Uma vitória que vai muito além do que simplesmente derrotar a covid-19. Tarcísio Giongo, de 63 anos, deixou a unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Virvi Ramos, na tarde desta segunda-feira (15), com uma recepção de herói na saída da ala especial para contaminados com o coronavírus. O morador de Garibaldi é o primeiro paciente que realizou o experimento da transfusão de plasma convalescente para combater a doença e seus efeitos.
Leia mais
Paciente de Garibaldi que recebeu plasma convalescente apresenta melhoras no quadro respiratório
Família do primeiro paciente que recebeu plasma convalescente se mostra otimista com recuperação
Acompanhe os casos confirmados na Serra
Do lado de fora da UTI, onde Giongo passou os últimos 45 dias, aguardavam ansiosos pela sua saída a esposa Neusa e os filhos Anderson e Andressa. O primeiro momento de emoção da tarde se deu na chegada do professor e historiador Fábio Klamt.
Aos 44 anos, o professor venceu a covid-19, saiu de Porto Alegre e subiu a Serra para realizar a doação do plasma convalescente no Hemocentro de Caxias do Sul (Hemocs). Até às 17h desta segunda, nunca tinha visto pessoalmente a família Giongo. No entanto, no primeiro contato, o cumprimento com os cotovelos não escondeu o sentimento de gratidão que os familiares de Tarcísio sentiam.
— Queria poder dar um grande abraço em vocês — disse Klamt, que teve de Anderson a resposta mais sincera de agradecimento:
— O que tu fez vale mais que o abraço.
Entre uma conversa e outra, se ouviu o som da sineta vinda do corredor da UTI - e badalada por uma profissional da saúde. Era Tarcísio vindo. Ainda fragilizado pelo longo tempo hospitalizado, carregava um cartaz avisando que "eu venci a covid-19" e recebia os aplausos dos funcionários do hospital que o acompanharam por tanto tempo.
O professor, ao ver o resultado de sua ação de generosidade, não conteve a emoção. Tarcísio, mesmo com o ar cansado de quem enfrentou uma longa batalha, pegou ele mesmo a sineta e a tocou. Mais uma vitória consolidada para o homem que pode ser inspiração para tantas pessoas que ainda lutam contra a covid-19.
Satisfação completa
O encontro entre doador e receptor foi rápido. Porém, a ligação entre Giongo e Klamt é maior do que qualquer palavra dita.
— Ele é um exemplo. Estava em um estado muito grave e há muito tempo na UTI. E a recuperação é fantástica. Todo mundo viu ele tocando a sineta para sair. É complicado segurar a emoção — afirmou o professor, que já veio três vezes para Caxias realizar a doação do plasma convalescente após se recuperar da covid.
— É o mínimo que a gente pode fazer. Quem é que não está sensibilizado com a situação que estamos? E agora temos essa esperança. No meio de tanta notícia ruim, temos que nos agarrar nas boas. Que essa recuperação sirva de exemplo no Estado para realmente implementar e a gente possa mitigar os efeitos dessa doença maldita — torce ele.
Além da satisfação de quem doou, o entusiasmo também tomou conta de quem acompanhou todo o processo de Tarcísio e conseguiu ver o paciente dar mais um passo na recuperação.
— Gerou uma expectativa maior e agora dá mais ânimo para todo mundo trabalhar sabendo que estamos fazendo algo diferente por um paciente. A alta dele da UTI só reforça mais o trabalho de toda a equipe — comemora a médica intensivista Eveline Maciel Correa Gremelmaier, relembrando dos momentos difíceis durante os últimos 45 dias até a alegria da saída:
— O período em que tivemos ele sedado, precisando de altos parâmetros respiratórios, conversar com a família todos os dias e dizer que ainda era muito grave mas que tentaríamos fazer o nosso melhor. E agora ver a alegria da família vendo ele sair daqui é muito gratificante.
Para que Giongo volte para casa ainda será preciso mais um tempo. A reabilitação envolverá uma equipe multidisciplinar, ainda maior do que a que já trabalhava na UTI. Por conta da longa estadia entubado e no tratamento intensivo, ele precisará de uma atenção maior da fisioterapia, para recuperar a força muscular, e da fonoaudiologia, para que retorne a se alimentar por via oral.
A transfusão de plasma convalescente não é a cura definitiva para a covid-19, mas é um grande passo para auxiliar na recuperação de tantas pessoas hospitalizadas. Homens de 18 a 60 anos que estão recuperados da doença, podem fazer a doação para que mais gente tenha a chance de viver a emoção que a família Giongo e Klamt viveram nesta segunda-feira.
— Eu pediria que, a partir de agora, mais pessoas pudessem doar. Vamos precisar de mais doadores. E se essas pessoas têm a possibilidade de fazer a doação, que liguem para o Hemocs para fazer o cadastro e, na medida que for preciso, conseguirmos ajudar mais pessoas — concluiu Eveline.