Viagem planejada, passagens compradas e hotel reservado. Era assim que a gerente administrativa Jaqueline Poli se preparava para um cruzeiro em direção ao Caribe, que estava agendado para março deste ano. O que ela e os amigos não contavam era que a pandemia de coronavírus adiaria os planos para fevereiro do ano que vem. Jaqueline faz parte de um grupo de inúmeras pessoas obrigadas a protelar as férias devido à situação.
— Na semana que viajaríamos, aconteceu tudo isso, a agência nos ligou e disse que a empresa tinha cancelado o cruzeiro. Claro que, num primeiro momento, a gente fica bem chateado, porque era uma viagem que estávamos esperando há bastante tempo. Criamos expectativas, a mala já estava pronta, íamos num grupo de amigos. Mas a gente teve que aceitar — conta.
Os planos de viajar em direção a Martinica iniciaram há cerca de um ano. Jaqueline conta que o grupo de amigos se conheceu em outro cruzeiro, também para o Caribe, porém, em direção a Cartagena, Aruba e Curaçao. E, ali, surgiu um novo ciclo de amizades.
— Já é a segunda viagem que a gente faz com esse grupo e era aquela coisa, todo mundo se falava, temos um grupo no WhatsApp. Já virou uma amizade, e a expectativa era bastante grande, porque viajar é muito bom. Conhecer lugares é maravilhoso também e a gente gosta muito — expõe.
Jaqueline conta que, como são em 12 pessoas, foi difícil encontrar outra data em que todos estivessem disponíveis. Mas, neste momento, a agência de turismo foi essencial:
— A gente confia na agência. Ela nos deixou muito seguros de que iríamos conseguir fazer essa viagem de qualquer maneira, em outro momento. Nos passou datas até encontrar uma que todos podíamos. E a alegria voltou. Então, vamos em fevereiro do ano que vem, sem nenhum custo adicional.
A expectativa e a empolgação, assim, retornaram ao grupo de amigos.
— Temos mais uma espera gostosa por esse nosso momento. Eu acho que vai ser bom porque vai dar tempo de passar tudo isso, das coisas normalizarem, a gente não ter mais o medo de que aconteça alguma coisa. E eu acho que vai dar para curtir bastante — empolga-se.
SONHO DO PRIMEIRO INTERCÂMBIO É ADIADO
O sonho de realizar o primeiro intercâmbio e todo o planejamento feito acerca disso também teve de ser adiado por Tawane Rodrigues, 23 anos. A caxiense tinha se programado para viajar à Irlanda no dia 17 de abril, com dois amigos. No entanto, devido a pandemia, a realização do sonho ainda não tem nova data para ocorrer.
— No final de março começamos a ver esse impacto do coronavírus na Europa e aqui no Brasil também. Então, conversamos e achamos melhor adiar — explica.
Para viabilizar a viagem, Tawane tinha conversado com os chefes da empresa onde trabalhava e pedido a rescisão antes de saber que o intercâmbio não seria realizado no período planejado. A viagem seria por oito meses, pois englobaria seis meses de estudos e dois de férias.
— Em janeiro eu já tinha conversado com o pessoal da empresa que eu trabalhava, dizendo que eu ia sair. Então, agora estou desempregada. Ainda bem que tenho um dinheirinho guardado, mas a gente fica chateado porque criamos uma expectativa da viagem — expõe.
Em princípio, ela acreditava que em junho a situação já estaria normalizada, o que possibilitaria o intercâmbio ainda no primeiro semestre do ano. Porém, com o agravamento da covid-19, ainda não se sabe quando a viagem será realizada. No entanto, Tawane compreende que, no atual momento, o melhor a se fazer é estar próximo dos familiares.
— Pelo que estamos vendo, vai ser melhor adiar para o final do ano. Mas sempre pensar positivo, né? Porque eu vejo que várias pessoas foram em janeiro, fevereiro e estão lá sem emprego, sem acomodação. Às vezes é melhor estarmos aqui, perto das pessoas que gostamos, e da nossa casa, do que estar longe, sem amparo também. Então, acredito que tudo tem um propósito — conta.
O IMPORTANTE É CONVERSAR
Em meio à pandemia do coronavírus foram promulgadas duas medidas provisórias. A MP 925 estabelece que todas as passagens compradas até 31 de dezembro deste ano e canceladas por conta da covid-19 podem ser convertidas em crédito para utilização no prazo de 12 meses a partir da data do voo, sem taxas. Ou seja, a viagem é remarcada entre consumidor e companhia aérea, sem intermediários.
Da mesma forma, a MP 948 diz que o fornecedor de serviços de turismo não está obrigado a reembolsar o consumidor se remarcar a viagem ou disponibilizar créditos para o uso no período de 12 meses a contar da data do encerramento do estado de calamidade pública. Ou, então, se realizar outro acordo com o consumidor. Apenas na impossibilidade de tais medidas deverá restituir o valor recebido. Novamente, fica reforçada a necessidade de um diálogo entre as partes para que o interesse de ambos seja considerado.
ORIENTAÇÕES
:: Procure dialogar com a companhia aérea, hotéis e demais serviços contratados. Todos estão orientados a dar crédito futuro para que a viagem seja realizada.
:: Toda tentativa de negociação deve ser registrada no site consumidor.gov.br. Assim, o turista se protege judicialmente de quaisquer danos futuros.
:: Atente à data da remarcação. Se você comprou passagens e hospedagem em baixa temporada, remarque para a mesma época. Senão, as empresas podem — e devem — cobrar pelo preço da temporada correspondente.
:: Em caso de pedido de reembolso, preste atenção em taxas e serviços. Por lei, as empresas não são obrigadas a devolver 100% do valor. Além disso, muitos dos pequenos contratantes podem falir com a crise.