Além de não ser o único problema de saúde pública em Caxias do Sul, a crise do coronavírus agrava uma situação que já era complicada. A fila de espera por cirurgias eletivas chegou a 4,3 mil pacientes no fim de maio, para realização de exames somou 17,4 mil, e há 42 mil pessoas aguardando uma primeira consulta especializada. Esses casos – que juntos somam mais de 63,8 mil pacientes sem algum tipo de atendimento – foram suspensos em 19 de março, mas a longa espera é uma constante mesmo antes da pandemia. Em dezembro, a demanda era praticamente a mesma entre aqueles que dependem do Sistema Único de Saúde.
Para tentar resolver a situação, a Secretaria Municipal da Saúde planeja realizar um mutirão de atendimento. No entanto, para que esses pacientes que viram as doenças se acentuarem durante o período de quarentena sejam finalmente atendidos, é preciso que os casos de contaminação por covid-19 diminuam – o que não vem acontecendo. Exames e cirurgias eletivas, aquelas que não são consideradas de urgência e emergência, foram suspensos para garantir maior capacidade de atendimento dos hospitais, o que se demonstrou necessário com o avanço da pandemia. A ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva tem crescido nos hospitais da cidade: em 1º de julho, 59% dos leitos gerais de UTI estavam ocupados, com 21 pacientes em tratamento para covid-19. No dia 16, a ocupação subiu para 83,3%, com 39 pacientes da nova doença.
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O governo do Estado chegou a autorizar a retomada das cirurgias eletivas em 23 de abril. Segundo o secretário municipal da Saúde, Jorge Olavo Hahn Castro, alguns atendimentos voltaram a ser agendados em Caxias, porém, outro problema surgiu: a falta de anestésicos no mercado nacional. Com o estoque em baixa devido à falta de insumos, gerada pelo aumento da demanda durante a pandemia, cirurgias e exames eletivos voltaram a ser cancelados para garantir o fornecimento para urgências e emergências. O município só pode comprar o anestésico no mercado interno, e o governo do Estado busca junto à Anvisa a liberação para importação dos sedativos.
– Embora a demanda continue alta, não temos anestésicos e não temos leitos – afirma Hahn Castro.
As consultas especializadas foram suspensas para diminuir a circulação de pessoas, acompanhando os protocolos de distanciamento social. Nesta segunda-feira (20), a prefeitura informou que vai retomar os atendimentos a partir de 1º de agosto. Consultas clínicas, exames de imagem, biópsias e procedimentos ambulatoriais de pequeno porte retornam com 100% da capacidade de atendimento, enquanto consultas cirúrgicas e exames de colonoscopia e endoscopia voltam com metade da capacidade.
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Segundo o secretário, a pasta planeja reavaliar as listas de espera quando houver diminuição dos casos de coronavírus – o que acredita que deva ocorrer a partir de outubro. E, para dar conta de um problema que se tornou ainda maior com a estagnação da pandemia, a prefeitura vai precisar fazer mais do que vinha fazendo.
– Vamos ter que aumentar a capacidade de atendimentos – admite o titular da saúde.
A boa notícia é que investimentos realizados para enfrentar os casos de covid-19 podem ser aproveitados no mutirão. De acordo com o Hahn Castro, o município busca manter a Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) do Hospital Pompéia, com sete leitos criados para atender pacientes após a internação na UTI, o que agilizará a liberação de vagas. A prefeitura também pretende continuar com cinco leitos de UTI criados durante a pandemia.
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Cobrança no Legislativo
Os números da fila de espera vieram à tona após um pedido de informações protocolado pelo vereador Rafael Bueno (PDT), que preside a Comissão de Saúde e Meio Ambiente do Legislativo. Ele critica a ausência de um plano de ação sólido por parte do município e pretende convocar representantes da secretaria em reunião da comissão para prestar esclarecimentos sobre os atendimentos.
– Não existe só o coronavírus. Os problemas continuam existindo e até se agravando. A demanda da saúde mental cresceu durante a pandemia, sendo que já tem mais de 5 mil pessoas aguardando uma consulta – destaca.