:: ITÁLIA
Moro com o meu marido em Florença, na Toscana. Soube da infestação por Covid-19 desde janeiro, quando ainda se restringia à China e outros países asiáticos, e assim como tantos outros, acreditei que se tratava de uma epidemia muito grande, porém controlável. Em momento nenhum a subestimamos, mas as coisas aqui aconteceram muito rápido e, diante do então pouco conhecimento de dados, alguns dias de diferença de ação chinesa foi o suficiente para que as coisas tomassem essa proporção. Nós aqui em casa somos artistas 3D freelancers, estamos habituados com esse formato de trabalho. Não trabalhamos diretamente com a Itália, mas alguns outros países.
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Nossa "rotina externa" de quarentena é basicamente um membro por família, com máscaras e luvas, deslocar-se 200 metros ao supermercado uma vez por semana, e fazer a saída sanitária da nossa cadela em torno do edifício, sempre portando junto uma auto declaração de justificativa para a monitoração policial que acontece diariamente. Quando vivemos uma realidade assim coletiva, precisamos ser pacientes e confiantes pois, além da tragédia sanitária em si, absolutamente todas as pessoas estão afetadas economicamente, sem a menor ideia de como será o futuro próximo.
Nós, brasileiros, temos uma ligação muito forte com a liberdade de deslocamento, os ritos de lazer e confraternização, mas nesse momento precisamos ficar reclusos, ter paciência e entender isso como uma situação extraordinária, em que livros, filmes, jogos, exercícios, conversas de diversos temas podem nos ajudar a passar por algo que nunca passamos, inclusive a própria velocidade com que executamos nossas tarefas pode mudar, desacelerar os ritmos ajuda a manter a tranquilidade. A quarentena não é fácil, há dias muito difíceis, mas é indispensável e, quanto antes a fizermos, antes todos nós iremos recomeçar nossas vidas.
Marina Bassanesi Bianchi, 32 anos, arquiteta de Caxias do Sul que mora em Florença
:: IRLANDA
Acho incrível a forma como o governo daqui está tomando providências de prevenção e levando a sério o problema desde o início. Isso é o que todos deveriam fazer, pensar na prevenção e não na reação depois que o problema toma grandes proporções, evitando acontecer o que aconteceu na Itália, por exemplo. No dia 13 de março o Primeiro Ministro deu a declaração de que as escolas, creches e lugares públicos aglomerando mais de 100 pessoas ao mesmo tempo deveriam fechar até o dia 29. Todas as casas e arenas de shows fecharam e os eventos foram cancelados/adiados. Isso caiu bem no meio do maior evento da Irlanda, o St. Patricks Day, que também teve a sua parada cancelada.
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Os pubs também foram fechados. Na terça-feira (24), o primeiro ministro anunciou que a quarentena segue oficialmente pelo menos até o dia 19 de abril. As restrições dessa vez foram ainda maiores: todos os comércios "não essenciais" devem fechar, com exceção de hospitais, mercados, farmácias e restaurantes (que só podem funcionar no sistema de delivery). Todo mundo que pode trabalhar de casa está trabalhando, que é o meu caso. A situação é complicada para quem trabalha com serviços (restaurantes, pubs, limpeza, cafés). O sistema mais comum de pagamento para trabalho como esse, aqui na Irlanda, é por hora. Se os lugares fecham, não tem horas, não tem salário. O suporte do governo está sendo admirável, desde o primeiro anúncio eles já haviam colocado à disposição um pagamento semanal para quem ficasse sem trabalho.
Agora, com a extensão da quarentena, eles aumentaram esse valor semanal de 203 para 350 euros. Há três semanas, estávamos com cerca de 70 casos na Irlanda, hoje (29 de março) contabilizam mais de 2,6 mil. Pacientes com planos de saúde privado ou usando os serviços públicos estão sendo tratados igualmente conforme decisão do governo, nesse momento não há diferenças entre público e privado. É uma situação triste e inédita, mas pelo menos aqui na Irlanda a maneira como o governo e a população estão lidando com isso é séria e responsável, e com certeza salvará muitas vidas.
Adriane Amantino, 33 anos, jornalista de Caxias do Sul que mora em Dublin.