A chuva registrada desde ontem em Caxias do Sul provoca alagamentos em bairros do município. De acordo com registro da estação pluviométrica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choveu 85,2 milímetros das 14h45min de segunda (29) até as 8h35min desta terça-feira (30). A quantidade é quase três vezes maior que em todo o mês de abril deste ano, quando choveu 29,9 milímetros. Na segunda-feira (29), o Inmet emitiu alerta de temporal para toda a região sul do país, apontando risco de chuva em grandes volumes, vento de até 100 km/h e eventual queda de granizo.
Apesar dos bombeiros de Caxias não terem registrado chamados até o início desta manhã, moradores do Cânyon e do Esplanada relataram problemas. No Cânyon, além da água descer dos bairros Santa Fé e Belo Horizonte, o que faz com que os boeiros não escoem a água, o arroio está subindo e preocupando os moradores. Já os moradores da Eugênio Nicolleti, no Esplanada, afirmam que os transtornos com a chuva começaram ainda durante a madrugada.
"Temos medo de dormir em casa quando chove", desabafa moradora do Cânyon
Há anos Fernanda Rufino do Prado, 29 anos, convive com o medo a cada temporal. Ela mora na Rua da Felicidade, em uma das primeiras casas, logo abaixo do morro que desce dos bairros vizinhos. Em 17 de outubro a mãe dela Catarina Rufino do Prado, 60, que morava no porão, perdeu eletrodomésticos, roupas e alimentos com a lama que invadiu as casas. Desde então a apreensão aumentou:
— Meu filho tem seis anos e ele fica em pânico. Temos medo de dormir em casa quando chove. Às vezes vamos para a casa de uma prima que mora no bairro Parque Oásis, e mais seguro. Os esgotos entopem e na parte de trás da casa tem o córrego que sobe. É terrível. Desta vez não chegou a entrar água, mas ele sobe e fica perto da janela do meu quarto, a terra está deslizando, e a água cada vez mais perto da casa. O cheiro é muito ruim e temos medo da casa ser levada pela chuva – desabafa ela.
Ela afirma ainda que os moradores já solicitaram à prefeitura que o córrego seja canalizado para evitar alagamentos. Fernanda conta também que desde outubro a mãe dela, que perdeu tudo com a chuva de outubro, mora com a filha:
— A mãe está morando comigo porque não tem condições de retornar para casa dela. Ficou tudo destruído e até agora não conseguimos ajuda para recomeçar.
PROBLEMAS TAMBÉM NA EUGÊNIO NICOLETTI
Moradores da Rua Eugênio Nicoletti, no bairro São Caetano, também convivem com problemas recorrentes quando chove. As moradias mais atingidas ficam próximas da Igreja Assembleia de Deus.
De acordo com o morador Marciano Ortiz Rodrigues, 42, a rua alagava a cada chuva, até que devido ao forte temporal em fevereiro, quando a tubulação entupiu e abriu uma cratera na via, o problema amenizou. No entanto, como não há pavimentação, a água, sobe e arrasta terra:
— Desentupiram a tubulação, mas não refizeram a pavimentação, e quando chove forte a água arrasta terra, e o buraco abre outra vez. Logo não vai mais dar para passar por ali — aponta ele.
O QUE DIZ A SECRETARIA DE OBRAS
A secretaria municipal de Obras recebeu apenas dois chamados: um para verificar um terreno onde teria entrado água e também uma cerca que caiu no bairro Santa Fé, mas dentro do terreno, sem gravidade. Em relação a Rua Eugênio Nicoletti, o secretário Gilberto Meletti afirma que a obra de pavimentação está na programação da pasta para esta semana. No entanto, com a chuva o serviço deve ocorrer nos próximos dias.
OUTROS PROBLEMAS
Uma árvore caiu o no km 164, da BR-116, entre Galópolis e Vila Cristina. A pista chegou a ser boqueada para retirada da árvore, mas foi liberada por volta das 13h. A Defesa Civil de Caxias do Sul também atendeu a um chamado de um ônibus que caiu em um buraco que cedeu com a chuva na Rua Guerino Zugno, em Forqueta:
TRANSTORNOS NA SERRA
A ponte que liga os municípios de Guaporé, na Serra, e Anta Gorda, no Vale do Taquari, ficou submersa nesta terça-feira (30) após a chuva das últimas horas. A ponte sobre o Rio Guaporé é a principal ligação entre os dois municípios, que ficam a 25km de distância um do outro via ERS-441, uma rodovia de chão batido neste trecho. A outra opção entre as duas cidades é via ERS-129, passando por Encantado, e ERS-332, o que aumenta o deslocamento em cerca de 70km.
Árvores e postes caíram no Km 60 da BR 116 em Campestre da Serra. O trânsito foi liberado no após às 15h. Em Farroupilha, bombeiros retiram, nessa manhã, uma árvore que caiu na Rua Machadinho, na estrada do Salto Ventoso. Já em Flores da Cunha choveu granizo por volta das 10h. Durou poucos segundos e eram pedras pequenas. Em Vacaria, por volta das 10h, casas foram destelhadas e árvores arrancadas no distrito de Refugiado Raía Gaúcha.
CHUVA,VENTO FORTE E FRIO
A chuva, o frio e o vento forte fazem parte do combo climático que atingiu a Serra e segue nos próximos dias. O maior registro foi em Canela, onde choveu 93,6 milímetros, o que corresponde a 71% da média do mês. A partir desta noite, além da chuva, o destaque é o vento forte, com potencial para queda de árvores e destelhamentos, conforme alerta emitido pelo Inmet.
— Está passando uma área de baixa pressão, por isso a chuva com raios. Ela se desloca para o Oceano. Conforme avança, ela fica mais intensa e os ventos ganham mais força. Entre esta noite e a madrugada, há previsão de ventos de 100km/h em todo o Leste — destaca o meteorologista Fábio Luengo, da Somar Meteorologia.
As precipitações mais intensas devem cessar até o fim desta terça-feira (30) na região.
— O tempo continua fechado, mas com chuva mais leve. Só no Litoral pode ter chuva mais expressiva, mas nada comparado com o que teremos hoje — diz Luengo.
A ventania pode continuar na manhã de quarta-feira (1°). Com isso, a sensação de frio também deve se intensificar.