A falta de insumos para a produção de sedativos no mercado brasileiro, gerada pelo aumento da demanda durante a pandemia, tem dificultado a compra destes medicamentos por parte de hospitais de todo o país, incluindo unidades de referência da Serra gaúcha. Há pouco mais de duas semanas, o Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul está vendo seus estoques baixarem consideravelmente enquanto tenta buscar alternativas junto aos laboratórios e às instâncias de Saúde.
De acordo com o diretor técnico do HG, o médico Alexandre Avino, em cumprimento à orientação municipal, todas as cirurgias eletivas estão suspensas até que seja retomado o fornecimento das drogas, necessárias para Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), em procedimentos como a intubação e manutenção de pacientes sob ventilação mecânica.
Segundo Avino, a queda nos estoques de hipnóticos, analgésicos e bloqueadores neuromusculares impede a retomada dos procedimentos que estavam, aos poucos, voltando a ser realizados, mesmo durante a pandemia. Em Caxias do Sul, a orientação se deu por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), para que o medicamento não faltasse aos pacientes de urgência e emergência.
— Já viemos de uma redução em função da priorização de leitos para covid-19, assim como para diminuir a circulação de pacientes. Mas a demanda continua ocorrendo, e ela é cada vez maior — comenta o diretor, destacando que trata-se de uma situação nacional, que foge do controle dos hospitais.
O diretor garante que nenhum procedimento de urgência ou emergência está deixando de ser realizado, mas afirmou que o hospital está racionando os medicamentos sedativos e, em alguns casos, usando de alternativas, segundo ele previstas em protocolos médicos.
A situação se agrava no caso de pacientes oncológicos, que demandam cirurgias, nem sempre consideradas urgentes, mas que precisariam ser realizadas dentro da janela de tratamento.
— Recebemos diariamente a solicitação dos médicos, tanto do setor de oncologia quanto de outros. Mas, infelizmente, nestas circunstâncias, não temos como atender. Os pacientes que já têm laudos emitidos e que aguardam procedimentos estão sendo informados de que retomaremos com a maior rapidez possível, assim que tivermos os estoques regularizados — completou Avino.
Um retorno ainda sem previsão
Além do contato direto com laboratórios fornecedores — uma vez que distribuidores não têm mais estoques — os hospitais também aguardam um retorno por meio da Secretaria Estadual da Saúde (SES), que ao lado de outros estados, conta com uma distribuição nacional, e também se mobiliza para buscar alternativas de compra.
O Ministério da Saúde informou ainda na quarta-feira (18) que iria intermediar junto à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) uma compra emergencial desses produtos no mercado internacional.
De acordo com a titular da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (5ª CRS), Tatiane Misturini Fiorio, hospitais da região começaram a relatar que estavam com dificuldades na aquisição dos medicamentos ainda no final de maio. Desde então, a coordenadoria orienta que as solicitações sejam diretamente reportadas ao departamento de alta complexidade da SES, em Porto Alegre, que centraliza as demandas de todo Rio Grande do Sul.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS), além de orientar hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) e alertar os da rede privada, coletou ofícios para repassar ao Estado. Consultados pela reportagem os hospitais Pompéia e Virvi Ramos, por enquanto, ainda possuem estoques – o Pompéia, por exemplo, garante sedativos por 60 dias.
Conforme o diretor-geral da SMS, Mário Taddeucci, os medicamentos em defasagem são sedativos, mas começam a faltar outras drogas, como heparina, anticoagulante usado no tratamento de pacientes com covid-19. Mesmo com a situação ainda sob controle, um possível desabastecimento de medicamentos usados em pacientes com covid-19 e outras condições que necessitam ventilação mecânica, preocupa.
Ainda no dia 9 de junho, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) emitiu uma nota solicitando às autoridades sanitárias de nível estadual e nacional, que buscassem a regularização do fornecimento. A entidade também monitora hospitais públicos e privados da região.