Este feriadão é um termômetro para medir a procura pelas praias gaúchas. As casas, antes fechadas, começaram a ser abertas na manhã desta sexta-feira (30). Com o feriado prolongado de Finados, é hora de arrumar as moradias, de colocar tudo em dia nas praias gaúchas para aproveitar o verão. Em Torres e Arroio do Sal, o movimento já se reflete na economia, principalmente, no comércio e nos supermercados. A chegada dos veranistas transforma as cidades litorâneas. Quem também sai lucrando é o setor de serviços: restaurantes, bares, hotéis, imobiliárias e postos de combustíveis veem o movimento dobrar, e em alguns casos até triplicar durante os feriados.
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O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte (Shrbs-LN) estima ocupação total dos leitos, dentro da capacidade permitida em bandeira laranja que é de 60%. A presidente do Shrbs-LN, Ivone Ferraz, orienta os hóspedes a procurar hotéis e pousadas que cumpram as medidas sanitárias.
—Nos preparamos com treinamentos online com a questão de segurança alimentar, atendimento aos hóspedes, novos equipamentos e estruturas de limpeza para receber os turistas na temporada — ressalta ela.
Divididos entre a alegria da retomada e o receio do aumento dos casos de coronavírus
Nas ruas das duas praias, a palavra que surge com frequência é a mesma: incerteza. Em Arroio do Sal, tanto na rede hoteleira quanto no comércio e entre os moradores, há o mesmo sentimento de alegria pelo movimento e de apreensão pelo risco de aumento do contágio.
Proprietário de um dos hotéis mais tradicionais da cidade, César Firpo dos Santos ressalta que este foi um inverno diferente dos anteriores. Ele mantém o estabelecimento aberto, mas faturou pouco, o que espera reverter no verão. No entanto, admite que há receio:
— As expectativas para o verão ainda são uma incógnita. Pelo último feriado, consegue se ver que as pessoas não vão ou poucos vão usar máscara e realmente se proteger. Acredito que realmente os gaúchos fiquem mais por perto mesmo porque está difícil para viajar mais distante. Talvez uma parte para Santa Catarina e a grande maioria em nosso litoral mesmo — destaca Santos.
Mesmo que nem todos cumpram as regras, até o momento, o decreto do governo do Estado determina o uso de máscara até mesmo para quem estiver a beira-mar. A medida segue em vigor pelo menos até o final de novembro.
No comércio, o sentimento é o mesmo. O lojista Leonardo Dias Márquez, 18 anos, demonstra confiança.
— Estamos com expectativa alta porque os feriados têm sido mais movimentados. Sinto que estamos preparados para receber bem os turistas. Temos estrutura e precisamos da retomada. Há apreensão, mas mantemos os cuidados, e pedimos que colaborem e usem álcool gel e máscara — diz ele.
Os hotéis, restaurantes, pousadas e o comércio têm cumprido todos os protocolos e medidas para receber os visitantes. Maicol Cristian Grosselli, 42, comprou um restaurante em Arroio do Sal há dois meses.
— Avaliando pelo feriado do dia 12 (de outubro) e por essa (de Finados), o verão será um ano bom. A expectativa é boa para contabilizar o faturamento depois do dia 2, mas temos que seguir as medidas, não dá para relaxar nos cuidados — frisa Grosselli.
A moradora Tatiana Ribeiro, 53, também se sente apreensiva:
— A praia lota e o coração aperta muito. Dá medo de aumentar os casos.
Proprietário do Hotel Bolzan em Areias Brancas, Zuenir Ângelo Bolzan, 64 e a esposa Sara Marques também estão confiantes. Na quinta-feira, ele trabalhava na construção de uma rampa na areia no acesso a praia. A obra autorizada pela prefeitura foi inspirada depois de uma viagem a Argentina.
— Pensamos em melhorar o acesso para os nossos hóspedes, para quem é cadeirante e os mais idosos — conta Sara.
Para eles, o momento também é de retomada:
— A cidade precisa — afirma o casal.
Apreensão também está visível em Torres
No inverno, quem vive no litoral viu o movimento de pessoas aumentar e, ao mesmo tempo, o faturamento diminuir no comércio.
