Um anúncio feito durante esta semana pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que os princípios ativos hidroxicloroquina e cloroquina seriam eficazes para o tratamento do coronavírus provocou uma corrida desenfreada às farmácias de todo o Brasil. Em Caxias do Sul, não foi diferente. Na Farmácia Central, um lote de 50 caixas com 30 comprimidos cada, comprado na manhã de quinta-feira (19), não chegou a esquentar as prateleiras da loja.
— À tarde, já não tínhamos mais nada. E as pessoas levavam duas, três caixas de uma vez. Geralmente, ele não tem muita saída por ser bastante específico. Por isso, não mantínhamos muito estoque. Hoje (sexta-feira, 20), a cada cinco minutos ligava um cliente pedindo se ainda tínhamos _ salienta a responsável pela parte de telentrega da farmácia, Ananda Silveira.
Conhecido pelos nomes comerciais Reuquinol ou Plaquinol, os princípios têm, de fato, se mostrado promissores para o combate ao vírus, conforme estudos feitos em vários países. Trump, inclusive, pediu pressa nos testes à Food and Drugs Administration (FDA), agência norte-americana responsável pela aprovação de medicamentos no país. No entanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu dois alertas durante a semana. O primeiro avisa sobre os perigos da automedicação e que não há "estudos conclusivos que comprovem a utilização do medicamento". A segunda, no final da tarde de sexta (20), enquadrando os medicamentos à base de hidroxicloroquina e a cloroquina como controlados, já que até então, eles podiam ser comercializados sem receita médica.
A medida é para evitar que os pacientes que realmente precisam do medicamento, indicado para malária, lúpus e artrite reumatoide, fiquem sem o tratamento adequado pelo provável desabastecimento. A partir de agora, segundo a Anvisa, "o medicamento só poderá ser entregue mediante receita branca especial em duas vias. Médicos que fazem a prescrição de hidroxicloroquina ou cloroquina já devem começar a utilizar este formato" e que "a venda irregular pelas farmácias é considerada infração grave".
— Depois que ficamos sem, até tentamos comprar mais, mas ele realmente foi bloqueado pelo laboratório para a venda às farmácias — explica Ananda.
De fato, um comunicado distribuído às farmácias e drogarias pelo laboratório Apsen, fabricante do Reuquinol, frisa que a distribuição está vetada. Conforme nota distribuída pela rede de farmácias Panvel, "o estoque de medicamentos com o princípio ativo Hidroxicloroquina está reservado exclusivamente para atendimento da rede hospitalar".
O que se sabe, por enquanto, é que o medicamento se mostrou anteriormente eficaz contra a Sars, doença respiratória aguda que também surgiu na China, em 2002. Nos testes feitos para o coronavírus até agora, a hidroxicloroquina se mostrou eficiente usando-se uma combinação com o antiviral remdesivir (utilizado para tratar a ebola).