Responsável por proteger os pequenos de cinco doenças, como o nome já diz, a vacina pentavalente é indispensável no esquema de vacinação de qualquer criança. Entretanto, desde meados de junho de 2019, a falta dela vem sido registrada pela Vigilância Epidemiológica de Caxias do Sul.
O problema de abastecimento respinga na cidade, mas é nacional e ocorre principalmente por causa de um lote que precisou ser retido pelo Ministério da Saúde no ano passado. De acordo com Rita Mota, enfermeira do Núcleo de Imunizações da Vigilância Epidemiológica, a solução leva ainda mais tempo porque envolve a abertura de um novo processo licitatório, a contratação de outro laboratório, a produção em larga escala e a distribuição a todos os Estados do Brasil. Não há previsão de regularização da situação.
No dia 3, a Vigilância Epidemiológica de Caxias recebeu um lote do Ministério da Saúde com 1,6 mil doses e já iniciou a distribuição nas UBSs, processo que varia de acordo com o porte de cada unidade. No entanto, para Rita, a medida não é capaz de solucionar a defasagem. Em condições normais, segundo a enfermeira, as doses deveriam chegar em cerca de 2,5 mil unidades. A procura pela vacina em Caxias está alta, portanto a orientação da Vigilância Epidemiológica é sempre ligar para a unidade de saúde antes de se dirigir até o local.
A vacina pentavalente garante proteção contra cinco doenças: difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e a bactéria haemophilus influenzae tipo b, que causa infecções no nariz e garganta. Como consta na caderneta de vacinação, os bebês precisam receber três doses: aos dois, quatro e seis meses de idade. O atraso gera problemas na imunização da população, mas não interfere no processo das crianças que já iniciaram a vacinação, como explica Rita. Desse modo, embora não seja o ideal, é possível atrasar o recebimento das doses seguintes. Completando o esquema de três aplicações, a criança está imunizada.
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, não existe um número sobre as crianças em lista de espera para receber a vacina, até porque as UBSs não costumam agendar a aplicação sem ter certeza de que vão receber as doses repassadas pela vigilância. Assim, conforme a Atenção Básica do município, fica a critério do gerente de cada região organizar as unidades quanto ao repasse das vacinas para a população.
A vendedora Dhyessica Miliyane e a filha Perola Isabely estão entre as famílias que ainda não obtiveram a primeira dose da imunização. Há duas semanas, Dhyessica procurou a UBS Esplanada e afirma que segue ligando para a unidade quase todos os dias, mas ainda não conseguiu a dose para a filha. A mãe também buscou uma solução em outras UBSs e na Secretaria da Saúde, mas conta que não recebeu nenhuma previsão de chegada dos lotes. A bebê Perola deveria ter tomado a primeira dose aos dois meses de idade, mas já está com três e ainda não foi imunizada. Para Dhyessica, a situação é drástica:
— Estou desempregada, pago aluguel e crio uma bebê. No momento, tenho somente a renda do auxílio-maternidade, que está na última parcela. A bebê não recebe pensão porque encaminhei o processo e ainda não saiu — relata a mãe, que também procurou pelo serviço na rede particular.
— Custa em torno de R$ 180 e eu não tenho como pagar, porque tenho gastos com fralda e leite e não tenho plano de saúde — relata Dhyessica.
Lote precisou ser retido em 2019 pela Anvisa
No Brasil, o Ministério da Saúde compra a vacina por meio do Fundo Estratégico da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Em junho do ano passado, lotes do laboratório Biologicals E. Limited foram reprovados em testes de qualidade do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Por isso, a vacina precisou ser retirada da rede de saúde.
O Ministério da Saúde solicitou reposição do produto em agosto e anunciou que a compra de 6,6 milhões de doses começaria a chegar de forma escalonada no país. Como não havia disponibilidade imediata de produção, a previsão era de que o abastecimento voltasse ao normal a partir de novembro do ano passado. Em Caxias, a situação, porém, é a mesma em junho de 2020 — um ano depois dos primeiros registros de falta da vacina, como aponta a Vigilância Epidemiológica.
Segundo Rita, a defasagem em Caxias se dá pelo recebimento de lotes em quantidades inferiores do que o necessário para suprir a demanda e do atraso que já acontece com crianças na lista de espera:
— Esse é um problema em nível nacional. É preocupante – diz.
Em janeiro, os postos de saúde de Caxias também receberam um lote emergencial enviado ao Estado com 1,6 mil doses da vacina. Antes mesmo de chegar à população, a quantidade já era considerada pela Secretaria da Saúde insuficiente para atender toda a demanda.
O problema também aparece nas clínicas particulares
A reportagem entrou em contato com cinco serviços da rede privada de Caxias do Sul e constatou que a alta demanda aparece também nesse cenário:
Unimed
Diferente da ofertada pelo SUS, a pentavalente da Unimed carrega as cepas da poliomelite em vez das da hepatite B. A imunização contra hepatite B está na hexavalente, que ainda existe nos estoques. No entanto, a equipe diz que há lista de espera, em parte por conta dos agendamentos espaçados para evitar as aglomerações. Por outro lado, reconhece que a quantidade de doses ofertadas não supre a demanda do público. O laboratório ficou um tempo sem trabalhar com a vacina, o que diminuiu a produção. Para obter a imunização na Unimed, é preciso ter o plano de saúde, apresentar prescrição médica e pagar um valor de R$ 165.
Alfa Laboratório
Equipes do Alfa relatam que há falta da vacina há cerca de três meses em virtude da produção do laboratório fornecedor. Trabalham tanto com a aplicação particular quanto por convênios com planos de saúde. Quando retornarem, os valores podem alterar por reajuste.
Fátima Saúde
O Fátima não aplica as vacinas diretamente, portanto, direciona os pacientes a serviços parceiros, como os das farmácias Panvel e São João e da Clínica São Lucas. Por lá, o cenário também é de falta.
Clínica São Lucas
O problema ocorre desde meados de outubro do ano passado. Atendem também ao plano do Ipam. No particular, a dose custaria em média R$ 200.
Círculo
Atende beneficiários do plano de saúde, SSI e particulares. A Central de Vacinas alega que há grande procura, mas que novas doses chegaram na última terça-feira. Até o fim da tarde de quarta (11), havia cerca de 30 à disposição. Com os planos de saúde, há uma diferença de R$ 170 e no particular a vacina sai por R$ 180.