Próximo de completar o centenário, o Parque Cinquentenário, entregue à população caxiense na véspera do Natal de 1925, ainda busca se livrar da pecha que o persegue há, no mínimo, 70 anos: a insegurança. Mesmo que o parque, localizado na entrada de Caxias do Sul, seja um dos espaços públicos mais bem conservados da cidade, ainda existe resistência da comunidade em frequentá-lo.
— Ao anoitecer não é essa tranquilidade que a gente está vendo aqui — relata o metalúrgico Denilson Ramos, 49 anos, que vai ao parque quase todos os dias nos últimos 10 anos para manter acesa a chama de uma de suas paixões: a bocha.
Mesmo contando com um posto da Brigada Militar (BM) e rondas preventivas da Guarda Municipal, a violência ainda assusta e condena o Parque Cinquentenário, principalmente à noite. Bem diferente da serenidade vista durante o dia. Na tarde de terça-feira, por exemplo, as pessoas circulavam tranquilamente pelo local e muitas crianças utilizavam os parques, que estão em bom estado de conservação.
— Eu gosto de vir aqui. É um parque bom, que tem bastante árvores. E não tem tanta gente — descreve Taís Rodrigues de Azevedo, que se divertia com o filho Luiz Henrique, cinco, e a sobrinha Emilly, nove, em um dos parquinhos.
O maior movimento do Cinquentenário ocorre mesmo nos finais de tarde, quando as pessoas o utilizam para caminhadas. Antes disso, o ponto de encontro é mesmo na cancha de bocha.
— Não almoçou hoje? — brincava um dos jogadores, ao cornetear o arremesso curto do companheiro.
— Ah, mas por favor! Assim não dá! — reclamava outro, com os erros do parceiro de time.
Alheios a qualquer indício de violência, a não ser pelas discussões acaloradas de um dos típicos jogos da região, um grupo de cerca de 40 pessoas mantém um clube de bocha no Cinquentenário por conta própria, com contribuições mensais dos "sócios".
— Tem regras, estatuto, tudo certinho — explica Ramos, um dos integrantes da turma. — Mas não ficamos até muito tarde, não. Tem muita "máfia" aqui de noite. Tu sabes, né? — complementa.
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A "máfia" a que Ramos se refere é a que dá má fama ao Cinquentenário. Se durante o dia as pessoas elogiam a estrutura, repleta de frondosas árvores, vegetação variada e esculturas das mais diversas, à noite os relatos são de assaltos, consumo e tráfico de drogas, prostituição e abrigo para moradores de rua. Nos fundos, na descida de uma escada que dá acesso à Avenida Júlio de Castilhos, próximo a um ponto de táxi, há lixo acumulado, roupas e restos de comida no chão e embalagens de preservativos.
— Me senti muito mal. Acho que precisa de bastante atenção, principalmente na parte dos fundos porque é um parque tranquilo, bonito. Mas a limpeza e a manutenção deixam a desejar — destaca Adão Jorge da Rocha, 71, que costuma fazer caminhadas diárias pelo local.
Veja uma galeria de fotos do Parque Cinquentenário:
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) promete fazer um pente fino nos parques de Caxias do Sul e fazer um levantamento do que cada um deles necessita. Conforme o secretário interino Adivandro Rech, a partir deste diagnóstico é que serão tomadas as medidas necessárias para as melhorias dos locais.
— Para se ter uma ideia, a última licitação de lixeiras foi feita ainda no governo Alceu (Barbosa Velho, que deixou o cargo em 2016). Então, estamos passando de local em local para fazer esse levantamento de tudo. Os parques precisam ficar abertos e precisamos trazer as pessoas de volta a eles. Se conseguirmos isso, a segurança virá naturalmente — destaca Rech.
O Cinquentenário quer acabar de vez com a má fama que o persegue. De preferência, antes do centenário.