motivou o Gabinete de Crise a criar novas estratégias contra aglomerações. Uma delas foi a implantação desse sistema que identifica aglomerações e emite alerta às autoridades municipais sanitárias e de segurança. A estrutura inclui rádios conectados à internet com sensores de presença que conseguem identificar quantas pessoas estão em determinado ambiente. Se o número for excedente ao previsto no momento, que é de 320 celulares, o sistema dispara uma mensagem de texto para os gestores do Gabinete de Crise e a fiscalização é acionada. O cálculo é de que a cada quatro pessoas, três tenham celular, então 500 pessoas podem circular pelo espaço, sem ficar paradas por mais de três minutos.
O gestor do Gabinete, Anderson Boeira, confirma que a Rua Coberta estava lotada neste domingo (6), assim como demais pontos da cidade.
— Com relação à Rua Coberta, realmente estava cheia. Mas essas imagens, se a pessoa que te mandou tivesse tirado fotos das calçadas e de outros locais seria da mesma forma. A Rua Torta, a Praça das Etnias, a cidade estava toda assim. Se olhar as imagens, só vemos uma pessoa sem máscara, que está tirando uma foto, então o uso da proteção tem sido respeitado — destaca.
Boeira ressalta que o alarme do sistema de monitoramento não disparou, o que indica que as pessoas não tem ficado mais do que três minutos caminhando no local:
— O alarme não soou porque nosso sistema determina o limite de pessoas que ficam paradas por mais de três minutos. Como essas pessoas estão indo tirar foto e circulando o tempo todo, o alarme não dispara. Isso significa que as pessoas vêm no local, tiram a foto e vão embora. A ideia é essa, que elas passem, tirem a foto e vão embora. Assim é na Rua Torta, nos Pinheiros, no Centro da cidade, na Praça das Etnias.
Uma das medidas tomadas no domingo foi a solicitação para que os artistas de rua não fiquem na Rua Coberta porque os visitantes se aglomeram para tirar fotos.
— Passei no final da tarde, mais ou menos às 19h, pela Rua Coberta e tinha uma artista com saxofone e pedi à Vigilância Sanitária que tirasse esses artistas, como um cartunista que estava no local também, e dispersasse a aglomeração que se formou ao redor deles para fazer fotos e vídeos — ressalta.
Boeira diz que não há muito o que fazer para controlar o movimento:
— Infelizmente, a gente não tem muito o que fazer, a não ser que fosse trancar os acessos da cidade. A gente não pode proibir que as pessoas venham até Gramado. Estamos pedindo que as pessoas circulem e tirando o máximo possível o número de elementos que possam fazer as pessoas ficarem muito tempo paradas. Provavelmente, o movimento deve aumentar nos próximos dias, até mesmo durante a semana.
Hotéis lotados
A maioria dos hotéis de Gramado atingiu o limite de ocupação, que era de 60% para quem tem o Selo do Mtur e 40% para quem não tem, segundo Mauro Salles, presidente do sindicato Patronal da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (SindTur Serra Gaúcha).
— Tivemos um bom movimento, mas os turistas estão reclamando muito do horário dos restaurantes. Dizem que, ao limitar o período, vai todo mundo no mesmo horário e dá aglomerações. Quase todos dizem que seria melhor ter os restaurantes abertos por mais tempo para evitar isso — ressalta Salles.