No momento em que autoridades e especialistas discutem no âmbito mundial acordos para garantir a redução de danos ao ambiente, o Litoral Norte gaúcho tem motivos para se orgulhar. Em Torres, a Área de Proteção Ambiental (APA) da Lagoa de Itapeva completou duas décadas mantendo fauna e flora conservadas. Apesar de estar localizada à leste da reserva, a Lagoa de Itapeva, propriamente, não faz parte da unidade de conservação (leia mais abaixo), mas configura importante reduto de biodiversidade.
Conhecida por ter as mais belas praias do litoral do Rio Grande do Sul, Torres também é responsável por manter preservada há duas décadas uma área que reúne, basicamente, três ambientes: dunas que podem chegar a 30 metros de altura em relação ao nível domar, banhados e fragmentos de Mata Paludosa (característica por solo encharcado, rica em matéria orgânica) e uma parte baixa que alterna períodos de cobertura pela água da lagoa.
A administração é feita pela Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo. O biólogo da secretaria, Rivaldo Raimundo da Silva, explica que o mar, que antigamente encobria o local, recuou e a natureza passou a formar os diferentes cenários. Mas a área só se tornou de proteção por determinação de lei municipal em dezembro de 1999. Ela surgiu como medida compensatória à instalação do aeroporto regional do município cuja pista está distante cerca de 400 metros e posicionada em paralelo à parte da unidade.
Segundo Rivaldo, que é também gestor da APA, a área apresenta uma vegetação com espécies nativas da Mata Atlântica e com biodiversidade significativa, incluindo espécies protegidas, com destaque para as bromélias, na vegetação, e para o tuco-tuco, entre os animais, um mamífero ameaçado de extinção semelhante ao castor:
— Isso, por si só, já é o suficiente para justificar a preservação desse ambiente. A área ajuda no microclima, dá qualidade de vida, do ar, tudo isso são fatores de importância para se cuidar de áreas como esta.
Para quem segue no sentido Arroio do Sal-Torres, a APA fica à esquerda da Estrada do Mar e à direita da rodovia está o Parque Estadual de Itapeva, mantido pelo governo do Estado. Além de estar entre os dois biomas, a APA também está no corredor ecológico entre as unidades de conservação dos Campos de Cima da Serra e o Parque Estadual, servindo como uma espécie de ponte para animais migratórios, que conecta a Lagoa de Itapeva e a Lagoa do Jacaré. Mais de cem espécies de aves foram registradas na APA. As informações sobre anfíbios e répteis precisam ser atualizadas, conforme Silva, porque são da época da criação da APA.
Uma das preocupações dos ambientalistas é com a caça predatória de capivaras por pessoas que acessam a lagoa a partir da BR-101 e de barco vão até a outra margem, na APA. E o descarte de lixo, que é eventual e em pequena quantidade. Lembrando que o local não é aberto à visitação.
Preservação e atividades rurais controladas coexistem no local
Com quase 437 hectares, a APA fica na zona rural de Torres, o que colabora para a conservação já que restringe os tipos de uso. Não é permitida a construção de loteamentos —habitação somente rural — nem mineração ou outras atividades impactantes ao ambiente, por exemplo.
Mas a unidade fica nos fundos de diversos terrenos particulares. Nenhuma parte dela é pública. Nesse caso, os moradores tema propriedade, mas o município é responsável pela gestão.
Então, os proprietários têm de seguir um plano de manejo, que estabelece o que pode ou não ser feito no local. Agropecuária de subsistência e atividades rurais específicas podem ser desenvolvidas mesmo dentro da APA porque ela é uma unidade de conservação de uso sustentável. Algumas opções são a criação de abelhas e plantio do palmito, atividades que são incentivadas. Os terrenos também podem ser cedidos para plantio de árvores como medida de compensação. A utilização é diferente das unidades de proteção integral, onde só é permitida pesquisa e atividades bem específicas.
— A criação da unidade não inviabiliza a atividade econômica rural, ao mesmo tempo, contribui no processo de preservação da área — declarou o biólogo, apontando que uma das necessidades é a demarcação da unidade, que deve ser feita após levantamento topográfico.