Não é à toa que o prédio do Núcleo de Capacitação e Cozinha Comunitária do bairro Canyon, em Caxias do Sul, se localiza na Rua da Esperança. Além de servir como ponto para a entrega de cerca de 260 refeições diárias para moradores da comunidade, o local está sendo a sede da preparação de mais de 100 ceias de Natal para famílias necessitadas. A ação é desenvolvida pela organização das Cozinhas Comunitárias, que também atende o bairro Mariani com 250 viandas todos os dias e vai entregar outras 100 ceias natalinas.
Com apoio do Banco de Alimentos, do Instituto Elisabetha Randon e de outros doadores, para a produção das mais de 200 ceias para a noite de Natal, diversos servidores públicos, funcionários terceirizados e voluntários estão engajados na ação.
A ceia, que começou a ser preparada ainda nesta quarta-feira (23), será entregue na tarde desta quinta-feira (24). Cada família receberá um bruster decorado com frutas cristalizadas, um lombinho, arroz colorido com farofa, melancia, um pacote de bolacha, um suco de uva, um refrigerante e um brinquedo para quem tem criança. Além da refeição completa, serão entregues uma cesta contendo arroz, feijão, óleo, macarrão e chocolates para cada grupo familiar.
Conforme explica a coordenadora, Susana Cordova Duarte, 56 anos, as Cozinhas Comunitárias completaram 15 anos em 2020. Prestes a se aposentar, a servidora pública conta que a ideia das ceias para as duas comunidades teve início no ano passado.
— A primeira vez que fizemos foi só com as famílias atendidas no Canyon, em 2005. Depois, ficamos todo esse período sem, porque mesmo que todos os insumos utilizados sejam doações, nem sempre a gente tem a autorização do poder público para utilizá-los. Por isso, retomamos em 2019 e estamos na segunda edição — esclarece Susana, que comenta ainda que foram entregues kits alimentícios em todos os anos que as ceias não foram preparadas.
Para Susana, a intenção de oferecer uma ceia para as famílias é de oportunizar que elas possam se envolver com o espírito natalino, visto que sem isso elas não experimentariam como é a comemoração.
— Elas certamente não teriam essa ceia porque o valor de todas as coisas que são culturais e envolvem ela são caras. As pessoas não almejam aquilo que elas não conhecem. A gente entrega todo o rigor da ceia, tudo feito para que elas possam organizar a mesa e celebrar o aniversariante, que é Jesus. A gente fala muito que essa energia e essa mensagem de Jesus possa ser uma renovação das esperanças, ainda mais neste ano atípico — diz.
Uma das idealizadoras das ceias solidárias, a assistente social da Diretoria de Segurança Alimentar e Nutricional, Tainara Hanke da Rosa, 34, revela que os motivos que não possibilitaram ela comemorar a data com o banquete quando pequena culminaram na atual iniciativa.
— Quando eu era criança, devido a diversos problemas e dificuldades econômicas, a gente não fazia ceia natalina. Quando tive a oportunidade, comecei a fazer e, participando das Cozinhas Comunitárias, me vi muito naquelas crianças. Contei para eles, todo mundo topou a ideia e estamos aqui com um sentimento de realização. Essas pessoas são uma extensão da minha família — confidencia Tainara.
A assistente social afirma que, além dos ingredientes que são necessários para a preparação da refeição especial, a receita só fica completa se tiver algumas pitadas de sentimentos bons.
— A melhor coisa dessa ceia é o carinho. Como gosto de cozinhar, sempre digo que a comida é uma declaração de amor. Quando a gente faz uma coisa para o outro a gente faz com todo amor e carinho. Ainda mais que alguns não têm família ou estão abandonados. Essa é uma forma de aquecer o coração deles — enfatiza Tainara.
Para retribuir toda a ajuda
Uma das voluntárias da preparação da ceia de Natal das Cozinhas Comunitárias deste ano é Rosimeire de Oliveira Gomes, 47. Moradora do Canyon, viúva e mãe de oito filhos, ela relata que o ato de ajudar se resume simplesmente à gratidão.
— Acho um gesto muito bonito de ajudar de coração quem não tem uma ceia para passar o Natal. Eu gosto bastante de trabalhar voluntariamente. Meus filhos vinham comer aqui (na Cozinha Comunitária) e hoje estou dando uma recompensa — declara a mãe, que já foi usuária do projeto e hoje tem os filhos crescidos.
Para obter um resultado ainda melhor nas refeições preparadas, Rosimeire afirma que na receita não podem faltar o amor e a esperança de melhorar cada vez mais.
Para a moradora do Santa Fé e aposentada engajada na produção das comidas, Darcilia Cardoso, 78, mais conhecida como dona Dada, é uma honra poder auxiliar as outras pessoas da comunidade.
— Estou muito feliz, porque ajudando os outros a gente é ajudado também. Esperamos dar alegria para essas pessoas que a gente vai oferecer as ceias. Estamos fazendo com muito carinho — complementa dona Dada.