O Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade de Caxias do Sul (TecnoUCS) apresentou ontem à tarde, em evento realizado no Hospital Geral, um protótipo de ventilador pulmonar que pode ser utilizado em pacientes com insuficiência respiratória causada por coronavírus. O equipamento foi desenvolvido em parceria com empresas locais e contou com o trabalho voluntário de aproximadamente 30 pessoas.
Após mais de 1,5 mil horas dedicadas ao projeto, a intenção da UCS é produzir até 300 unidades do respirador em cinco semanas, visando atender hospitais de campanha ou enfermarias extra-hospitalares em Caxias do Sul e região. Nos testes mecânicos, a máquina foi capaz de manter em funcionamento quatro pulmões artificiais. Agora, a equipe aguarda autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para dar início à testagem clínica.
— Estamos vivendo uma situação inédita, onde vemos o colapso do sistema de saúde até mesmo nas grandes potências. Por isso, nosso desafio foi o da antecipação. Optamos por fazer o que tínhamos de mais simples em termos de ventilação mecânica para que nossos bravos engenheiros pudessem desenvolver o projeto da maneira mais rápida possível. É um equipamento concebido para utilização em cenário de calamidade, em pacientes com risco iminente de morte — explicou o diretor técnico do Hospital Geral, Alexandre Avino.
O modelo desenvolvido é bastante simples, se comparado aos respiradores utilizados atualmente em hospitais, que possibilitam escolher eletronicamente uma série de modos ventilatórios. O protótipo apresentado prevê apenas um modo de ventilação e não permite colaboração muscular do paciente. Ou seja, só pode ser utilizado em casos em que a pessoa esteja sedada.
Como boa parte dos insumos é fruto de doações de empresas parceiras, os custos para a fabricação dos equipamentos não foram divulgados. Uma máquina tradicional de ventilação pode custar cerca de R$ 60 mil. Durante a fase de pesquisa, a equipe recorreu a componentes inusitados para a montagem, como válvulas de máquinas de lavar e peças de portas de ônibus. Ao longo do processo, elas foram substituídas por componentes de alta tecnologia, o que garante “máxima eficiência”, segundo Avino.
Presente no lançamento, o secretário municipal da Saúde de Caxias do Sul, Jorge Olavo Hahn Castro, agradeceu o engajamento comunitário no projeto e reafirmou sua importância num eventual cenário com falta de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs):
— Esse tipo de ventilador salvou muitas vidas no passado e agora, aprimorado, vai continuar salvando. Se tivermos uma situação de emergência, com pacientes aguardando vagas, ele vai fazer diferença, sendo um intermediário até uma solução definitiva.
Um estudo divulgado ainda em março pela prefeitura estima que o número de pacientes que precisarão de leitos de UTI devido à covid-19 em Caxias do Sul pode chegar a 345 — acima da capacidade de atendimento do município. Neste caso, os respiradores desenvolvidos pela UCS podem ser essenciais no enfrentamento da pandemia.