:: AUSTRÁLIA
Tenho a impressão que o assunto "coronavírus" chegou aqui na Austrália antes da Europa e das Américas. A Austrália depende economicamente da China, a maioria dos estudantes internacionais universitários e de pós graduação vem de lá. A partir dos primeiros casos em Wuhan, o governo australiano barrou a entrada dos estudantes chineses, acreditando que ficaríamos ilesos aqui na ilha, porém a medida não foi suficiente e os casos começaram a aparecer muito devagar.
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Até semana passada, nós falávamos sobre o vírus aqui, mas a vida seguia normal. Numa viagem programada há bastante tempo, estávamos no Japão quando os números no Brasil e nos Estados Unidos começaram a aumentar. Partirmos sem muitas preocupações já que a sensação aqui era de segurança. Em Tóquio mais de 60% da população usa máscara nas ruas, e quase todo mundo usa máscara nos transportes públicos. Acredito que isso também pode ter ajudado na contenção do vírus por lá, já que foi um dos primeiros países atingidos depois da China e os números de casos estão relativamente baixos comparados ao aumento nos demais países.
Nossa viagem seguiu para Kyoto com tensão. A possibilidade de fechar as fronteiras e aeroportos da Austrália estava aumentando e a companhia aérea não permitia que remarcássemos o vôo para voltarmos para casa antes. Ver nossos amigos e familiares no Brasil e a situação se agravando por aí é uma sensação muito ruim. Me senti absurdamente culpada por estar viajando. Eu só queria ir pra casa e fazer a quarentena.
No dia 19 de março, o primeiro ministro anunciou o fechamentos dos aeroportos para não cidadãos e nosso pior pesado se tornou realidade. Estávamos no meio de uma floresta no Monte Fuji, compramos vôos de última hora por um preço alto e corremos como nunca antes para dar tempo de embarcar em Osaka para Brisbane. Se não desse tempo, a possibilidade de ficarmos presos no Japão por tempo indeterminado era grande.
Uma das piores sensações foi não saber se eu poderia ter contraído o vírus ou não, se eu estava passando para outras pessoas ou não em meio a trens e aeroportos. Usei máscara o tempo todo e gastamos todo o álcool em gel que tínhamos. Tenho certeza, que assim como eu, nessa última semana, tudo o que os viajantes e mochileiros queriam, era estar em casa.
Desde sábado (21), as fronteiras da Austrália estão praticamente fechadas e pouquíssimos vôos ainda entram ou saem do país. Nossa quarentena começou com amigos nos trazendo comida do supermercado e, pela saúde de todos ficaremos por duas semanas em casa. Não temos sintomas. Na contramão, no sábado as praias de Sydney ainda estavam lotadas e as aulas ainda não foram canceladas...
Vitória Lovat, 27 anos, jornalista de Farroupilha que mora na Austrália.