O temporal que atingiu Caxias do Sul na noite desta quinta-feira (17) provocou alagamentos, deslizamentos de terra e danificou casas em bairros da cidade. No bairro Cânyon, pelo menos duas famílias perderam móveis, eletrodomésticos, roupas e alimentos com a lama que invadiu as casas, na Rua da Felicidade. O cenário era de destruição na manhã desta sexta-feira (18). O cheiro de esgoto também era forte, já que os boeiros entupiram, subiram e invadiram as casas.
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Em uma das moradias, a água entrou com tanta força que quase derrubou a porta. Pelas marcas nas paredes e pelos relatos dos moradores a água chegou a 1m40cm. O vaso do banheiro foi arrancado e a residência pela lama.
Catarina Rufino do Prada, 60 anos, mora no térreo da casa. Ela estava acompanhada pela filha Fernanda, 28, e com o neto Tales, 5, quando a chuva começou. Emocionada, ela ainda tenta se recuperar do susto e se conformar com as perdas:
— Há três anos perdi tudo e agora vou ter que recomeçar mais uma vez. Ainda estou muito assustada porque dessa vez foi pior. Tive que ir para a casa da vizinha porque alagou tudo. Não é fácil passar por isso mais uma vez. Só Deus para me dar força — disse, sem conseguir segurar as lágrimas.
Outras duas casas também foram invadidas pela água. Perto dali, Claudete Chagas, 51, limpava a garagem. Ela teme que a chuva volte com força e mais uma vez o esgoto invada as casas.
— Não chegou a entrar na minha casa, ficou na garagem, mas tinha muita água e lama. O cheiro está horrível e estamos tentando limpar tudo. Foi a primeira vez que entrou água assim. É assustador e se chover mais vai carregar tudo. O carro do meu primo estava em frente a casa e as pedras destruíram a lataria e a água quase tapou o carro todo — conta ela.
Há alguns metros da casa dela, João Pereira da Silva, 44, também limpava a casa do pai dele, Pedro Pereira da Silva, 86. No pátio estavam colchões, geladeira, televisor, sofá, cadeiras, roupas e demais objetos que foram destruídos pela lama. O barro era tanto que João usava uma pá e colocava o barro em um carrinho de mão para tirar de dentro da casa.
— Essa é a terceira vez que meu pai perde tudo. Eu agradeço a Deus por ele não estar em casa no momento da chuva, porque ele é acamado, e minha irmã veio buscá-lo para ficar com ela antes da chuva. Se estivesse aqui, não sei se sairia vivo. Agora é recomeçar mais uma vez.
Um córrego no final da Rua da Felicidade também subiu, o que ajudou a invadir as casas. Lixo, pneus, sacolas e restos de móveis que são jogados na água pelos moradores dos bairros próximos invadiram as ruas do Cânyon.
Equipes da Secretaria de Obras e da Codeca trabalhavam desde às 9h nas ruas do bairro. O presidente do Cânyon, Marciano Corrêa da Silva, desabafa:
— Sabemos que os moradores dos outros bairros se desfazem do lixo no córrego e essa sujeira vem parar aqui. O lixo desce pelos morros e invade as casas. Já estou cansado de pedir providências a prefeitura. Eles vem aqui limpar, mas daqui dois dias já esquecem o Cânyon mais uma vez.
Muro desabou no bairro Petrópolis
Na Rua Mariano Mazzochi, no Petrópolis, um murou cedeu, próximo a escadaria que leva a Universidade de Caxias do Sul (UCS). Com a força da água, misturada à lama, os vidros do banheiro quebraram e o barro invadiu a moradia. A moradora Leandra Cardoso de Matos, 52, estava assustada.
— Moro há 40 anos aqui e isso nunca aconteceu. Estou apavorada porque os dois muros cederam, o meu e o do vizinho. Os canos de água da minha casa estouraram e a lama veio com tanta força que os vidros da janela quebrabram e o barro invadiu o banheiro e a área de serviço. Tenho medo que chova mais. Agora é limpar tudo — reclama.
CHAMADOS
O Corpo de Bombeiros Militar de Caxias recebeu mais de cem chamados referentes a alagamentos em residências, deslizamento de terra, além de quedas de postes e de árvores. Equipes atenderam ocorrências nos bairros Pioneiro, Mariani, Ana Rech na noite de quinta. Já na manhã desta sexta, a equipe ainda atendia ocorrências registradas à noite. Segundo a corporação, os bairros mais atingidos foram Bela Vista e Jardim das Hortênsias.
A forte chuva durou aproximadamente 10 minutos e deixou diversos pontos da cidade alagados. A chuva, que já era registrada ao longo do dia de forma isolada, intensificou-se por volta das 19h.
O QUE DIZ A SECRETARIA DE OBRAS
Com relação ao córrego junto à rua da Felicidade, no loteamento Cânyon, a Secretaria de Obras e Serviços Públicos informa que trata-se de terreno irregular. De qualquer forma, a fim de atender os moradores, uma equipe já está atuando no local na manhã desta sexta-feira (18/10), a fim de restabelecer a drenagem pluvial e o sistema viário, fazendo a limpeza do lixo espalhado. Cabe salientar que o trecho demanda constantes obras de limpeza da tubulação, uma vez que a comunidade continua a descartar todo tipo de resíduo orgânico e seletivo junto ao sistema de drenagem, ocasionando entupimentos. Somente em setembro, foram retirados mais de 15 metros cúbicos de lixo no local, com necessidade de troca de 10 canos. A orientação é para que a comunidade preserve o sistema de drenagem, sem descartar resíduos na tubulação.
Quanto à rua Mariano Mazzochi, a Smosp não recebeu chamados via "Alô, Caxias". A orientação é que o morador acione o serviço pelo telefone 156 ou registre a demanda pelo site da prefeitura. As vistorias e atendimentos das demandas são escalados conforme os registros feitos no sistema, com retorno ao solicitante, de forma a organizar os pedidos e o trabalho das equipes.
Outros pontos
Everton Reolon, 36 anos, que tem um pavilhão na Estrada dos Romeiros, fez fotos de dois eucaliptos que caíram do barranco sobre a pista, obstruindo a passagem e derrubando um poste da rede elétrica. O ponto fica na divisa entre Caxias e Farroupilha. Segundo ele, a obra que alargou a estrada deixou muitas árvores da margem com risco de cair.
Secretaria de Transportes alagada
Funcionários contataram a reportagem para informar que a sede da Secretaria de Transporte de Caxias estava com os três andares alagados. Já a assessoria de imprensa confirmou que há um ponto de acúmulo de água em dois setores do terceiro andar da secretaria. Ainda, segundo a assessoria, as calhas do prédio não suportaram o volume de água que caiu na noite de quinta e as equipes de limpeza e conservação estão trabalhando para que a situação seja normalizada.