:: PORTUGAL
Aqui em Lisboa estamos em estado de emergência desde o dia 19 de março. Como trabalho na área do turismo, todos os meus passeios foram cancelados, como era de se esperar. Me preocupa a duração desta epidemia, pois o Portugal Afora é uma empresa nova e pode demorar a se recuperar. Desde então, lojas, shoppings, universidades, escolas, estão todos fechados. Só funcionam as farmácias, restaurantes para take-away e supermercados.
Em todos estes lugares, a entrada é controlada (não pode haver mais de uma pessoa a cada 25 metros quadrados), por isso as filas costumam ser longas. Portugal tem sido considerado por muitos países e pela imprensa internacional como um exemplo a ser seguido e até mesmo um mistério, visto que os casos de contágio estão muito abaixo das previsões. Mas isso acontece por causa do sacrifício da população que entende que para se salvar tem de ficar em casa; pela eficiência do governo em criar meios para que as pessoas não percam a renda; e também pela eficácia no controle de movimentação dos cidadãos. Por ser asmático, sou acompanhado pelo Ministério da Saúde. Diariamente a mesma médica me telefona para ver se estou bem e refiz o teste do Covid-19 no dia 9 de abril. Ainda estou esperando o resultado.
Para se ter uma ideia do rigor quanto à circulação no país, após ter o teste fiquei 20 minutos na fila para controle por parte da polícia e eles param cada carro. Depois de ser abordado e ter justificado o motivo da saída, percebi que Portugal tem motivos para ser um exemplo para o mundo: os cidadãos colaboram (claro que há os que tentam burlar as regras, mas estes são enquadrados no crime de desobediência e podem até ser presos).
Os agentes de saúde e segurança são educados e têm uma abordagem otimista de prevenção e nós nos sentimos protegidos. Mas eu digo por experiência própria: não é fácil ter seu direito de circular livremente suspenso. Estou em isolamento desde o dia 13 de março e o presidente de Portugal declarou que o Estado de Emergência deve ser prorrogado para até o dia 2 de maio. Este é um período para gente estudar, assistir filmes, entrar em contato com quem gostamos pela internet. Nossos antepassados passaram por privações maiores, então temos de fazer a nossa parte para superar essa pandemia mais rapidamente.
Emílio Caio Ferasso, 44 anos, jornalista e empresário de Caxias do Sul que mora em Lisboa.
:: ITÁLIA
Imagino que a situação aqui da Itália tenha sido mostrada em detalhes no Brasil. Infelizmente, quando vi exageros nas notícias brasileiras, eram no sentido de minimizar o perigo. Aqui em Milão estamos na sétima semana de quarentena, com apenas serviços essenciais funcionando. Só podemos sair para comprar comida, remédios ou para trabalhar (no caso de quem trabalha com serviços essenciais).
Por aqui, a epidemia começou fora de Milão, e imediatamente muitas coisas foram fechadas em toda região para evitar aglomerações. Depois de uma semana, foram veiculadas propagandas do prefeito de Milão tentando tranquilizar a população e pedindo a reabertura de restaurantes e bares. A lógica era de que os casos existentes teriam sido identificados e isolados, que eram todos fora de Milão, e que a cidade continuava segura se respeitada a distância de segurança. Após algumas semanas o número de casos explodiu, os hospitais lotaram, e o prefeito pediu desculpas publicamente.
A Itália foi um dos primeiros países a cancelar voos da China, e o governo quase sempre estava fazendo coisas que pareciam meio exageradas, mas naquela época não era claro o contágio por assintomáticos e seu alto número. Além disso, é difícil de entender que o número de casos que se vê são um retrato de vários dias atrás, porque quem se contagiou hoje vai ficar doente só daqui a vários dias. Muitos colegas ou ficaram doentes ou têm familiares infectados que acabaram precisando de UTI ou mesmo morrendo. É muito importante que as pessoas sigam as recomendações da organização mundial da saúde e permaneçam em casa o máximo possível, evitando proximidade física com pessoas queridas de idade.
Franco Valduga, 34 anos. Físico de Bento Gonçalves que mora em Milão.
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