Após o impacto causado pela pandemia de coronavírus, as agências de viagens de Caxias do Sul estão lidando com uma mudança de comportamento entre os passageiros. Os viajantes que precisaram cancelar os seus passeios nos primeiros meses da crise sanitária estão remarcando as viagens para o ano que vem e estão priorizando como destinos as cidades brasileiras, deixando o Exterior em segundo plano.
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Conforme a consultora de viagens da Sonhe Mais Viagens e Turismo, Sabrina Antunes, por se tratar de um ano atípico, foi notado maior interesse em viagens imediatas, sem muito planejamento.
— A reabertura dos destinos causou um senso de urgência nas pessoas. Elas sentiram que mais importante do que ter bens materiais, é aproveitar experiências em lugares diferentes e com a família. Viagem é uma coisa que as pessoas compram com bastante antecedência, no mínimo três meses antes. Neste ano, no entanto, as pessoas estão comprando para viajar imediatamente. Desde o mês de agosto, o movimento tem sido de comprar para viajar no mesmo mês, ou no próximo, inclusive na mesma semana — conta Sabrina.
Todas as agências entrevistadas pela reportagem afirmam que os destinos mais procurados pelos passageiros é para cidades brasileiras, principalmente as do Nordeste do país. Segundo a sócia-proprietária da Sorella Turismo, Dejiane Ziliotto, esses pacotes já estão com planejamento para ocorrer com segurança no ano que vem.
— Estamos com procura para o Nordeste e as saídas serão a partir de março de 2021. Antes deste período as pessoas, ainda não estão seguras para viajar. Já as pessoas que iam viajar para o exterior, praticamente todos estão sendo remarcados para embarque a partir de abril — pontua.
De acordo com o diretor da FOX Viagens e Turismo, Renato Müller, as viagens que precisaram ser canceladas estão com remarcações aceleradas e a equipe está fazendo com que os passageiros definam seus destinos o quanto antes.
— Estamos pressionando nossos clientes para que definam suas viagens o mais breve possível, uma vez que os créditos estão isentos de penalidades, mas não de diferença de valor e estes valores estão cada dia mais altos. A demanda alta e pequena frequência de voos geram esses preços mais altos — explica Renato.
Renato analisa ainda que a agência está percebendo um novo perfil de viajante.
— As pessoas pesquisam nos vários canais de vendas de produtos de viagens e turismo, mas na hora de fechar, estão procurando por uma agência. Se sentem mais seguras em aproveitar a nossa expertise e, principalmente, em ter com quem falar se houver necessidade — relata.
Sabrina Antunes conta que as pessoas que estão voltando a viajar, além do preço, também levam em consideração a segurança que os destinos estão oferecendo, em relação a covid-19 . Com a maioria dos países fechados e o dólar em alta, o mercado nacional está ganhando espaço.
A consultora de viagens descreve ainda que os viajantes que embarcaram após o inicio da pandemia estão observando novos protocolos para evitar a proliferação do vírus.
— O viajantes estão percebendo mudanças no comportamento e procedimentos dos locais visitados. Há o mínimo contato possível, como por exemplo, o web check-in pelo celular em hotéis e aeroportos. Na chegada ao hotel, vai apenas uma pessoa para o balcão do atendimento fazer os procedimentos necessários. Nos voos nacionais, não estão sendo servidos o serviço de bordo e as revistas e objetos que podem ser manuseados por mais de uma pessoa foram retirados. Se reduziu a utilização de cardápios físicos. Tudo que é possível está sendo concentrando no próprio celular do passageiro para diminuir os agentes contaminadores — explana.
PARA COMPENSAR A VIAGEM CANCELADA
A escriturária Fabiana Rovea de Souza, 42, foi a primeira passageira da Sonhe Mais a voltar a viajar depois da paralisação da pandemia. A caxiense tinha viagem programada com o filho e o marido para Salvador em março. E ainda estava nos planos do casal levar o filho até a Disney na metade do ano. Nenhuma das duas viagens pode ser concretizada por causa da situação da crise sanitária da covid-19.
O valor da viagem para Salvador foi reembolsado pela agência e a da Disney não havia sido comprada ainda. Para compensar os deslocamentos não realizados, quando viu a oportunidade de poder sair, Fabiana procurou por destinos seguros e optou por Maceió. Por ser fora da época e por causa dos compromissos profissionais, o marido não pôde ir junto. No dia 20 de agosto, a caxiense e o filho Carlos Eduardo, 12, rumara à capital de Alagoas.
— Meu filho estava tão empolgado para a viagem da Disney, que quando tivemos que dar a notícia que seria impossível neste momento, ele ficou muito chateado. Aí resolvemos agradá-lo com a escolha de irmos a Maceió — revela.
