Um mês após a liberação para reabrirem as portas, as escolas de Educação Infantil de Caxias do Sul servem como um termômetro para os demais níveis de ensino. Até o momento, houve apenas um caso confirmado, antes da reabertura das instituições, sendo que a escola foi monitorada pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS). De 9 de setembro até o final do mês, 27 escolas foram fiscalizadas, sendo que 24 tiveram o alvará sanitário liberado. Além disso, houve um auto de infração referente ao projeto arquitetônico, sem relação com plano de contingência e questões sanitárias.
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A inspeção segue um roteiro com mais de 70 itens. Os espaços são vistoriados por fiscais da Vigilância Sanitária. Eles avaliam desde o projeto arquitetônico e alvará de licença para localização, até o controle das cadernetas de vacinação e administração de medicamentos, que passou a ser apenas com receita médica.
O diretor técnico da Vigilância Sanitária Rodrigo Zardo ressalta que, quando foram detectadas necessidades de adaptação nos planos de contingência, os mesmos já sofreram ajustes no momento da inspeção:
— A maioria das escolinhas estava regular. Em algumas foram passadas orientações verbais e já solicitadas as alterações, quando não implicavam em risco sanitário. O retorno tem sido positivo principalmente por encontrarmos, na maioria das inspeções, as escolinhas aptas sanitariamente. Percebemos o esforço em cumprir todas as recomendações da Vigilância Sanitária.
O diretor acredita que o retorno pode servir de termômetro para a volta das demais redes de ensino se considerar os cuidados para evitar o contágio:
— Entendo que são situações diferentes, pois as escolas de Educação Infantil são consideradas como de alto risco sanitário, enquanto as do Ensino Fundamental, por exemplo, são consideradas como baixo risco. Contudo, quando pensamos em relação ao covid-19, ambas apresentam riscos elevados. Portanto, pode servir como um termômetro.
Antes da pandemia e da suspensão das aulas, em 19 de março, 9 mil crianças estavam matriculadas em 180 escolinhas na cidade. Destas, 164 receberam autorização do município para retomar as atividades, sendo que nem todas reabriram as portas.
"As crianças estão dando um show de civilidade"
Os planos de contingência, o respeito aos protocolos e o trabalho de conscientização em conjunto entre pais e escola foram fatores decisivos para que as escolinhas reabrissem de maneira considerada satisfatória, conforme a presidente do Sinpré, Christiane Welter Pereira:
— As crianças estão dando um show de civilidade porque se policiam, aprendem a respeitar os protocolos e têm a escola como referência. Sabemos que, às vezes, o que a educadora diz tem mais peso do que o que os pais dizem. Os pequenos aprendem pelo exemplo. Aquela história que vimos nas redes sociais da preocupação de que eles trocassem as máscaras e que se tornou um receio não ocorreu porque todos entenderem que a máscara é só deles, que o coleguinha não pode tocar na máscara. E que amar é não abraçar. Cada um tem a sua máscara, a sua garrafinha e tem que ficar longe —garante.
Ela reforça que o sindicato não recebeu informações de casos suspeitos, seja entre os alunos, familiares e professores ou equipes das escolinhas:
— As escolas cumpriram os planos de contingência e acredito que, se não todas, a maioria, à risca. Está tudo dentro do que preconizam os protocolos, tanto que não tivemos informações de casos de contágio ou sequer de suspeitos ou até de escolinhas que precisaram se adequar ou mudar as medidas referentes aos planos. Estamos felizes porque completamos um mês sem nenhum profissional ou criança afastada. Agora, estamos na expectativa do retorno das escolas infantis municipais.
A presidente faz um apelo:
— O retorno tem dado certo, estamos sempre atentos a todos os detalhes para evitar o contágio, mas precisamos de sintonia e apoio das famílias. Não adianta as escolas respeitarem os protocolos e a família não fazer a sua parte. Porque é necessário que os pais também mantenham os cuidados.
