Mesmo com os encontros presenciais suspensos durante a pandemia, a possibilidade de regularização da ocupação das sedes que ficam em prédios públicos, a partir da lei sancionada pela prefeitura de Caxias do Sul, foi motivo de alívio para integrantes dos clubes de mães. Por decisão da gestão de Daniel Guerra, em 2017, nove unidades ligadas à Associação dos Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS) foram notificadas a deixarem seus locais. Ao todo, a associação congrega 87 clubes, envolvendo mais de seis mil mulheres em atividades permanentes de integração e solidariedade.
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— Acho que o governo anterior não tinha ideia da importância que um Clube de Mães tem no bairro onde está inserido. Foi muito terrível, mas elas (integrantes dos grupos que ocupavam os imóveis) bateram o pé, se mobilizaram e até se revezavam para não deixarem os locais vazios, sujeitos a serem tomados — comenta a presidente, Zaira Ramos, lembrando que o movimento contou com apoio de lideranças como vereadores, párocos e também presidentes de bairros.
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Conforme Zaira, nenhum dos clubes notificados deixou sua sede. A exceção é para o de Galópolis, que tem a estrutura comprometida por problemas no telhado e busca apoio do Poder Público para reforma. Até mesmo no Desvio Rizzo, onde um Centro Comunitário chegou a ser demolido, em 2018, o espaço do Clube de Mães, permaneceu intacto.
— Lá o próprio clube de mães e a comunidade construíram a sede, com apoio da prefeitura. A comunidade ainda está se recuperando, estamos recebendo apoio da atual gestão e estamos muito esperançosas de que estes espaços contem também com o olhar da nova administração — completa a presidente.
Logo no início da gestão de Flávio Cassina, que assumiu o Poder Público após o processo de impeachment de Guerra, o diálogo com o Executivo foi retomado e atividades como a feira promovida pelos clubes de mães na prefeitura voltou a ocorrer após ficar três anos suspensa.
Pandemia suspende encontros, mas não atividades
Com retomada em pleno vapor, no ano em que a associação completa 45 anos na cidade, a extensa programação prevista para 2020 acabou sendo suspensa em função da pandemia, sobretudo pela maioria das participantes serem idosas e, consequentemente, integrantes do grupo de risco para a covid-19. Em cada núcleo, porém, as atividades foram adaptadas conforme as possibilidades para que continuassem sendo feitas individualmente, com cada participante em sua própria casa. Em alguns casos, a confecção de máscaras virou fonte de renda para enfrentamento da crise.
— Muitas continuaram fazendo suas doações, com material doado pela Acmcs e repassado pelas presidentes, com entrega na residência de cada associada. Foram feitas máscaras para comunidade carente, enxovais para os hospitais e comercializamos máscaras, também, no Iguatemi (Shopping Villagio Caxias). Muitas mulheres conseguiram pagar suas despesas, botar suas contas em dia, além de fazer doações — afirma a presidente.
Como forma de escoar parte da produção realizada ao longo da pandemia, nove clubes de mães já estão confirmados a participar de uma feira no Largo da Prefeitura. A ação está marcada para o dia 4 dezembro, contando com a venda de artesanato, comidas e produtos do campo.
Um espaço de integração
Assim como tantas outras incertezas que fazem paralelo à espera de uma vacina, a retomada dos encontros presenciais dos clubes de mães não tem data para ocorrer. Em quatro décadas e meia de atuação, outras dúvidas também pairam sobre o futuro dos grupos.
— Estamos vendo as associadas ficando mais velhinhas, temos de até 97 anos, mas percebemos uma adesão menor, até porque as mulheres estão trabalhando até mais tarde também — observa Zaira, que ingressou no clube de mães aos 40 anos, a convite da própria mãe que já participava, encontrando um espaço de convivência, troca e solidariedade.
— É uma roda de amigas, quase que familiar. Normalmente são mulheres que já estão aposentadas, ou que foram do lar e que já criaram seus filhos. A mulher que ingressa nas atividades se torna mais alegre, mais dinâmica e tem menos doenças. Se está em casa, acaba não fazendo muitas coisas, mas no clube troca informações, conhecimentos; fica mais ativa — completa.
Participação que gratifica
Há cerca de uma década, dona Gema Bettoni Matté, 84, mudava-se do bairro Nossa Senhora de Lourdes para o Medianeira. Em meio à nova vizinhança, ela buscou tomar conhecimento das atividades que eram desenvolvidas na comunidade. Foi assim que ela encontrou o Clube de Mães Doces Momentos, onde atua agora como vice-presidente.
O grupo de aproximadamente 30 participantes confecciona roupas para bebês, colchas, além de xales e outras peças de lã para idosos, todas destinadas à doação.
— É muito gratificante participar disso. Quando fazemos uma doação para crianças, por exemplo, que não tinham o que vestir, vemos a alegria da pessoa que recebe e isso não tem preço. Sempre digo que já faz tempo que parei de trabalhar para ganhar dinheiro, agora trabalho para ganhar coisas melhores; fazer o bem é a melhor coisa que tem — afirma a aposentada.
Em tempos de pandemia, o ritmo diminuiu, mas dona Gema continua fazendo crochê, costurando e pintando panos de prato em casa. Da convivência presencial, que ocorria toda segunda-feira com chá e muita conversa em uma sala emprestada pela paróquia do bairro, ela diz sentir falta, mas garante que o convívio é mantido, de forma virtual.
— A gente conversa bastante, toda semana pelo WhatsApp — afirma a idosa que também encontrou na internet uma forma de preservar vínculos com a segurança do distanciamento físico enquanto uma vacina não aparece.
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