Há 40 anos, Clarismundo da Silva Ricardo, 70 anos, mais conhecido como Careca, e a esposa Alci Policarpo Ricardo, 64, veem o amanhecer e o entardecer na beira da Lagoa de Itapeva em Três Cachoeiras. A casa em que eles moram fica a menos de 100 metros da água,caminho que o aposentado costuma fazer com frequência quase diária nos últimos tempos para ir pescar. E foi assim,voltando de uma pescaria que a reportagem o encontrou quando foi a cidade no final de novembro.
— Hoje estou vivendo da aposentadoria e pescando um peixinho na lagoa, tenho um barquinho... e vou ficar o restinho da minha história por aqui — diz.
Nessa época do ano, apenas a pesca de linha é permitida na lagoa, como faz seu Careca e um ajudante para pegar carás, espécie comum em água doce. Nos períodos em que é possível usar rede, a pesca fica mais diversificada com traíras, bagres e tainhas, entre outros. Com 31,5 quilômetros de extensão, a lagoa faz margem com seis cidades do Estado — Terra de Areia, Três Forquilhas, Três Cachoeiras, Dom Pedro de Alcântara, Torres e Arroio do Sal— e é outro recanto de biodiversidade em solo gaúcho.
De acordo como biólogo da Secretaria de Meio Ambiente de Torres, Rivaldo Raimundo da Silva, a cada município cabe a preservação da porção que corresponde ao seu território geográfico. Em Torres, é da lagoa que é captada a água para o abastecimento da cidade.
— Mais um motivo da preservação da lagoa e da vegetação que a margeia para reduzir a poluição da água que serve (após tratamento) para o consumo da população — ressaltou o biólogo.
No pátio, com a lagoa ao fundo, seu Careca falou sobre o sossego de viver no lugar. Tanto que a movimentação que chamou a atenção da família recentemente foi a de um macaco que apareceu por lá para comer bananas dos cachos que estavam pendurados na cerca. As capivaras também são visitantes frequentes no local. Além da presença de animais, para o aposentado, o contato com a natureza proporciona "um mais puro".
— Pode ser que a gente dure uns quatro ou cinco anos mais do que se morasse na cidade —brinca.
Dona Alci disse que cresceu na margem da BR-101, em outro ponto. Daí, veio morar na beira da lagoa com o marido quatro décadas atrás.
— Aqui é um paraíso — resume.
No dia seguinte em que conheceu a reportagem, seu Careca levou a equipe do Pioneiro para uma volta de barco pela lagoa. A exuberância do lugar já pode ser vista quando se avança pelo Rio Cardoso, curso d'água usado como acesso à lagoa.
No percurso, revoadas de pássaros, plantas aquáticas e alguns animais que utilizam o rio para matar a cede e se refrescar. Ao chegar no ponto em que as águas do rio e da lagoa se encontram, o vento forte daquele dia formava ondas que jogavam água para dentro do barco e isso fez com que a jornada se encerrasse mais cedo do que o esperado. Mesmo assim, a imensidão de água e tudo que a cerca formam um cenário belíssimo, aqueles presentes da natureza que estão ao alcance dos olhos.