Diferentemente de Caxias do Sul e Bento Gonçalves, os dois municípios mais populosos da região, que autorizaram a volta às aulas na Educação Infantil ainda na terça-feira (8) após a liberação estadual, cidades de pequeno porte da Serra decidiram esperar pelo momento que considerem a pandemia mais controlada e os pais mais preparados para retornarem às atividades presenciais. A reportagem consultou seis prefeituras de municípios com menos de cinco mil habitantes e apenas duas trabalham com possíveis datas para retorno.
O posicionamento dos prefeitos de Vila Flores, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira, Campestre da Serra, Nova Roma do Sul e Nova Pádua encontra respaldo em uma realidade completamente diferente de cidades maiores. Primeiro, conta uma característica da própria composição familiar: em muitos casos, moram na mesma casa das crianças avós ou tios, o que oportuniza um revezamento com os pais nos cuidados. A característica econômica desses municípios é outro aspecto importante, já que boa parte da população se concentra na zona rural. A conjuntura social leva também a uma baixa demanda pela Educação Infantil. As cidades têm apenas uma ou duas escolas para esse nível de ensino, todas municipais, e, por isso, não sofrem a pressão da rede particular pelo retorno.
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Além disso, parte delas tem feito pesquisas com os pais para avaliar qual seria o índice de crianças nas escolas e os resultados endossam a decisão de esperar. Em Vila Flores, 94% das famílias com filhos na rede municipal disseram que não mandarão as crianças para a escola nesse momento. Em Monte Belo do Sul, 80% se negam a voltar. As características levam à possibilidade das administrações municipais também abrirem mão de fazer um investimento que seria necessário para adaptação das escolas em um momento de perda de receitas.
— Não adianta a gente organizar toda a educação do município e fazer um gasto elevadíssimo para ter esse retorno e os pais não mandarem as crianças ou as crianças não quiserem voltar para a sala. Será um gasto supérfluo — afirma o prefeito de Vila Flores, Vilmor Carbonera (DEM).
Retorno conjunto
Em Pinto Bandeira, a Educação Infantil tem 40 alunos matriculados e, por enquanto, não há qualquer perspectiva de retorno. O prefeito Hadair Ferrari (MDB) diz que vai esperar a volta às escolas em outras cidades de porte semelhante antes de determinar o retorno no mais novo município da Serra:
— Não tem previsão de volta a não ser que o governador defina que tem que voltar com as aulas, mas se a gente tiver autonomia de decisão possivelmente a gente nem volte — comenta.
O prefeito de Monte Belo do Sul, Adenir Dallé (MDB), conta que aguarda uma posição regional sobre o assunto, que será tomada a partir de discussão com a Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne). Mas já adianta que a retomada ocorrerá só depois de setembro:
— Esse mês nem pensar. 80% da população não mandaria os alunos.
Também embasada em uma decisão regional, Campestre da Serra decidiu não retornar. A volta às aulas presenciais encontrou resistência nos Campos de Cima da Serra e os municípios que compõem a região seguem com as escolas fechadas por tempo indeterminado.
— Não tem perspectiva de voltar. A gente sabe dos decretos, mas a nossa realidade não é viável, porque no nosso município está crescendo o número de casos e, pelas pesquisas com as famílias, eles não enviariam as crianças para as aulas — detalha a coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal da Educação, Gislaine Zanoto Rech.
Dois municípios planejam retorno
Outros dois municípios de pequeno porte da Serra também seguem sem aulas presenciais, mas planejam o retorno. Em Nova Roma do Sul, o prefeito Douglas Pasuch (PP) conta que estão sendo finalizados os protocolos sanitários que terão de ser aplicados e a expectativa é de reabertura da escola de Educação Infantil a partir do dia 20. São 115 alunos matriculados, mas a estimativa é que apenas 30% das famílias decidam enviar as crianças. Também não haverá transporte escolar para evitar o convívio entre os pequenos.
— Nós temos uma demanda, a necessidade dos pais que trabalham — afirma o prefeito.
Já em Nova Pádua, a administração municipal realiza uma pesquisa com pais para verificar se eles desejam ou não o retorno. São essas respostas que vão ajudar na definição de se a Educação Infantil reabrirá em 5 de outubro, como a prefeitura planeja. A cidade tem 91 alunos nessa etapa do ensino.
— Ainda existe o medo e aquela família em um município pequeno que tem os pais, o nono, eles preferem que essa criança fique em casa. Mas a gente sabe que tem aquela criança que os pais trabalham fora, não têm quem cuidar e não têm como pagar para cuidar. Então, estão aguardando um nível de segurança para este retorno — afirma o secretário municipal da Educação, Pedro Fernando Wuttke Quintanilha.