A contribuição da professora e pesquisadora caxiense Vitalina Maria Frosi à preservação da cultura da Imigração Italiana no Brasil foi o motivo de uma homenagem a ela oferecida em Belluno, na província vêneta italiana. O reconhecimento intitulado "Bellunesi che hanno onorato la provincia di Belluno in Italia e nel mondo" (Beluneses que honraram a província de Belluno na Itália e no mundo) foi entregue durante uma cerimônia no dia 14 de dezembro de 2019, sendo a comunidade de Padavena promotora da candidatura de Vitalina ao prêmio, com indicações de nomes como Salvatore Liotta (autor do livro Il Viaggio di Anna Rech) e Tiziano Dal Pont (autor do livro Torna Presto).
O evento é promovido anualmente pela província de Belluno, em parceria com o Rotary, a Associazione Bellunesi Nel Mondo e a comuna Chies d'Alpago.
Aos 82 anos, com uma vida mais caseira e tranquila, a homenageada colhe frutos do árduo trabalho de levantamento iniciado na década de 1970 em 84 distritos da região. A primeira pesquisa acadêmica feita na Universidade de Caxias do Sul resultou na publicação "Dialetos Italianos", de 1983, obra de 525 páginas assinada em parceria com Ciro Mioranza.
— Ficou o registro, inclusive da pronúncia, pois fizemos uma transcrição fonética. Foi por meio dessa pesquisa que comecei a participar de congressos na Itália que, muitas vezes, ocorriam sob organização da Universidade de Pádova. Esses congressos eram sempre na área de dialetologia. Formei um capital de estudiosos muito grande, que sempre me levaram a sério — relata.
O livro que mapeia os dialetos praticamente extintos no Brasil — sobretudo após a campanha de nacionalização iniciada no final da década de 1930 — foi o pontapé inicial para uma vida dedicada aos estudos na área de linguagem, associados à carreira de professora por ela construída. Além de atuar em escolas da rede estadual de Caxias do Sul, Vitalina também lecionou nos cursos de graduação, mestrado e doutorado da universidade local, que ela considera uma segunda casa.
Além do livro sobre os dialetos, ela também foi autora de pelo menos outros seis livros referentes à cultura trazida pelos imigrantes, como o "Provérbios Italianos: pérolas na educação informal dos ítalo-brasileiros", de 2015.
A homenagem, que foi a terceira recebida por ela na Itália, de certa forma, evidenciou mais uma vez a ligação entre os italianos que ficaram e os descendentes daqueles que vieram ao Brasil há 145 anos, em sua maioria fugindo da pobreza. O reconhecimento também foi, para Vitalina, um reflexo da valorização aos estudiosos que ela sempre percebeu por parte dos italianos.
Ela conta que, antes do evento, passou em um cemitério de Milão em busca pessoas que tivessem o mesmo sobrenome de seu avô materno, emigrante daquela região.
— Encontrei pouquíssimos com o sobrenome de meu avô, mas encontrei naqueles túmulos todos os sobrenomes dos milaneses que vieram para cá e formaram Nova Milano. É algo que emociona, nossas raízes estão lá. Temos o direito de saber sobre nosso passado e devemos aproveitar o legado deixado por nossos antepassados. Muita coisa foi preservada, mas muito também se perdeu e pode se perder ainda mais daqui 50, 100 anos, se não for registrado.