Dois rompimentos em sequência de uma lagoa artificial às margens da ERS-452, em Nova Palmira, zona rural de Caxias do Sul, deixaram prejuízo e colocaram a vizinhança em polvorosa. O local existe há mais de 10 anos e retém a água que escorre do Cerro da Glória em dias de chuva e de afluentes. Nesta terça-feira (22), a água atingiu pela segunda vez um hotel-fazenda da região.
O problema, segundo moradores e a Defesa Civil de Caxias, é que os bueiros de escoamento, que levariam o líquido para o Rio Caí, estão entupidos. Com isso, a água fica represada, faz pressão contra a terra e escorre de uma só vez por baixo da rodovia. No caminho, atinge áreas particulares, principalmente as benfeitorias de um hotel-fazenda.
A lagoa artificial está num nível abaixo da rodovia, no lado direito da pista, na altura do km 26, sentido Vila Cristina-Vale Real. Em tese, por estar parte na faixa de domínio da estrada, o local seria de responsabilidade do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), algo que a autarquia não reconhece.
Esse é o segundo rompimento em menos de 15 dias — o último antes desse período havia ocorrido há cerca de cinco anos. O primeiro vazamento neste mês foi registrado no início da madrugada de 11 de outubro. A onda com lama e pedra atingiu um açude do hotel-fazenda e matou dezenas de peixes. O administrador do hotel, Luiz Bonatto, alertou o Ministério Público (MP) no dia seguinte.
Veja vídeo do rompimento de lagoa:
Uma equipe da Defesa Civil vistoriou a área e reforçou o alerta ao Daer. Nesta segunda-feira, por volta das 13h30min, a lagoa rompeu novamente. Além dos peixes mortos, Bonatto diz que a água levou embora parte de um muro de contenção no estacionamento. Há também forte erosão no terreno que circunda a lagoa, ampliando a possibilidade mais desmoronamentos.
A promotora de Justiça Janaína de Carli dos Santos, que acompanha o caso, solicitou uma providência urgente do Daer.
— Oficiamos pedindo uma vistoria para esclarecer se essa barragem é propriedade do Daer.
Conforme Bonatto, a autarquia não realizou nenhuma intervenção e a água acumulou novamente em função da chuva da semana passada — o Daer garante que esteve no local.
— O que precisa é limpar os bueiros com máquina. A terra vem com água e entope os canos. Daí não tem o que fazer. Isso tem nos deixado preocupados, cansados. Perdemos mil quilos de peixe do pesque-pague — lamenta Bonatto.
Risco de afogamentos
Leon Denis Ribeiro, integrante da Defesa Civil de Caxias, vistoriou a barragem no dia 11 e constatou o o entupimento dos bueiros. A lagoa, quando cheia, tem uma profundidade de cerca de oito metros, segundo Ribeiro. Luiz Bonatto, por sua vez, estima que a extensão é de cerca de 50 metros de largura por 100 metros de comprimento.
Ribeiro não detectou danos na estrutura da rodovia, assim como o Daer.
— Aquilo é um declive natural e quando o Daer executou a obra da estrada, formou uma barreira. Esse escoadouro tem um tubulação que, com o tempo, ficou entupida. É grande o volume. Isso faz pressão e leva entulho junto.
Ainda conforme Ribeiro, não há ameaça aparente para moradias, pois os imóveis nas proximidades estão em área mais elevada. O problema maior envolve o hotel, o que não inclui a área da hospedagem. A Defesa Civil, porém, aponta para o risco de afogamentos, uma vez que alguém pode cair na lagoa.
— Tem até mesmo da possibilidade de um carro que passe pela rodovia se acidente e caia ali — alerta Ribeiro.
O QUE DIZ O DAER
O Daer esclarece que essa é uma demanda específica de um clube da região. No dia 11 deste mês, técnicos da autarquia estiveram no local e verificaram que não há qualquer problema com as valetas e bueiros da rodovia. Os dispositivos de drenagem estão com funcionamento adequado, tanto que as chuvas não provocaram danos no asfalto da estrada. Portanto, não cabe ao Departamento tomar providências nesta situação e sim ao dono da área onde o lago está localizado. O proprietário deve arrumar a taipa do lago a fim de evitar vazamentos.
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