Verão com chuvas irregulares e abaixo da média. Essa é a perspectiva sinalizada por estudos meteorológicos para o Estado e a Serra gaúcha. O fenômeno La Niña está no pico de influência neste mês e perderá intensidade apenas em meados de fevereiro ou março de 2021, de acordo com a Somar Meteorologia. O acontecimento climático influencia diretamente na formação de chuva, ou falta dela, no Rio Grande do Sul.
Antes mesmo de iniciar o verão, culturas de cebola e pêssego já estão na lista da Emater de Caxias do Sul e região por conta do impacto. As produções somam 20% e 40% de perdas, respectivamente. Além disso, muitas culturas ainda sequer começaram a enfrentar o desafio da falta de água para o crescimento, como é o caso dos parreirais, ainda em situação precoce de avaliação técnica para a próxima safra. Segundo a meteorologista da Somar, Cátia Valente, haverá chuva nesta semana, mas a informação não chega a ser um alento ao produtor.
— Estamos vindo de um inverno de oceano resfriando e, agora, tivemos a consolidação da La Niña. No Rio Grande do Sul, o fenômeno tende a diminuir o volume de chuva. Já tivemos um inverno com chuvas irregulares e déficit hídrico desde a estiagem do verão passado. Não houve reposição da água no inverno. A primavera, que é a estação mais chuvosa no Estado, foi de chuva abaixo da normalidade. A tendência para o verão é a mesma. Teremos chuvas pontuais para esta semana, até com volumes expressivos, mas não será regular — afirma.
A análise de Cátia reflete no dia a dia dos agricultores. Conforme a Emater Regional, as perdas de pêssego e cebola levam em conta não apenas a estiagem, mas também ocorrências de granizo e geadas, o que traça um cenário ainda mais preocupante, segundo aponta Sandra Dalmina, gerente regional do órgão.
— Já entramos neste ano com uma estiagem muito forte e normalmente acontece a recuperação dos mananciais no inverno, o que não ocorreu nos mesmos volumes como de anos anteriores. Hoje temos preocupação com níveis de reservatórios de água. Mesmo com irrigação, a plantação vai sofrer se não tivermos chuva nos próximos períodos — diz.
A área plantada de pêssego na região da Serra contempla 3.064 hectares e mais de 1,7 mil produtores. No cultivo de cebola, a área plantada chega a 1.220 hectares e mais de 800 agricultores. De acordo com a Emater, em outubro do ano passado choveu mais de 300 milímetros enquanto, neste ano, o volume de chuva não chegou a 80 milímetros no mês passado.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Assalariados Rurais de Vacaria e Muitos Capões, na região dos Campos de Cima da Serra, Sérgio Poletto, afirma que os produtores da região somam cerca de 30% de perdas até o momento.
— As culturas do trigo, milho e soja e nas pequenas frutas são as mais afetadas. Esperamos que chova o mais rápido possível para que amenize esta estiagem! — diz
Um dos produtores impactados é Marcelo Santos Souza, 37 anos, morador do 5º Distrito, em Vacaria. Este é o período de safra da amora, mas ele irá colher a metade das cerca de 5 toneladas que pretendia.
— A brotação nova não veio bem na amora. Da uva ainda não sentimos. Eu esperava colher cerca de 5 toneladas (de amora), mas com sorte chegaremos a duas e meia. Mesmo que comece a chover, agora não recupera mais— afirma.