Mesmo que a manhã ensolarada de sábado (4) tenha motivado muitas pessoas a sair de casa, movimentando as ruas de Caxias do Sul, a realidade dentro dos supermercados e academias era um pouco mais tranquila. Isso porque, em cumprimento aos decretos estadual e municipal, os locais devem limitar o acesso de clientes conforme o teto de ocupação permitido, além de atenderem a outras regras que têm como objetivo a prevenção à covid-19.
Conforme verificado pela reportagem, os estabelecimentos, em geral, têm cumprido as normas, criando até mesmo processos diferenciados que facilitem a adequação. Ainda assim, alguns casos de descumprimento, sobretudo referentes ao distanciamento e ao uso obrigatório de máscara dentro dos locais, integram a lista de denúncias recebidas pela fiscalização municipal.
Desde a implantação da bandeira laranja, a Secretaria Municipal de Urbanismo vem registrando denúncias referentes a supermercados e academias da cidade. Segundo o titular da pasta, João Uez, pelo menos uma a cada 10 denúncias recebidas é referente, principalmente, a supermercados. Ainda de acordo com ele, as situações são verificadas, porém, muitas vezes, fogem aos olhos dos fiscais.
— As pessoas que não usam máscara, por exemplo, sempre estão com ela no bolso ou em algum lugar próximo e, quando chega a fiscalização, elas simplesmente colocam. Em relação ao número de pessoas dentro do estabelecimento, geralmente são locais que, por terem uma planta grande, não estão excedendo o limite de ocupação permitido pela bandeira — comenta o secretário.
Supermercados dizem controlar a entrada
Por volta do meio dia de sábado, o movimento era intenso na unidade do supermercado Andreazza do bairro Nossa Senhora de Lourdes. Com todos os caixas em funcionamento, uma certa aglomeração de funcionários misturados com clientes se fazia permanente na entrada da loja, onde não havia restrição para entrada de clientes e nem aplicação de álcool gel obrigatória.
Ainda assim, o gerente da unidade, Jeferson Pretto, afirmou que o supermercado opera praticamente com 50% do efetivo (a bandeira laranja chega a permitir 75%) e que 85 pessoas encontravam-se no interior do local, sendo 106 o teto de ocupação. Ele afirmou, ainda, que o álcool é disponibilizado aos clientes, assim como são higienizados os carrinhos e cestos a cada uso.
Mesmo com demarcações de distanciamento nas filas, a reportagem verificou o descumprimento por parte de alguns clientes, que ficavam próximos uns dos outros, ignorando as orientações.
— Temos um pessoal específico para cuidar das filas, pedir que as pessoas observem o distanciamento. É complicado, pois ainda vem muita gente da mesma família também — comenta o gerente da unidade.
No horário em que a reportagem esteve no supermercado, dona Neiva Soares da Silva, 76, fazia suas compras do dia. Ainda na fila do caixa, um senhor aguardava atendimento a menos de um metro de distância dela. A situação, agravada pela intensa movimentação na porta do estabelecimento, não preocupa a aposentada, que diz frequentar o local praticamente todos os dias, assim como costumava fazer antes do início da pandemia.
— Moro a umas quatro quadras daqui, venho a pé quase todos os dias e me sinto segura, mesmo sendo idosa e com meu marido de 69 anos em casa, que já teve embolia e tem outras comorbidades. Eles tomam todos os cuidados aqui, pedem pra usar a máscara direito e tudo mais — comentou a idosa.
Em outro supermercado verificado, o Sacolão a Economia Zimmermann, no bairro Santa Catarina, o controle da entrada não estava sendo realizado, embora o local estivesse ocupado por praticamente metade da capacidade máxima permitida, que é de 260 pessoas. O gerente, Sergio Fernando Boettcher, afirma que o controle é intensificado quando há mais pessoas dentro do local. Na visão dele, a proibição de abertura aos domingos aumentou a concentração de pessoas dentro do estabelecimento aos sábados.
— O total de pessoas que vinha no final de semana agora acaba ficando praticamente todo concentrado no sábado, isso é ruim — avalia o gerente, que antes abria a unidade todos os dias da semana.
Segundo Boettcher, os tótens com álcool gel disponibilizados aos clientes na entrada estão entre as medidas adotadas em cumprimento aos decretos, embora ninguém estivesse orientando a aplicação. O gerente garante que os clientes fazem a aplicação, assim como são barrados quando não estão cumprindo o uso obrigatório de máscara.
Em locais menores, com menos capacidade de público, a fila para entrar é inevitável. Assim ocorre no Ponto Ecológico que funciona no Centro da cidade, principalmente aos sábados, dia em que registra mais movimento.
