"Ficamos observando o rio, e sabemos que quando chove forte teremos que sair". O relato é de uma das moradoras que vive um drama sempre que o Rio Caí, em São Sebastião do Caí, passa dos 11 metros. A cheia do rio obrigou 17 famílias do bairro Navegantes a deixarem suas casas. Eles foram removidos pela Defesa Civil entre às 22h de terça (30) e às 2h desta quarta-feira (1). São 73 pessoas alojadas no abrigo. Segundo a Defesa Civil estadual, São Sebastião do Caí é única cidade com enchente no RS.
A enchente atingiu as ruas mais próximas ao Rio Caí, no bairro Navegantes, e também a Avenida Osvaldo Aranha, na altura do campo do Esporte Clube Riachuelo, que estava embaixo d’água.
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Jane Losi de Melo, 58 anos, mora desde pequena nas áreas ribeirinhas no bairro Navegantes:
- Às vezes perdemos tudo. A água leva o pouco que temos. Fico sempre em pânico quando a água começa a subir. Queria sair dali, me mudar, mas sou viúva e tenho um filho autista. Preciso de ajuda - desabafa ela.
Para o Centro Integrado Navegantes, as famílias levaram colchões, cobertores e travesseiros. Os lençóis foram usados para improvisar uma espécie de barraca. Quem conseguiu pegou fogão, tanquinho e máquina de lavar. As crianças brincavam uma com as outras e com os animais de estimação.
Veleda Sarmento, 57, estava no abrigo com o marido, Paulo, 51, a filha Angelita, 27, e os netos Robson, 12, Maiara, oito, e Márcio, quatro.
- Se chove forte sabemos que vamos ter que ir. É um desespero - conta ela.
Karina Comentiol Horn, 33, afirma que entrou muita água na casa do pai dela.
- Tinha me mudado e saído da beira do rio, mas me separei e voltei para a casa do meu pai. Conseguimos trazer o mais importante - diz ela, que estava com os filhos de 15,12, nove, sete e o tio de 57, que tem sequelas provocadas por um AVC.
- O tio mora embaixo da casa do meu pai. Ele teve um derrame e tem dificuldades. Ajudamos ele a vir para o abrigo.
O reciclador Tassiano Sousa da Silva, 30, estava com a mulher Michele, 23, e a filha Maria Clara, de um ano e dois meses.
- Nossa casa é no chão. Nós precisamos erguer ela. Não temos condicões de comprar madeira. Consegui ajuda para fazer o banheiro e usei algumas economias. Agora não tenho como melhorar a casa.
Ele estava cercado de livros:
- Voltei a estudar no supletivo. Trabalho com reciclagem, mas estamos em busca de melhores condições de vida. Tenho os livros que me doaram e estou estudando. Leio bastante e uso o celular para estudar também.
Já Elisete Machado Bueno, 29, estava com o marido Rafael, 29, e as duas filhas, Maísa, de 11, e Maithe, de oito meses.
- Moro bem na beira do rio. Qando começou a entrar água me desesperei. Estamos há menos de um ano morando nessa casa. É assustador a água entrar na tua casa e tu teres que sair correndo. Se pudesse, sairia dali - lamenta ela.
Cheias são históricas no Caí
As enchentes são históricas no município. Por volta das 6h, o nível do Rio Caí estava com 12m20cm. O nível normal é 2,5 metros. Em novembro de 2019, quando havia acontecido a última enchente, o Caí chegou a 12m50cm.
- A diferença é que naquela vez encheu em dois dias e, dessa vez, em 20 horas - explica o coordenador da Defesa Civil de São Sebastião do Caí, Pedro Gribler.
Ele ressalta ainda que a situação está sendo monitorada:
- Subiu rapidamente devido a água dos rios de Nova Petrópolis e Caxias do Sul, que desaguam no Caí. Nos antecipamos e retiramos quem não tinha para onde ir.
Ainda segundo o coordenador, mais 350 pessoas são afetadas pela cheia. No entanto, nem todas são levados para o abrigo.
- Algumas ficam na parte de cima do imóvel ou com familiares e amigos.
A expectativa é que nesta quinta-feira (02) os moradores retornem para as casas porque o rio começou a baixar.
Cuidados
Todas as pessoas que chegaram ao abrigo tiveram a temperatura medida. Quem estava sem máscara ganhou uma e também recebeu álcool gel. Elas também estão a três metros umas das outras. Contudo, nem todas seguiram a orientação dos voluntários.
Para doar e ajudar as famílias basta entrar em contato com a Secretaria de Assistência Social, pelo telefone (51) 3635.2569.