O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) Serra apontou 19 irregularidades a serem corrigidas na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Central por descumprimento de medidas de prevenção à covid-19. As constatações ocorreram durante vistoria feita na unidade de saúde no último dia 27 de julho, após denúncia sobre uma festa realizada no local, e estão em um relatório emitido pelo serviço e encaminhado à Secretaria de Saúde.
Os profissionais verificaram as condutas da empresa que administra a unidade, o Instituto Nacional de Pesquisa e Gestão em Saúde (Insaúde), na prevenção da disseminação do novo coronavírus, solicitaram documentos e vistoriaram os ambientes. O Cerest constatou subnotificação de casos envolvendo trabalhadores. A empresa informou 20 atendimentos ambulatoriais que resultaram em afastamento do trabalho por motivo de síndrome gripal e covid-19 no mês de julho. Em análise feita pelo Cerest ao sistema de notificação federal e-SUS e no painel do município, houve constatação de apenas sete notificações de síndrome gripal e destas, apenas dois casos realizaram exames diagnósticos com confirmação para covid-19. Conforme o relatório, "estas verificações caracterizam subnotificação dos casos e ausência de realização de exames diagnósticos em profissionais da saúde."
O Cerest também verificou que a empresa não realiza as medidas preventivas adequadas para busca ativa de funcionários que tiveram contato com trabalhadores que apresentaram sintomas gripais. Essa busca é feita apenas em colegas do mesmo setor, não considerando os locais de convivência com colaboradores de outras alas da unidade. À reportagem, funcionários da UPA Central já tinham referido proximidade de camas de descanso e falta de troca de lençóis entre um uso e outro.
De acordo com o relatório, "a empresa possui atividades que envolvem risco de contágio para seus trabalhadores, apresenta deficiências em relação à estrutura física e aos procedimentos de prevenção e investigação de casos." Para o Cerest, é preciso adotar medidas imediatas para minimizar ou eliminar os riscos à saúde dos trabalhadores, em especial aqueles relacionados à prevenção da covid-19. O Cerest também indicou a necessidade de testagem por parte da empresa de casos suspeitos ou que estejam em situação de maior exposição, como medida protetiva quanto à transmissão para pacientes e contatos de trabalhadores com suspeita da doença.
Contatada pela reportagem, a prefeitura não respondeu os questionamentos a respeito dos apontamentos feitos no relatório até esta publicação.
O quadro da UPA Central
:: A UPA Central tem 217 trabalhadores em regime de CLT.
:: Segundo informações repassadas pelo Insaúde ao Cerest durante a vistoria, existem outros 80 contratos com médicos como pessoa jurídica, mas eles não estavam na listagem apresentada.
:: Dos 217, apenas três têm mais de 60 anos. A maior parte reside em Caxias do Sul (98%), três em Farroupilha, um em Bento Gonçalves e um em Flores da Cunha.
:: Há apenas um técnico em Segurança do Trabalho e não existe Comissão Interna de Prevenção a Acidentes (Cipa).
:: Também não foram informados horários de pausas e intervalos dos funcionários.
:: Para atender aos colaboradores, há um refeitório, sala de pausa, banheiros e dormitórios.
O que foi apontado pelo Cerest para adequação na UPA Central:
:: Armários dos funcionários dispostos em corredores, sala de pausa e dormitórios, no total de 144, o que representa 48,5% do necessário, considerando 217 empregados e 80 trabalhadores pessoas jurídicas.
:: Ausência de vestiários.
:: Sala de pausa/estar sem distanciamento social adequado, com pequeno exaustor, sem ventilação natural, com necessidade de manter a porta aberta para adequada circulação de ar.
:: Banheiro feminino em número reduzido em relação à legislação, apenas três gabinetes sanitários (um interditado) e duas pias para lavagem de mãos. Não há chuveiros.
:: Dormitórios sem distanciamento social adequado mínimo de 2m (momento de repouso não pode ser exigido máscara). Sem tabela de higienização de superfícies ou lavagem de roupas de cama a cada uso.
:: Área de refeitório requer adaptação para comportar o número de trabalhadores nas refeições. Ausência de exaustão.
:: Ausência de distanciamento social adequado (2m) entre as mesas. Utilização de duas pessoas por mesas sem barreira física parcial.
:: Abertura do refeitório com tela sem possibilidade de abrir para circulação adequada de ar (entrada de insetos no local justificaria necessidade da tela.
:: Talheres não embalados em kits conforme portaria da Secretaria Estadual da Saúde.
:: Cartaz na entrada da copa/refeitório a respeito da não utilização de EPI no local, com ganchos para deposição de jalecos/aventais e etc e álcool gel disponibilizado abaixo.
:: Cartaz interno ao refeitório para não utilização por mais de oito pessoas simultaneamente sendo necessária revisão de capacidade e de horários de disponibilização para os trabalhadores.
:: Área de espera em frente à farmácia (à esquerda) para entrega de medicação aos pacientes sintomáticos que foram atendidos na tenda e mesma área de espera para realização de testes rápidos em consultório à direita.
Recomendações
:: Elaboração de um plano de testagem por meio de exames do tipo PCR e/ou teste rápido de sorologia.
:: Notificação de todos os atendimentos de síndrome gripal no sistema e-SUS.
:: Investigação de acidente de trabalho e notificação dos casos.
:: Adoção do isolamento domiciliar da pessoa com sintomas respiratórios e das pessoas que residam no mesmo endereço, ainda que estejam assintomáticos, devendo permanecer em isolamento pelo período, indicado.
:: Inserção de dispenser de produto para a higienização das mãos, nas salas de pausa e quartos de descanso.
:: Desinfecção das superfícies, incluindo as poltronas da sala de pausa, após uso de cada funcionário, bem como disponibilização de tabela de higienização em cada área.
:: Adequação na janela do refeitório, permitindo a ventilação do ambiente.
:: Embalagem individual dos talheres do refeitório.
:: Afastamento adequado das mesas do refeitório, respeitando o distanciamento mínimo de 2m em todas as direções.
:: Instalação de placas de acrílico nas mesas como barreira de proteção entre os trabalhadores.
:: Higienização das mesas do refeitório a cada troca de trabalhador.
:: Adequação de áreas de vivência e instalações sanitárias para a proporção de trabalhadores conforme normativa, considerando o distanciamento necessário.
:: Testagem das pessoas que estavam a festa.
:: Observação quanto ao uso de máscaras após procedimentos com geração de aerossol, conforme nota técnica da Anvisa.
:: Revisão de procedimentos em relação a utilização de equipamentos de proteção individual, incluindo face shield, pois estes devem ser de uso individual e não dispensam adequada higienização.