A manhã gelada em Caxias do Sul, com temperatura em 1°C às 6h30min desta terça-feira (14), não impediu Valquiria Viviane Brando, 45 anos, de acordar no horário habitual. Às 3h, a autônoma saiu da cama para manter a rotina que garante o sustento da família. Duas horas e meia depois, ela já estava com a barraca improvisada no porta-malas do carro estacionado na Rua Ernesto Marsiaj, próximo à Estação Principal de Integração (EPI) Imigrante, para vender café, chocolate quente e pastéis. É para fazer toda essa produção que Valquiria acorda de madrugada.
— Ou tu pula da cama logo que desperta o telefone ou tu não tem coragem de sair. Tem que sair correndo e fazer as coisas que tem para fazer, porque tem horário para estar aqui para pegar o pessoal. Tem que pegar eles antes de irem para o serviço porque eles gostam de tomar o cafezinho antes de ir para o trabalho — conta Valquiria.
A única exceção na rotina de trabalho são os dias chuvosos, já que a estrutura não garante proteção a ela e ao esposo, José Francisco Vargas, 65, que também ajuda nas vendas. Nesses dias mais frios, os produtos mais procurados são os que ajudam a aquecer.
— Café, chocolate quente e salgados (são os mais vendidos). Outras coisas, a gente não pode vender. Eles (os consumidores) pedem um quentão, mas não tem como. Fica ruim botar fora o que está na norma para a gente trabalhar — conta Vargas.
O processo que permite produzir o chocolate quente ou o café com leite também começa cedo, com produtores rurais fazendo a ordenha de vacas independente do tempo. Em Fazenda Souza, o agricultor Gevaldino Troian, 74, é responsável pelo cuidado dos animais na propriedade de cinco irmãos. No período do inverno, acorda às 7h para o trabalho. São cerca de 700 litros de leite produzidos diariamente e vendidos a uma cooperativa de Nova Petrópolis. Na terça, as condições climáticas levaram à formação de geada no interior. Ao pisar na grama coberta de gelo, a sensação era de temperaturas ainda mais baixas.
— Não é muito bom, tem que acordar cedo, a geada é branca, está frio. Tem que se agasalhar bem. Quando levanto de manhã cedo, tomo um café e, depois, vou para a ordenha — descreve o agricultor, que, apesar do frio intenso, estava de chinelo de dedo, um costume de parte dos moradores do interior.
Para quem mora na área urbana e precisa sair para trabalhar, um dos desafios é enfrentar as temperaturas baixas na parada de ônibus. É o caso do montador de móveis Renato Baltazar, 38, que sai do bairro São Victor Cohab para trabalhar no Eldorado. O expediente começa às 7h30min, mas ele tem de pegar dois ônibus para chegar na empresa. Para isso, precisa esperar de 10 a 15 minutos na parada:
— Acostumar não acostuma, mas tem que sair para trabalhar — resigna-se Baltazar, que faz o deslocamento há três anos e meio e até prefere o frio para trabalhar em relação ao verão, quando as temperaturas altas trazem maior desconforto a ele.
A menor temperatura do Estado nesta terça foi em Quaraí, na Fronteira Oeste, onde fez -3.8°C. Levantamento feito pela Somar Meteorologia, a partir de dados das estações automáticas e em aeroportos instaladas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), mostram que na Serra o menor registro foi em São José dos Ausentes, com -1,2°C. Em Canela, onde fez 0,6°C, a sensação térmica foi de -4,2°C.