Os relatos e as análises que se fazem sobre os números da covid-19 mostram que ela não tem um grupo de risco bem definido. Não passa apenas como um leve resfriado para quem não é idoso ou tem doenças crônicas, varia de acordo com cada organismo. Máira Lermen de Almeida mantém uma vida ativa, boa alimentação, mas sua convivência com o sars-cov-2 não foi tão simples. Mesmo ao final do período de isolamento, que se encerra neste fim de semana, ainda existe um pouco de cansaço e falta de ar.
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A biomédica caxiense mora em Londres há quatro anos e desde 20 de março vem convivendo com dias complicados em decorrência do coronavírus. Sequer o fato de andar com máscara e até um tubo de álcool gel na bolsa conseguiram afastá-la da enfermidade. Uma transmissão comunitária, quando não é possível detectar o contágio, a colocou em isolamento obrigatório. As suspeitas de onde pode ter contraído o vírus são várias, mas o mal-estar é um só.
— Os primeiros quatro dias foram os piores. Tive febre alta, dor nos músculos do globo ocular, mal podia mexer os olhos, dor forte nas articulações, tosse. Quando eu tossia parecia que a cabeça ia explodir — conta Máira.
A caxiense não teve um estado mais crítico que precisasse de internação. Cumpre apenas o tratamento e isolamento obrigatório em casa.
— Por ser uma virose, não tem tratamento. Então, assim que você faz o exame e o resultado dá positivo, a instrução é para se isolar totalmente em casa. Só tomar paracetamol, para baixar a febre, muita água e descansar. Até porque tu não consegues sair da cama mesmo — relata.
Para casos que se agravam, principalmente se a falta de ar durar mais de três dias, o sistema público de saúde inglês disponibilizou um telefone específico e que ativa as ambulâncias.
Os sintomas estão amenizando no caso de Máira, após os 14 dias. Mas a realidade que tem fora de casa é absurda. A biomédica trabalha no Departamento Patológico Celular do NHS e está acostumada com uma megalópole intensa. Com as ruas cheias. Entretanto, a pandemia mudou completamente esse cenário. Desde o dia 23, o lockdown iniciou na capital inglesa, primeiro fechando os pubs e restaurantes, e depois os shoppings e os parques. Ficaram apenas os serviços essenciais.
— Nunca pensei que fosse viver para ver isso. Uma cidade como Londres, com 8,9 milhões de pessoas, em um lockdown absoluto. É surreal — comenta.
Um dos pontos que mais chama atenção na Inglaterra é a forma como o governo vem lidando com a situação econômica. Ele está pagando os salários das pessoas que estão em quarentena e até empréstimos sem juros são oferecidos. Formas para assistir à população e reduzir os danos para a economia. Além disso, as pessoas estão realmente unidas, mesmo que trancadas nas suas residências, para achatar a curva.
— Eu aprendi que não sou imortal também. Deu um medinho – finaliza Máira.