— O movimentou caiu muito mesmo. Quem tem casa vinha para o litoral para fugir das cidades maiores, mas não saía de casa. A cidade tinha mais gente porque vinham todos os finais de semana para escapar do vírus e respirar ar puro, mas não refletia no faturamento. Agora, a expectativa é recuperar as perdas. Não tenho medo do contágio porque isso depende do cuidado de cada um, mas acredito sim que depois do verão possa vir uma nova onda — aponta a depiladora Luciana Minotto, 45, moradora de Torres.
A frentista Catiana Gil, 48, e a diarista Karina Campos, 40, aproveitaram o sol para ir até o Morro do Farol antes do trabalho nesta sexta-feira. As duas ressaltam que o movimento já aumentou, e que a tendência é que a praia lote nos finais de semana até o final do verão.
— Senti pelo movimento no posto de combustível que o verão será uma loucura. O pessoal guardou dinheiro, não viajou e vai aproveitar o nosso litoral. O feriadão é uma prévia do verão — diz ela.
O eletricista Adonis Lourenço Paganella, 62, e o filho Lourenço, 18, também aproveitavam o mirante no Morro do Farol antes que a praia fosse tomada pelos veranistas no final de semana.
— Os primeiros meses de pandemia foram difíceis, mas o movimento começou a aumentar, e nesse feriado já estamos sentindo que a circulação será ainda maior. A gente espera que a praia lote, mas tem o outro lado porque as pessoas precisam se cuidar — ressalta Paganella.
A psicóloga Laura Bin Fare, 22, tem casa em Torres. Ela e a família são de Porto Alegre e frequentam a praia aos finais de semana.
— No começo da pandemia, não saímos de casa, e agora nos feriados aproveitamos enquanto não lota, porque é muita gente. E já intensificou o movimento. Tem certa apreensão porque vemos que ocorre no mundo a segunda onda — teme.
A aposentada Cleci Santos, 69, mora em Torres há oito anos. Para ela, todos têm direito de aproveitar o mar, mas também obrigação de se cuidar.
— Estamos apavorados porque todo feriado é um sufoco e, com esse feriado, a tendência é aumentar os casos. Claro que precisamos de ar livre, de mar, faz bem até a saúde, mas quem vem para a praia tem que se cuidar — pede a moradora.
Num dos restaurantes da orla, o momento era de preparação para receber os clientes. O espaço ficou fechado de abril até esta sexta-feira (30) para reformas. Marcos Santos, 27, está confiante.
— A cidade vai encher até segunda-feira (2). A expectativa é de movimento e Torres está pronta e preparada para receber os veranistas. Temos que nos readaptar para atender, criar novas formas e nos acostumar com essa nova realidade. Não podemos parar — aponta.
Eduarda Schadosim, 17, foi demitida em função da pandemia. Agora ela trabalha com a família em um quiosque à beira-mar.
— A praia já amanheceu diferente e mais movimenta. É bom para o comércio para a gente, mas ao mesmo tempo vemos muitos circulando sem nem usar máscara.
A vendedora Bianca Gonçalves, 21, pensa o mesmo:
— A gente se cuida e o veranista, não se cuida tanto. Ficamos com um pouco de medo, mas vendemos mais ao mesmo tempo. É um sentimento estranho porque precisamos do movimento, mas também pensamos no que pode acontecer depois.
Reflexo dos aluguéis
Outro reflexo da pandemia é uma prática comum no litoral: alugar a própria casa para o Natal e Ano-Novo e para o veraneio. No bairro Getúlio Vargas, os moradores desistiram de alugar os imóveis porque não tem como higienizar as casas.
— Todos precisam do dinheiro e era uma boa fonte de renda, mas como alugam os lugares onde moram, acabaram optando por não fazer mais isso porque tem medo. Ao contrário de hotéis e pousadas, não temos como higienizar de maneira segura — ressalta a moradora Luciane Mattos, 45.
A estudante Natália Mattias, 19, conta o mesmo:
— Minha avó sempre alugava e desistiu esse ano por medo do vírus.