Tranquilidade para novas retomadas
Tanto a secretária municipal da Educação, Flávia Vergani, quanto a coordenadora regional Viviani Vanessa Devalle, avaliam que o retorno das escolinhas, sem casos de coronavírus, tranquiliza as demais redes de ensino para que cumpram as medidas e possam retomar o calendário escolar. No município ainda não há data para a volta às aulas. Já no Estado, depois de dois adiamentos, o retorno está programado para o dia 28 de outubro.
A secretária aponta que, com o resultado positivo até o momento, o município se organiza para o retorno das 45 escolas de Educação Infantil da rede municipal. O primeiro ponto é a realização de reuniões com os gestores para que seja feito um levantamento com os pais para saber quantas crianças voltam. Depois, em uma segunda etapa, será feita a elaboração dos planos de contingência de cada escolinha. A retomada pode ocorrer ainda este ano ou no ano que vem, segundo ela:
— As escolas que voltaram não apresentaram casos suspeitos, o que comprova que os cuidados e a prevenção tem sido levados a sério. Outro detalhe é que nem todos os alunos voltaram às salas de aula e isso também ajudou nessa retomada gradativa e sem contaminações.
Flávia explica que, em relação a rede municipal, além do plano de contingência, a Smed criou um protocolo de retorno às aulas presenciais.
— É um documento que elaboramos e foi criado a várias mãos, com medidas de proteção, cronograma de aulas, grupos de risco, como encaminhar os casos suspeitos, identificação de casos, capacitação para pais e professores... Enfim, são sugestões de diretores que conhecem cada escola para que possamos combater o vírus. Esse protocolo não interfere ou exime o plano de contingência. Ele vem somar porque cada escola tem diferenças. Estamos nos preparando, mas não se fala em data para esse retorno. Leva um tempo até que todas as etapas sejam concluídas. Sabemos que temos que pensar em planejamento e pode ser que essa volta ocorra só no ano que vem.
A coordenadora da 4ª CRE, Viviani Vanessa Devalle, também avalia o retorno como positivo, visto que não há registros de contaminações:
— Embora a rede estadual não seja mantenedora da Educação Infantil, acompanhamos a retomada das aulas no último mês. Certamente essa volta sem casos nos dá uma certa tranquilidade para retomar de forma gradativa. Os pais terão autonomia para decidir se os filhos irão ou não para a escola. Os que não forem devem permanecer com as atividades na plataforma online.
Entendimento das crianças foi fundamental
A escolinha Xodó da Vovó, no bairro Cinquentenário, foi uma das primeiras a obter a liberação para reabrir as portas, em 8 de setembro. Os pequenos, de um a cinco anos, encararam uma série de mudanças que precisaram ser explicadas para que se sintam felizes em voltar à escola.
—As famílias estão tendo um papel muito importante neste novo retorno, auxiliando na parte sanitária, cuidados com a saúde e envio de materiais solicitados, na paciência e respeito no momento de entrada e saída das crianças. Não tivemos nenhum caso na escola e as crianças e funcionários com qualquer sintoma são afastados, buscam atendimento e realizam a testagem—diz a diretora Marcela Muller.
Para ela, as crianças foram exemplo de como se cuidar e cuidar do outro:
—As crianças deram show neste retorno e puderam nos mostrar o quanto devemos confiar nas habilidades e no entendimento delas sobre o momento. Quando compreendem o porquê precisamos ter todos os cuidados, elas cumprem com maestria.
Ela explica que o uso das máscaras a partir dos dois anos é um exemplo disso: as crianças dão aulas sobre a utilização e permanência, assim como têm autonomia para pedir para dar "uma voltinha" e respirar. Essa é uma das ferramentas que a escola tem usado para que as crianças não se sintam obrigadas e, sim, responsáveis na utilização das máscaras.
— É necessário utilizar, mas elas podem ter a liberdade de dizer que querem um "arzinho". Cada criança é um ser fantástico. A retomada das atividades teve um papel muito importante, não só pela conscientização que devemos ter, mas pela saúde emocional, que avaliamos como sendo um dos principais fatores positivos da volta.
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