A Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne) contestou novamente a decisão do governo do Estado em alterar a classificação de bandeiras da Serra de laranja para vermelha, o que aumentaria o nível de restrições. Ao Pioneiro, o presidente da Amesne, José Carlos Breda, explicou os motivos do posicionamento contrário à mudança. Confira:
Pioneiro: Qual é a justificativa desta vez para a contestação?
José Carlos Breda: Encaminhamos no sábado o pedido de reconsideração apontando várias divergências que conseguimos detectar e basicamente demonstrando que a Serra tem condições de permanecer na bandeira laranja.
Quais são essas divergências?
Algumas se referem à metodologia do cálculo. Por exemplo, leitos de UTI covid, que considera apenas o comparativo de uma quinta-feira com a anterior. É um dia em relação a outro só. É muita volatilidade, precisaria ser feito com base na média da semana. Acontece que depende do dia, se é um dia que tem várias internações, como é o caso da última vez (última quinta-feira, dia 2), se vai para a bandeira mais restritiva. Se tivesse algumas altas, aí poderia ir até para uma bandeira menos restritiva.
Mas é possível garantir que haverá aumento de altas? Não é preciso haver um dia de referência mesmo, independente se é bom ou ruim individualmente para cada região?
Nós sugerimos que se faça pela média, a da semana anterior com a atual analisada. E isso pode demonstrar uma certa estabilidade do controle. Enviamos pedido de aperfeiçoamento do modelo na quinta-feira, antes de saber da classificação da nossa região (que saiu na sexta). Tivemos o "azar" que na quarta e quinta-feira várias pessoas internadas foram para a UTI.
O senhor não acha que o momento é delicado para contestar a bandeira? Uma vez que há o pico "enfim" se anunciando...
Analisamos que tecnicamente, dentro do que o modelo estabelece, é de que (o pico seria) quando o sistema estaria para entrar quase em colapso. Todos os leitos ocupados na quinta-feira totalizavam 59, não alcançam a ampliação de leitos que fizemos na Serra, ampliamos 79 leitos. Ou seja, nem se ocupou a estrutura que tinha e ainda sobram 20 leitos. É um argumento bem consistente. Bom, se a tendência for mesmo crescer muito, vai chegar num ponto que vamos adotar (bandeira vermelha) sem dúvida nenhuma. Mas não vemos necessidade ainda de aplicar bandeira vermelha na nossa região. Estamos melhor que a média do Estado. O Estado todo teria de estar em bandeira vermelha, a Serra em termos de ocupação de leitos gira em torno de 65%, 66%, o Estado em torno de 74%. Nós temos condição favorável pelos investimentos que foram feitos: em 30 dias aumentamos 79 leitos, quase 50%. Tinha 174, passamos para 245. Essa semana foram mais três e nesta semana tem no mínimo mais oito garantidos para colocar.
Ainda assim, aumentar leitos indica que reconhecem o avanço do contágio. Não temem que um aumento descontrolado, sem a aceitação das restrições, poderia fazer com que a região passasse da laranja para lockdown?
Que vai aumentar, tem de aumentar. Ou estou errado? Não tem como escapar disso. O problema é que o sistema tem de estar preparado para receber. Estamos empurrando porque o sistema não teria capacidade de atender um aumento brusco, por isso temos de alongar a curva. A nossa região vem acolhendo pacientes de outras regiões pela estrutura que temos. Ficar na bandeira vermelha para que a gente freie um pouco mais, retenha um pouco mais, pode haver momento que seja necessário, mas neste momento acreditamos que ainda não. A não ser que na próxima semana aumente mais, aí sou favorável que passe para bandeira vermelha e aumente restrição, mas dentro dos critérios não caberia vermelha ainda.
Essa questão de alcançar o necessário de leitos para se enquadrar no critério, não parece uma "competição" técnica? Não lhe preocupa que, apesar de haver essa capacidade da rede de saúde, o aumento de casos esteja sendo, de certa forma, desconsiderado?
Se fosse assim seria oportunismo. E não é. A nossa sugestão de mudança de critério é uma sugestão para o modelo como um todo. Acho que o modelo precisa se aproximar da realidade do Estado e não pegarmos só um dia. Claro que sabemos que a capacidade de aumentar leitos é limitada, chega uma hora que não teremos como ampliar, não terão profissionais, temos um teto. Mas a capacidade que temos é para bastante tempo (verificou a atualização dos números do Estado durante a entrevista)... ó, hoje (domingo) aumentou. Hoje de manhã tinha 60, agora tem 65 (pacientes internados com covid). Se essa tendência se mantivesse, se fosse de hoje em relação a quinta-feira já teríamos aumento significativo, de 59 para 65, mais seis casos. Isso pesa. Se essa tendência se confirmar, não ha dúvida que precisaremos ir para bandeira mais restritiva, a vermelha.