Se antes da pandemia o assunto "relacionamento" já era cheio de complexidade, as readaptações agora exigidas em diversos âmbitos da vida tornam ainda mais necessário zelar pelo momento a dois como forma de garantir uma relação saudável.
De um lado, os casais que, como forma de preservar outras pessoas de seu convívio ou por morarem a quilômetros de distância, buscam assimilar uma nova dinâmica de intimidade que se dá sem o encontro presencial, utilizando-se de ferramentas como a internet. De outro lado, os casais que estão juntos, conciliando a convivência presencial com a rotina individual, também afetada pela pandemia.
No centro, uma mesma pergunta: como lidar com os impactos que a pandemia vem causando nos relacionamentos?
Para o psicólogo João Luís Weber, professor dos cursos de Psicologia e Direito na Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), os impactos, sejam eles positivos ou negativos, invariavelmente ocorrem.
— A relação com certeza é afetada no momento em que as pessoas têm suas rotinas desestruturadas. É um momento de anseio, de fragilidade em relação ao que pode acontecer, seja na saúde, na economia, e todo mundo acaba ficando mais suscetível ao stress, com um ânimo mais exaltado, e isso acaba sendo descontado no parceiro — observa Weber.
Para o profissional, o aumento dos casos de violência doméstica é exemplo de um extremo atingido a partir de uma convivência que não esteja ocorrendo de forma saudável. As mudanças estruturais causadas pelo período também podem trazer à tona questões que antes eram encaradas de outra forma.
— Em um funcionamento de sociedade pré-pandemia, a gente conseguia manejar tudo de um jeito mais fácil, resolver ou suspender os problemas. Agora tudo é mais intenso e vem sendo exposto. Em termos emocionais fica mais complicado de ignorar, certas situações acabam vindo à tona e alguns casais acabam se afastando por algo que já estava ocorrendo — comenta o psicólogo.
Neste sentido, porém, o momento pede um olhar mais atencioso e tolerante de ambas as partes que se relacionam:
— É um momento de fragilidade, não adianta a gente exigir a melhor versão do outro agora. Além disso, em muitas situações, fica-se estressado e ansioso devido a coisas que não dizem respeito ao namoro — completa Weber.
É preciso diálogo e se colocar no lugar do outro por inteiro
Ao mesmo tempo em que expõe as feridas — algumas vezes mal curadas — da relação, a experiência da pandemia tem sido um divisor de águas em um sentido positivo para muitos casais que encontram formas de conviver, de perto ou à distância, em harmonia, mesmo no contexto de crise. De acordo com o psicólogo, uma das chaves para este entendimento é o diálogo aliado à capacidade de empatia, no real sentido da palavra.
— O diálogo se dá quando as duas partes estão dispostas a falar e ouvir e colabora no desenvolvimento da capacidade de se colocar no lugar do outro de modo inteiro, sentindo o que o outro sente, se colocando naquela exata situação, respeitando o espaço da outra pessoa, modificando atitudes para preservar a relação — explica o professor.
Segundo ele, o exercício pode ser muito proveitoso, tanto para quem estiver longe, quanto para quem estiver morando junto de seu amado ou sua amada. Os namorados que convivem com o distanciamento presencial, de acordo com ele, podem fortalecer a relação vislumbrando um futuro onde se encontrarão novamente, além de focar no lado bom da saudade, que indica a importância que da pessoa na vida de quem sente falta dela.
Para quem mora junto, uma dica importante é a preservação da privacidade, da individualidade, nem que isso exija momentos de separação física, em diferentes cômodos da casa, por exemplo. Independente do caso, as mudanças geradas pela pandemia podem deixar um legado positivo:
— Dentro do modo de vida atual, as pessoas têm trabalhando bastante, se colocando em uma série de atividades que reduzem o tempo de convivência do casal. Agora, com o remanejo dos compromissos e da convivência, é possível fortalecer a relação e resgatar o que estava perdido devido à rotina tão cheia de tarefas.