Apesar das programações da família não terem saído conforme planejado, Fabiana comenta que se sentiu segura em viajar durante a pandemia.
— Achei os protocolos dos aeroportos super seguros, com fiscalização e distanciamento. Na hora do embarque, só ia para a fila quando era chamado. Lá em Maceió, o protocolo de segurança me deixou perplexa. No hotel, todas as medidas eram respeitadas, principalmente na parte das refeições. Na hora dos passeios, a capacidade era reduzida e só se sentava perto de quem estivesse junto. Nos restaurantes, todos os pratos e talheres eram embalados, tinham luvas, álcool gel e placas indicando a capacidade máxima de pessoas. Me senti numa bolha, porque eles tomaram muitas medidas que aqui em Caxias ainda não tinha — descreve.
VIAGEM DUPLA NA PANDEMIA
O cabeleireiro Leonardo Muniz, 43, também precisou cancelar a viagem no início da pandemia. O carioca que mora há três anos em Caxias do Sul já está na sua segunda viagem para o Nordeste nos últimos dois meses. Em setembro, ele foi para Maceió e, na semana passada, pegou como destino a cidade de Natal.
Leonardo diz que se sente seguro e que, ao precisar de atendimento médico em Maceió, foi notificado de que os hospitais estavam em boas condições e, mesmo com pacientes internados, tinham as questões de falta de leitos e mortes amenizadas.
— Fui fazer um mergulho e furei meu pé com um ouriço. Liguei para a equipe do meu seguro e eles falaram que estava super tranquilo. Se eu quisesse ir para o hospital, eles estariam lá para me socorrer — comenta o cabeleireiro.
Ele só estranhou que ao viajar de avião, embora todos estivessem usando máscaras, a aeronave se encontrava com a capacidade total de passageiros, tendo em vista as orientações para evitar aglomerações. A consultora de viagens Sabrina Antunes esclareceu que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) descartou a possibilidade que estava sendo discutida de reduzir os assentos mediante a filtragem eficiente do ar.
— Dentro do avião tem o filtro Hepa que deixa o ar completamente seguro. Ele filtra 99,9% do ar em cada dois ou três minutos. Por isso é um dos lugares mais seguros para se estar — expõe.
DESTINOS INTERNACIONAIS ADIADOS
A comerciante aposentada Leonilda Teponti Piccolli, 71, se considera uma viajante, até mesmo por já ter conhecido diversos lugares. Antes da pandemia, ela tinha duas viagens marcadas: uma para a Itália, com o grupo de amigas do carteado, e outra para os Estados Unidos, para conhecer o neto Santiago que nasceu em agosto.
— A viagem da Itália foi remarcada para o próximo ano, a princípio para o mês de maio, mas eu já estou repensando a data por conta da pandemia. Não me sinto segura para viajar no momento. Já para os Estados Unidos, não sei quando irei. Acredito que só depois que surgir uma vacina testada e aprovada com segurança total, ainda vai demorar para eu conhecer o Santiago pessoalmente — declara Leonilda, que além de fazer parte do grupo de risco, é cardíaca e usa marca-passo.
Leonilda nunca foi impedida pelos familiares de viajar, mas conta que eles estão bem preocupados com a situação atípica e preferem que ela fique por Caxias. A aposentada conta que realizou a negociação com a Sorella Turismo e recebeu uma carta de crédito no valor da viagem, até mesmo porque já havia realizado quase todo o pagamento.
— Quem não aceitou a carta de crédito, foi devolvido o valor em real, com desconto. A carta de crédito pode ser usada em outros pacotes de viagem, mas a nossa turma decidiu manter para a Itália. Ela vence em novembro de 2021. Espero que até lá possamos ir tranquilos, senão, com certeza, vamos conversar para negociar — conclui Leonilda.
MEDIDAS TOMADAS PARA GARANTIR
OS DIREITOS DOS PASSAGEIROS NA PANDEMIA
:: Caso o passageiro queira adiar sua viagem, ele fica isento de cobrança de multa contratual, desde que aceite um crédito para a compra de uma nova passagem.
:: Se ele optar por cancelar o voo, e decidir pelo seu reembolso, está sujeito às regras contratuais da tarifa adquirida. O prazo para o reembolso é de 12 meses para o serviço de transporte aéreo.
:: O passageiro que desistir da passagem aérea em até 24 horas contadas do recebimento do seu comprovante, terá direito ao reembolso no prazo de 7 dias. A regra se aplica às compras realizadas com antecedência mínima de 7 dias do embarque.
:: O passageiro deverá ser comunicado pela empresa aérea sobre eventual alteração programada do voo com antecedência mínima de 24 horas.
:: Nos casos de alteração programada, atraso superior a quatro horas, cancelamento ou interrupção do voo, fica assegurada a reacomodação do passageiro.
(Fonte: Anac)