De posse de um protocolo em que são elencados regras e procedimentos de prevenção ao coronavírus, as escolinhas infantis de Caxias do Sul querem sensibilizar a prefeitura e retomar as atividades já no início de maio para amenizar uma crise instalada. A intenção é abrir as unidades com um percentual de 25% dos alunos num primeiro momento e expandir os atendimentos conforme for permitido pelo município e de acordo com o ritmo da pandemia de coronavírus.
O grupo alerta que postos de trabalho de educadores e a sobrevivência dos empreendimentos estão em risco se houver prorrogação do recesso das instituições privadas. Convém lembrar que há um movimento de pais contrário à reabertura de escolas em Caxias.
O protocolo será submetido a uma avaliação da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), segundo Christiane Welter Pereira, presidente do Sindicato das Instituições-Pré Escolares Particulares (Sinpré) de Caxias do Sul. A confecção do documento envolveu os donos de escolinhas e uma fisioterapeuta, além de avaliações externas de médicos e enfermeiros.
— Pensamos no cuidado para com educadores e crianças. Com hora de chegada e saída dos pais, mas sem acesso ao interior da escola, com uma só pessoa da família responsável por levar e buscar o aluno, com procedimentos de higienização e limpeza. Mas não é definitivo, pois surgem novas orientações a todo momento. Vamos levar para a Saúde analisar o protocolo, para ver se é viável, se é preciso alterar... — ressalta Christiane.
O setor alega que as demissões, no momento, são pequenas, sem impacto. Contudo, uma estimativa aponta que 20% das matrículas já teriam sido canceladas pelos pais que não concordam em manter o pagamento das mensalidades por um serviço que está sendo prestado a distância. Como o universo do setor privado tem cerca de 8.750 crianças, seriam em torno de 1,8 mil matrículas extintas.
Esse movimento envolveria principalmente as famílias com filhos de zero a três anos, faixa etária em que a frequência escolar não é obrigatória. Se o Estado mantiver o recesso escolar para além de maio, o temor é de mais cancelamentos e um consequente rombo nas finanças das escolas, o que levaria ao aumento de demissões e até mesmo encerramento de atividades. O decreto estadual tem validade até 30 de abril e a manutenção ou não suspensão das aulas nas redes pública e privada deve ser definida na próxima semana.
ARGUMENTOS VARIADOS
Essa não é a primeira tentativa de reabrir as escolinhas particulares em Caxias do Sul. Dias atrás, o setor já apresentou uma primeira versão das regras que condicionariam o atendimento às crianças. Desta vez, o Sinpré considera que está com um protocolo mais objetivo e transparente. Uma carta pedindo a reabertura dos serviços já foi enviada para as autoridades do município, deputados estaduais e para o Gabinete da Casa Civil do governo gaúcho.
Como argumento central em defesa da segurança sanitária, o sindicato reafirma que as escolinhas infantis não têm a mesma aglomeração das escolas dos ensinos Fundamental e Médio. Na Educação Infantil, a ocupação varia de 40 a 80 crianças por estabelecimento, enquanto que as escolas de níveis de ensino acima agregam 10 vezes mais alunos.
Na pandemia da gripe H1N1, Christiane lembra que já haviam sido adotadas medidas de segurança, como o uso de álcool gel, protocolos de limpeza e desinfecção nas escolinhas. Agora, as propostas incluem medidas mais amplas e rígidas em relação ao coronavírus.
— A China iniciou a retomada de aulas, queremos entender o modelo deles para realizar algo aqui — adianta a presidente do Sinpré.
Os donos também fazem uma reflexão sobre a falta de um olhar sobre o cotidiano das crianças. Segundo Christiane, muito se falou na volta ao trabalho dos pais, mas esqueceu-se das necessidades dos filhos. Para ela, é preciso ponderar sobre a rotina cansativa de permanecer em casa, de não ter contato com colegas de aula e da ruptura do convívio escolar.
— É ótimo ficar com os pais. Mas entendemos que, com os pais trabalhando, as crianças estão mudando de lugar a toda hora. Podem estar hoje com a avó, amanhã com a tia e assim por diante. Está mais propensa ao contágio do que se estivesse apenas na escola — alerta a líder do sindicato patronal.
TAMANHO DO SETOR
:: Caxias do Sul tem cerca de 18,5 mil crianças matriculadas em escolas infantis públicas e privadas. Desse total, em torno de 8.750 frequentam 187 estabelecimentos privados por meio de contratos particulares e convênios com a prefeitura.
:: O restante dos alunos está distribuído em outras 45 escolinhas infantis de gestão compartilhada entre a prefeitura e entidades. Há também turmas de pré-escola (alunos de 4 a 5 anos) em 60 escolas municipais de Ensino Fundamental.
:: O apelo do Sinpré é pela reabertura das escolas privadas — nem todos os estabelecimentos são associados ao sindicato. Essas 187 escolas privadas regulares empregam cerca de 1.490 profissionais de forma direta e outros 668 terceirizados.
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