O aumento da população do município de Vacaria torna-se realidade nos meses de verão mas, desta vez, a ida de trabalhadores à região dos Campos de Cima da Serra estará acompanhada por uma preocupação: a possível aglomeração de pessoas, que poderá interferir no aumento de casos de coronavírus. Por conta disso, a Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi), participa de reuniões virtuais com o setor de fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho, ligada ao Ministério da Economia. Segundo o presidente da entidade, João Sozo, haverá a contratação temporária de 10 mil a 12 mil funcionários para colher as cerca de 500 mil toneladas estimadas da principal fruta cultivada na região.
Os Campos de Cima da Serra, que tem Vacaria como o principal município, são responsáveis por 85% da produção de maçã do Rio Grande do Sul. Os outros 15% são do interior de Caxias do Sul. Para dar conta da demanda, os produtores contratarão trabalhadores das mais variadas regiões do país. Eles ficam em alojamentos e a maior concentração de funcionários se dará na colheita de maçã gala, em janeiro, segundo aponta Sozo.
— Estamos acertando com a fiscalização para saber como agir por causa da contaminação da pandemia. Já passamos por isso em fevereiro e março (de 2020). Não era como hoje, mas estamos atentos e discutindo. No momento, precisamos colher maçã e salvar empregos. Claro que atentos à saúde, mas todos precisam trabalhar. As duas coisas andam juntas — diz.
De acordo com o presidente, os colaboradores temporários seriam divididos em grupos para, por exemplo, ter acesso ao refeitório. Questionado sobre usar máscara nos pomares, Sozo entende que não haverá necessidade enquanto a pessoa estiver ao ao livre, mas o equipamento será obrigatório em locais comuns a todos.
— Estamos liberados (para contratar), mas estamos discutindo detalhes do que precisamos implementar. Muitos pensam que as cerca de 12 mil pessoas são jogadas dentro da cidade de Vacaria. Não, elas ficam nos pomares e alojamentos. A recomendação será exatamente para que não saiam muito até a cidade. A grande concentração realmente é na colheita da gala, mas depois de 30 ou 40 dias liberamos mais da metade das pessoas — afirma.
Assim como em outros anos, a presença de índios de tribos do Mato Grosso do Sul está garantida. Entre 3 mil a 4 mil índios deverão estar nas macieiras de Vacaria no mês de janeiro. Além deles, nordestinos que concluírem colheitas de laranja em São Paulo também seguirão com destino aos Campos de Cima da Serra para a colheita. Segundo Sozo, mesmo com o risco de contágio por coronavírus, a realidade de pessoas de fora do Estado deverá permanecer já que nativos da Serra gaúcha não procuram a tarefa por já precisarem realizá-la em produções próprias e familiares.
— Quanto aos índios já aprendemos com os erros. Já trouxemos grupos distintos que se olhavam atravessados (risos), mas agora acertamos as pontas e conversamos com os caciques — conta.
Um trabalhador temporário para a colheita de maçã recebe em torno de R$ 1.350 e pode obter prêmios de produtividade.
— Um bom colhedor chega a R$ 2,5 mil, R$ 3 mil em um mês — garante.
Até o momento, as propriedades passam pelo período de raleio, que antecede a colheita da maçã. A prática consiste em retirar frutos em excesso ou defeituosos com o objetivo de melhorar a qualidade da safra.