A travessia da Maria Fumaça conduzindo oito vagões em meio aos campos de Vacaria, mais do que um simples passeio, é um convite para voltar ao passado. Durante o final de semana, ocorreram quatro viagens, entre o centro de Vacaria e a Fazenda do Socorro, em uma parceria entre a prefeitura e a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). Da janela do trem, a paisagem de prado verde sem fim, e aqui e ali gado a pastar, emolduravam cenas incomuns para a maioria dos turistas que pagaram R$ 65 pelo trajeto de 20 quilômetros. Parte da receita com a venda de bilhetes foi revertida para 12 entidades assistenciais de Vacaria.
— Somos de Chapecó. Viemos para o passeio enquanto nossos maridos estão em um curso de dança, em Vacaria — revela a comerciante Pâmela Cechetto, que estava acompanha das amigas Graziela Marca e Daniela Lopes, na viagem da manhã de domingo.
Assim como as amigas de Chapecó, as aposentadas Clotilde Britto Granetto e Ana Luiza da Poian estavam realizando o passeio pela primeira vez.
— Ah, se eu soubesse que já tinha ocorrido no ano passado eu teria vindo também. Estou gostando demais! — brinca Clotilde, dizendo que um grande grupo de Porto Alegre já havia chegado no sábado para aproveitar o dia e se hospedar em hotéis de Vacaria.
Esse movimento turístico é a intenção da prefeitura de Vacaria. Conforme antecipa o vereador Marcelo Dondé (PP), o interesse do município é manter a Maria Fumaça em Vacaria, a partir de 2021. Atualmente, o trem fica em Rio Negrinho, em Santa Catarina, e tem feito essas viagens experimentais em diversos pontos do Estado, como no Vale do Taquari e região das Missões.
— Nossa intenção é trazer a Maria Fumaça em definitivo para Vacaria, para quem sabe realizar pelo menos uma viagem turística por mês, e disponibilizar que ela seja deslocada para outras cidades aqui da região, com a mesma finalidade — explica o vereador Marcelo Dondé.
Fazenda erguida em 1770
Uma viagem ao passado como essa não poderia ter desfecho melhor do que a chegada do trem à Fazenda do Socorro, em uma região de Vacaria chamada de Capitão Ritter. O marco inicial da fazenda é de 1770 e faz parte da herança de um tempo em que Vacaria era formada por seis grandes fazendas, entre elas a Socorro, que recebe esse nome por causa do rio homônimo que delimitava a propriedade. O outro extremo era o Rio Pelotas, a cerca de 20 quilômetros distante da sede atual da fazenda.
Se hoje a chegada da Maria Fumaça é esperança para o início de um novo ciclo turístico na região, há 51 anos atrás não foi encarada com a mesma alegria.
— O Arthur Coelho Borges, marido da Dona Maria de Lourdes Noronha, teria morrido de tristeza quando o governo federal determinou que a estrada de ferro ia cortar ao meio a fazenda deles. Tudo isso por causa de desavença política — explica Ivete Panisson De Rossi, diretora da Fazenda Socorro.
Os turistas podem visitar a propriedade mediante agendamento prévio. Na fazenda, há um museu com peças, móveis e utensílios, além de um dos prédios que ainda está de pé, da época de 1700, além de construções dos anos 1940, que fazem parte do período de maior modernização.
— A Dona Lourdes era uma visionária, tudo isso que nós vemos hoje foi ideia dela. Essa propriedade gerava sua própria energia elétrica. E na capela tem um altar que tem Nossa Senhora do Carmo segurando o menino Jesus, com traços negros. Esse altar estava na Igreja do Rosário, em Porto Alegre, e foi trazido por ela para cá por ela como uma forma de homenagear os negros — lembra Ivete.
FAZENDA DO SOCORRO
Visitação agendada apenas através de contato por e-mail: fazsocorro@hotmail.com ou mensagem pela página do Facebook Fazenda Do Socorro. A Fazenda do Socorro fica na BR 116, Km 21, em Vacaria.