Basta observar alguns minutos para constatar que, mesmo com novo acesso, os motoristas seguem se arriscando na travessia da RS-122 para entrar no bairro Forqueta, em Caxias do Sul. Enquanto isso, a alça de acesso construída em frente ao posto do Grupo Rodoviário da Brigada Militar, em Farroupilha, para dar mais segurança aos condutores que precisam entrar no bairro praticamente não é usada.
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Foram anos de reivindicações da comunidade, inúmeros acidentes e longas filas de congestionamento até que em julho de 2018 o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) deu início à obra que custou R$ 600 mil. O trabalho não está 100% concluído, faltam limpeza dos canteiros e colocação de terra, mas nada que interfira na utilização, já que a pavimentação, meios-fios e sinalização foram terminados. Os retornos estão funcionando há pouco mais de dois meses, mas o que se vê é a velha fila de veículos no antigo acesso e nenhum no novo.
O Pioneiro fez um teste na tarde desta quinta-feira. A reportagem contou o número de veículos no mesmo intervalo de tempo (das 14h25min às 14h35min) simultaneamente nos dois locais. O resultado foi que 47 veículos utilizaram o recuo no canteiro central da rodovia no sentido Caxias-Farroupilha para acessar o bairro, enquanto apenas um usou a nova alça de acesso distante 650 metros à frente. Ou seja, os condutores preferem se arriscar na travessia perigosa com fluxo constante no sentido contrário do que andar 1,3 quilômetro para chegar à Avenida Artur Perotoni principal entrada de Forqueta.
Questionada sobre o motivo pelo qual o canteiro central não foi fechado, a Secretaria de Logística e Transportes do Estado, informou, por meio da assessoria de imprensa, que "o novo desvio está funcionando conforme o esperado e está se avaliando a necessidade de possível fechamento do acesso antigo".
Enquanto o atual presidente da Associação de Moradores do Bairro (Amob) Forqueta, Calixto Felizari, é a favor da manutenção de ambos os acessos, o antigo representante, Dagoberto Júnior, que acompanhou o processo de construção da alça é a favor do fechamento do canteiro. Para Felizari, duas medidas seriam ideais: a manutenção no pavimento da entrada antiga e que os veículos que acessam a rodovia vindos de Mato Perso fossem direcionados para a alça, ou sejam não pudessem acessar o recuo na entrada do bairro, já que essa sim, segundo ele, é uma manobra arriscada. Já Júnior utiliza o argumento da segurança para apoiar o fechamento do canteiro central.
O diretor de Operação Rodoviária do Daer, Sandro Wagner, ressalta a importância de utilizar a nova construção:
– O melhor seria fechar o acesso à Forqueta (canteiro central). É uma questão de segurança.
Linha de ônibus urbano também usa antigo acesso
Um dos pontos curiosos que envolvem a discussão sobre a não utilização da nova alça de acesso ao bairro Forqueta é que o próprio serviço público de transporte permanece usando o antigo acesso. A justificativa da prefeitura de Caxias, que é quem determina possíveis mudanças nos itinerários dos ônibus urbanos, é que para chegar à nova alça, os coletivos que fazem o trajeto do Centro até Forqueta teriam que entrar no município vizinho, Farroupilha.
– O contrato de concessão do transporte coletivo urbano prevê que o serviço seja realizado apenas dentro dos limites territoriais do município de Caxias do Sul. O novo local de acesso ao bairro está localizado no limite entre Caxias e Farroupilha e há insegurança jurídica se a alteração no itinerário não poderá ocasionar ônus ao poder público – disse o secretário de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Cristiano de Abreu Soares.
A Secretaria diz que não recebeu nenhuma demanda da comunidade, seja por meio de processo administrativo ou outro documento formal, de pedido para alteração no ponto de acesso ao bairro. Mas que avaliará com a Procuradoria-Geral do Município (PGM) se há outro entendimento legal que permita autorizar que os ônibus utilizem o novo acesso.
Sobre isso, o diretor de Operação Rodoviária do Daer, Sandro Wagner, diz que é uma questão de diálogo entre os municípios.
Lideranças devem voltar ao assunto no ano que vem
Uma das representações locais na Assembleia Legislativa, a deputada Fran Somensi, do Republicanos, acredita que é preciso promover uma discussão entre os moradores e os responsáveis técnicos para tratar da questão.
– Seria interessante marcarmos uma audiência com a população e chamar os responsáveis pelo projeto. Porque a ideia era contemplar a população que, pelo jeito, não abraçou essa construção (da alça). Foi difícil o investimento, foi difícil a construção para agora não usar... – ponderou a parlamentar.
O deputado Neri Andrade Pereira Júnior (Neri, o Carteiro) do Solidariedade, demonstrou tristeza pela não utilização da alça de acesso, considerando o volume de recurso público investido, mas não surpresa. Segundo ele, a reivindicação dos moradores era por um alargamento de pista e modificação no ponto atual de entrada do bairro e não em frente ao posto policial. Além disso, Neri refere que chegou a ele a informação de que uma carreta não conseguiria fazer o retorno no novo local. Ele é contra o fechamento do canteiro.
– O que está acontecendo é o que os moradores já colocavam (antes do início da obra), que as pessoas não iriam usar essa alça de acesso. E o que percebemos é que a comunidade continua usando a mesma entrada, continua aquele congestionamento, a roleta russa nos horários de pico. Teria que ter sido feito estudo e projeto diferente. Pedimos ao Daer, mas nos disseram que tecnicamente era inviável – comentou o deputado, citando como exemplo o formato de acesso ao bairro Desvio Rizzo e dizendo que deve retomar a questão no ano que vem.