A estiagem que já dura cerca de cinco meses na região atinge mais fortemente o interior de Caxias do Sul e já tem efeito nos níveis das represas que abastecem a área urbana da cidade. A barragem responsável por abastecer a maior parte da população (60,51%), a Faxinal, está com volume 22,65% abaixo do normal. Se considerarmos o que reduziu nas cinco represas do município, são quase 10 milhões de metros cúbicos, volume suficiente para abastecer a cidade por quase três meses, considerando os 510 mil habitantes estimados e o consumo médio diário de 180 litros por pessoa. Por isso, o Serviço Municipal de Água e Esgoto (Samae) está reforçando o pedido para que as pessoas façam uso consciente da água, evitando lavar calçadas e carros e fechando a torneira ao ensaboar a louça, por exemplo.
- A campanha de uso racional da água é permanente, agora, com numa efetividade maior em face da estiagem que está assolando o estado do Rio Grande do Sul, considerando os atuais níveis das nossas barragens, em especial as da área urbana - ponderou o diretor-presidente do Samae, Ângelo Alberto Barcarolo.
Associado à falta de chuva expressiva, houve aumento no consumo em função das medidas de distanciamento social que levaram muitas pessoas a ficarem mais tempo em casa e o calor que ainda não deixou a Serra.
Segundo Barcarolo, Caxias é uma excepcionalidade positiva no cenário de alarmante de emergência que vivem outras cidades gaúchas, mas o momento é de apreensão no município. Conforme ele, se as previsões que apontam precipitações para os próximos três meses se confirmarem, a situação deve se estabilizar. Caso contrário, não se descarta a necessidade de racionamento.
- Se durante esses três meses não houver essa ocorrência de precipitações que os estudos estão nos apontando, teremos que tomar outras medidas com relação a racionamento. Agora, posso dizer que Caxias soube se preparar ao longo dos anos, em especial quando edificou o sistema Marrecas - referindo-se à barragem que acaba destinando água para compensar a redução da Maestra e do complexo Dal Bó.
Samae já recebeu caixas d'água para instalar no interior
Se na área urbana, foi acionado o sinal de alerta, na zona rural a situação é dramática. Segundo projeção da prefeitura, pelo menos 14 mil moradores dos distritos são impactados em maior ou menor grau pela falta de chuva. Com fontes naturais secas, para muitos, falta água até para o consumo. Eles têm sido abastecidos por meio de caminhões-pipas do Samae.
Para minimizar o problema, os 30 reservatórios que a autarquia adquiriu e vai ceder em forma de comodato à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa) chegaram na quarta-feira. As primeiras foram instaladas na localidade de São José da 4ª Légua nesta sexta-feira (1º). Outras seis caixas serão colocadas neste sábado (2). O secretário municipal da agricultura, Valmir Susin, adianta que uma nova remessa será adquirida a partir da próxima semana.
A família da agricultora Marli Comiotto Matté, 63 nos, está na primeira leva de famílias beneficiadas. As quatro pessoas que vivem na propriedade - ela, o marido Alcides, 63, o filho Daniel, 36, e a cunhada Gema, 60 - estão usando água de açude para tomar banho e lavar roupa. Enquanto isso, viram secar a água do poço que utilizavam para beber e cozinhar secar. Outros dois poços foram abertos e também secaram. O último na quarta-feira, quando a família pediu ajuda da prefeitura.
- Sem água está brabo. Um pouquinho a gente toca (bombeia) do açude, mas também está baixinha e tem que deixar para os peixes. As árvores, dá pena de ver - lamenta a moradora.
A Smapa fez um mapeamento dos locais onde os reservatórios serão instalados. O trabalho que iniciou na sexta seguirá na semana que vem.
Em 15 dias, o Samae deve dar início à construção de uma adutora que vai levar água até as comunidades de Bevilaqua e São Braz. A médio prazo não há previsão de expansão de rede para atender o interior. Dos seis distritos, Vila Seca é o único que possui rede de abastecimento, segundo o Samae.
Não deve chover nos próximos dias
A previsão para quem espera do céu a solução para os problemas de estiagem não é animadora a curto prazo, mas sim a médio. De acordo com o Setor de Meteorologia do Grupo RBS, não há precipitações previstas até a próxima terça-feira na região. Talvez ocorra alguma chuva na divisa do Estado com Santa Catarina, mas que não vai alterar a situação no Rio Grande do Sul.
- A tendência é a gente continuar com esse quadro de seca. A chuva que, por ventura, acontece nessa área de divisa é muito pequena. Mais certo de chuva, segundo a maioria dos prognósticos, é para terça-feira - disse o meteorologista Cleo Kuhn, na quinta-feira, dia 30.
E mesmo na terça (5), a perspectiva é de chuva fraca como houve em alguns pontos do Estado nesta última semana.
Porém, segundo o Samae, há chuvas mais consideráveis previstas para maio, junho e julho.