Caxias do Sul se aproxima da 12ª semana de luta contra a pandemia precisando lidar com o primeiro surto de covid-19 em uma indústria da cidade. Até este domingo (31), eram 18 funcionários do frigorífico da JBS em Ana Rech com a doença confirmada - os primeiros 12 casos foram sendo confirmados em dias diferentes a partir da segunda quinzena de maio e, seis novos pacientes tiveram o diagnóstico positivo neste final de semana. A empresa possui 1.699 trabalhadores, sendo 885 homens e 814 mulheres.
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Na tarde deste domingo, o Samae, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e a Fundação Marcopolo realizaram uma ação conjunta em Ana Rech. Um caminhão de desinfecção do Samae percorreu vias ao redor do frigorífico, onde muitos trabalhadores do local moram. A Fundação Marcopolo distribuiu material informativo para os moradores.
Para esta segunda-feira (1º), está prevista uma reunião entre representantes da direção do frigorífico e da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). As pessoas que entraram em contato com funcionários serão monitoradas, segundo informou o titular da pasta, Jorge Hahn Castro, em entrevista ao programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha. Apesar do secretário não ver como necessária uma interdição da fábrica de alimentos, o Conselho Municipal de Saúde tem outra posição e pretende solicitar a interrupção temporária das atividades. A tendência é que a representação seja feita ao Ministério Público do Trabalho (MPT) via Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador (Cerest). Um documento deve ser elaborado a partir de hoje, caso os integrantes do conselho aprovem a ideia.
O presidente do CMS, Alexandre Silva, cita o exemplo de Garibaldi. No início de maio, o frigorífico Nicolini fechou por três dias e retomou as atividades com o máximo 370 dos 1,5 mil trabalhadores. A medida fez parte do termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado com o MPT.
Posição da Secretaria Municipal da Saúde
Sem repassar detalhes, o secretário da Saúde de Caxias do Sul diz que haverá maior fiscalização no frigorífico.
- Vamos reforçar o cumprimento do plano de contingência que a empresa já possui e iremos fiscalizar esse plano - disse Castro.
Segundo ele, o frigorífico, assim como todas as fábricas da cidade, são obrigados a avaliar diariamente a situação dos funcionários e informar sobre síndromes gripais à secretaria. Há um trabalho de monitoramento em frigoríficos da cidade desde 23 de março, conforme a SMS.
Castro diz, ainda, não ter dados sobre o número de pessoas que precisaram ser afastadas da empresa. Questionado sobre como proceder com a população que reside na região de Ana Rech, ele repassa às recomendações de distanciamento social, uso de máscaras e higienização. Sobre a suspensão das atividades da unidade em Ana Rech, o secretário descarta a possibilidade até o momento.
- Fechamento seria em último caso - acredita
Castro afirmou, ainda, que a maioria dos pacientes com coronavírus atendidos em Caxias é de municípios vizinhos.
- Caxias está dando suporte aos municípios da região. Nossa capacidade de aumentar leitos de UTI é imediata - afirma
Posição da JBS
Responsável pelo frigorífico de Ana Rech, a JBS emitiu um comunicado e destacou o afastamento de trabalhadores com indicação médica. Confira a nota:
"A JBS informa que desde o início da pandemia no Brasil tem se pautado pelo absoluto foco na saúde, segurança e proteção dos seus mais de 130 mil colaboradores para o enfrentamento à covid-19 em todas suas unidades.
Tão logo teve a confirmação do primeiro caso de covid-19 em sua planta de Ana Rech (RS), a empresa seguiu com todas as medidas previstas em seu protocolo _ afastando todos os casos com indicação médica e monitorando 100% dos demais colaboradores. Entre as medidas previstas também estão a desinfecção geral da unidade.
A companhia vem atuando em conjunto com as autoridades públicas e suas ações seguem as recomendações dos órgãos de saúde e também do protocolo dos Ministérios da Saúde, Agricultura e Economia. A JBS contratou especialistas do Hospital Albert Einstein e de médicos infectologistas para apoiar na construção das medidas de prevenção e na proteção aos seus colaboradores."
Fiscalização do Trabalho apontou falhas
O frigorífico da JBS havia sido autuado pela Gerência Regional do Trabalho uma semana antes da divulgação oficial dos casos pela SMS. No relatório que a reportagem teve acesso, três auditores fiscais do trabalho relataram a falta de distanciamento mínimo entre os trabalhadores e a ausência de identificação de funcionários que fizeram contato com colegas que apresentavam sintomas ou suspeita de coronavírus.
O primeiro caso de coronavírus no frigorífico da JBS foi registrado no dia 13 de maio. A notificação dos auditores do trabalho foi assinada no dia 22 de maio, mas não refere nenhuma contaminação de covid-19 conhecida. A empresa teria 10 dias para recorrer das autuações e, após, mais cinco para apresentar relatório das adequações. O relatório aponta que foram solicitadas alterações em setores em que o afastamento entre trabalhadores era reduzido, como também a instalação de barreiras físicas em pontos críticos nos quais a distância mínima não podia ser implementada. Os fiscais também solicitaram ações nos vestiários, local para refeições e durante o transporte de trabalhadores.
A inspeção também constatou que haveria falha no acompanhamento de informações sobre os empregados afastados, pois não eram identificadas as pessoas que tiveram contato com os casos suspeitos de covid-19. A empresa também não manteria monitoramento da condição clínica dos afastados. Ao final, a equipe de fiscais sugeriu o encaminhamento do relatório à Procuradoria do Trabalho de Caxias do Sul para adoção das medidas que entenda cabíveis.