Neste caso, para controlar o fluxo de clientes, a proprietária, Rosane Rossi, estipulou a entrada pelos fundos da loja, liberada para cada pessoa conforme ocorrem as saídas, direcionadas à porta da frente. A medida, segundo ela, foi bem aceita pelos clientes, que aguardam com distanciamento do lado externo da loja.
— A gente pede que passem álcool gel na entrada e, pra quem não quiser, disponibilizamos também pia para lavar as mãos. Organizando tudo dá certo — afirma Rosane.
Nas academias, treino deve ocorrer com distanciamento
A higienização constante do ambiente e também dos equipamentos têm sido uma das máximas do funcionamento de academias em Caxias do Sul. Nas três unidades verificadas pela reportagem durante o sábado, os cuidados eram evidentes, ocorrendo, em partes, pelas mãos dos próprios frequentadores, que cumprem a orientação de higienizar os equipamentos antes e depois do uso.
Na unidade Engenharia do Corpo do bairro São Pelegrino, o fornecimento de spray para os clientes, já na entrada do estabelecimento, tornou-se uma solução não apenas para a higiene, mas também para o controle do número de pessoas que acessam o local.
— Nossa capacidade máxima aqui é de 70 pessoas, então quando acabam os 70 borrifadores, já é um recado para quem chega de que é preciso aguardar para entrar na área onde ficam os aparelhos — afirma o gerente da unidade, Fabiano Colice, 26.
Segundo ele, a academia realiza agendamento prévio por aplicativo, que permite a permanência de cada aluno por, no máximo, uma hora. Quem opta por ficar em casa também conta com treinos online. As aulas coletivas estão suspensas.
Da mesma forma ocorre na Up Academia, que tem sede no Centro. E, ainda em cumprimento às normas decretadas, ambas unidades verificadas pela reportagem verificam a temperatura corporal dos frequentadores antes do acesso aos aparelhos. Além da disposição intercalada de aparelhos como esteiras, os estabelecimentos orientam que os equipamentos de musculação sejam usados de forma a ser respeitado o distanciamento mínimo de quatro metros (16 metros quadrados por pessoa) entre os alunos.
Na CrossFit Upper, que funciona praticamente anexa à Up Academia, solução encontrada pelo sócio-proprietário do local, Cristian Vanelli, foi destinar equipamentos individuais para circuitos que ocorrem dentro de um espaço delimitado para cada aluno. As aulas que antes contavam com 16 pessoas, agora contam com 10.
Distanciamento descumprido
Uma das academias verificadas pela reportagem descumpria a regra de distanciamento mínimo decretada para o funcionamento de academias. A Shape, que fica no bairro São Pelegrino, sediava uma aula em grupo no final da manhã, com a participação de quatro mulheres, um cachorro e um instrutor. Através da porta de vidro, também foi verificado que pelo menos uma das participantes não usava a máscara corretamente, ficando expostas boca e nariz. O gerente da unidade não estava no momento e não retornou ao pedido de contato até o fechamento da reportagem. Por telefone, uma recepcionista afirmou que o grupo praticava uma aula de muay thai.
Como denunciar
:: Denúncias podem ser feitas ao Alô Caxias, pelo telefone 156.
PRINCIPAIS REGRAS PARA ACADEMIAS
:: Sob bandeira laranja, é permitido o atendimento individualizado ou com mais pessoas, desde que haja distanciamento mínimo de quatro metros (16m² por pessoa) entre elas. Sob bandeira vermelha o atendimento passa a ser apenas individualizado.
:: Além do uso obrigatório de máscara, os alunos devem comparecer em horários pré agendados.
:: É proibido uso de bebedouros.
:: Os locais devem disponibilizar tapetes de higienização e verificar a temperatura dos frequentadores antes de permitir o acesso aos aparelhos.
:: É proibido o contato físico, bem como a presença de crianças menores de sete anos.
:: Integrantes do grupo de risco devem contar com horário exclusivo.
PRINCIPAIS REGRAS PARA ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS
:: Higienização frequente dos equipamentos, incluindo a maquinha de cartão, antes e depois de seu uso.
:: Controle do acesso de clientes que não deve ultrapassar o teto de ocupação permitida.
:: O número total de pessoas permitidas dentro do estabelecimento deve ser afixado na porta, assim como o local deve disponibilizar cartazes de orientação aos clientes em relação ao distanciamento e ao uso obrigatório de máscara.
:: Pessoas que integram o grupo considerado de risco devem contar com horário ou setor exclusivo de atendimento.
:: É obrigatória a disponibilização de álcool gel para os clientes, assim como a exigência do uso de máscara.
:: Conforme decreto municipal, os supermercados podem abrir de segunda a sábado, das 7h às 21h.