Com a epidemia de coronavírus, o uso de máscaras e protetor facial e o distanciamento na hora da compra e venda se tornaram parte do rotina de feirantes e consumidores em Caxias do Sul. A reportagem esteve na última semana em feiras de bairros e constatou que mudou a dinâmica de comercialização. A prevenção também reflete no comportamento do consumidor que, ao menos naqueles bairros visitados — Santa Catarina e São José —, evitava se aglomerar, e caminhava a uma certa distância um do outro.
O mesmo não ocorria no Ponto de Safra das praças Dante Alighieri e da Bandeira, na área central da cidade, na manhã desta sexta-feira (8). Na Avenida Júlio de Castilhos, apesar das restrições e cuidados, a reportagem observou momentos de aglomeração e movimento intenso. As bancas estão mais afastadas, há cordão de isolamento, para manter os clientes mais afastados dos feirantes e dos produtos, todos usavam máscaras e os feirantes estavam com álcool gel — alguns de luvas. No entanto, havia de dez a 12 pessoas aglomeradas, bem próximas, em pelo menos quatro bancas. A cena se repetia logo em seguida em outras bancas.
Leia também
Pandemia muda rotina das feiras do agricultor nos bairros de Caxias do Sul
Ponto de Safra em Caxias do Sul desta semana é alterado
Feiras do agricultor e pontos de safra serão mantidos com restrições em Caxias do Sul
Feiras voltam a funcionar na terça-feira em Caxias do Sul
— Há momentos em que o movimento aumenta e tem circulação intensa de clientes, mas acredito que o comportamento tem mudado para evitar que o vírus circule. Temos todos os cuidados com o uso de máscaras e álcool gel e eles respeitam a fita para ficar mais distantes da mercadoria. Umas das coisas que eu percebi é que muitos clientes não colocam mais a mão em todos os produtos, apenas naqueles que vão comprar — diz a feirante Simone Isabel Isoton Faoro, 45 anos.
Para Gabriel Visoná, 29, é preciso que o cliente mude o comportamento diante da banca.
— Na maior parte do dia, os clientes não estão tão próximos das bancas e tomamos medidas de prevenção, mas acredito que seja preciso essa conscientização de não tocar tanto nos produtos e sacolas — afirma.
O feirante Denílson Donatto Sartor, 25, crê que tanto os agricultores quanto o público se adaptaram bem às restrições e medidas de segurança para evitar o contágio:
— Todos se cuidam e usam a máscara e o álcool gel nas bancas, e há o distanciamento. Na nossa, diminuímos os produtos à venda para ficar mais longe uns dos outros, mas ainda conseguimos vender bem. Há momentos de movimento maior, mas tomamos os cuidados necessários para continuar trabalhando e atendendo bem os clientes.
Bancas mais espaçadas e circulação intensa na Praça da Bandeira
As bancas da Praça da Bandeira, que ocupavam a Rua Moreira César, entre a Sinimbu e a Os Dezoito do Forte, agora estão dispostas também na Dezoito, para garantir distanciamento maior entre elas, os feirantes e o público. A circulação, assim como na Dante Alighieri, também era intensa por volta das 10h. Assim como havia bancas vazias ou com apenas um ou dois clientes, a reportagem constatou cerca de oito a dez pessoas em frente as mesmas bancas, tocando praticamente ao mesmo tempo nos produtos, e próximas uma das outras.
Mesmo assim, o feirante Antônio Rauber, 56, acredita que o comportamento mudou:
— Os clientes mexiam em todos os produtos, tocavam a mercadoria e hoje percebo que eles tem mais cuidado e estão procurando mudar isso, tocar apenas no que vão levar para casa. Espalhamos mais as bancas para que fiquem a dois metros de distância uma das outras, tem a fita de isolamento e estamos fazendo tudo para evitar aglomerações e conseguir atender bem ao público.
A produtora rural Janete Seefeld, 51, circulava pelas bancas usando luvas.
— Temos que nos prevenir. Assim que começou essa epidemia eu comecei a usar luvas para manusear as mercadorias, sacolas e, principalmente, o dinheiro. É o que eu tenho mais medo porque ele passa por muitas mãos e lugares. Depois começamos a usar a máscara e temos tido muita atenção e cuidado para evitar tumultos na hora de vender os produtos _ conta.
Em outra banca, Roni Michelon, 60, e Eleandro Razadori, 41, também usavam luvas para trabalhar.
— Não vejo problemas na circulação porque o atendimento é rápido e não ficam muito tempo parados em frente às bancas. Continuamos atendendo com atenção e usamos máscara, luvas e álcool gel para manter os cuidados necessários no combate ao coronavírus — destaca Michelon.
Razodori acrescenta:
— Ficamos uma semana sem realizar o Ponto de Safra e sem as feiras para adequar o funcionamento e colocar em práticas as medidas de restrição. A rotina mudou desde a preparação do produto em casa até a colocação da mercadoria na banca para vender. Estamos distantes, cerca de dois metros, e mantemos cuidados para prevenir e evitar o contágio. O movimento diminuiu, mas temos que seguir em frente, porque alimento é essencial, não pode faltar.
Consumidor mais consciente
O aposentado Djalma Martins, 75, mora no bairro Pedancino, e frequenta o Ponto de Safra da Praça Dante frequentemente.
— Preciso vir fazer as feiras e aqui tem tudo o que tenho que comprar. Tenho me cuidado e só saio de casa quando necessário. As medidas aqui me deixam seguro porque mesmo com movimento estão todos de máscara — diz ele.
Com o carrinho cheio de frutas e verduras, a esteticista Daniele Lopes, 31, conta que mudou o comportamento ao circular pela feira e escolher os produtos:
— Eu procuro tocar apenas no que vou pegar para levar para casa. Com as máscaras creio que todos estamos nos protegendo. Estou começado um negócio novo, no ramo gastronômico, de risotos. Hoje é minha estreia. Sempre gostei de cozinhar e é o momento de me reinventar porque a estética não é essencial neste momento, mas a alimentação é. Vou me dedicar a um novo ramo e buscar mais uma fonte de renda para agregar no orçamento.
A aposentada Helena Cipriani, 69, estava em busca de frutas e verduras frescas na Praça da Bandeira. De máscara e com o potinho de álcool gel, ela admite que sente medo de sair nas ruas.
— Sinto medo, mas a máscara passa uma sensação de segurança quando é preciso sair de casa. Há momentos em que todos ficam grudados e evito passar naquela banca onde há muita gente. Isso é uma coisa de cada um, de comportamento, e que todos têm de se conscientizar, e esperar um pouco para ir até a banca — diz.
O QUE DIZ A SECRETARIA DE AGRICULTURA
O secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Valmir Susin, afirma que há fiscalização e os produtores respeitam as normas, porque eles precisam trabalhar. Sobre as aglomerações ele ressalta que serão tomadas providências.
— Vamos ampliar a fiscalização e, talvez, criar uma campanha com orientações e conversar com o público para que evitem aglomerações e que circulem em horários diferentes um dos outros para não ter tanto movimento. Os produtores tem tomado os cuidados necessários para manter as feiras. Uma possibilidade é um espaçamento maior, reduzir o número de feirantes e conversar com os consumidores. Faremos isso — adianta.