A chegada do transporte por aplicativos acelerou a queda no número de passageiros pagantes no transporte público de Caxias do Sul. De 2009 a 2018, a média mensal de usuários pagantes caiu de 3,5 milhões para 2,4 milhões, retração de 30%. Levando em consideração o número total de passageiros transportados por mês (incluindo gratuidades), a queda foi de 4,5 milhões para 3,7 milhões no período, 16% a menos. Os dados foram divulgados pela assessoria da Viação Santa Teresa (Visate) a pedido da reportagem do Pioneiro.
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Os índices negativos se intensificaram a partir de 2015, quando os aplicativos começam a surgir na cidade. Em três anos (2015 a 2018), a concessionária perdeu mais de 600 mil passageiros, segundo as planilhas apresentadas. E a previsão é de nova queda em 2019. Se a média do primeiro semestre for mantida, o recuo será de 3,59%. Isso representaria quase 90 mil usuários a menos.
A redução se deve principalmente à mudança de comportamento na mobilidade urbana. A locomoção por aplicativos trouxe mais comodidade aos usuários, que não precisam andar várias quadras para subir no coletivo e também não precisam esperar muito tempo nas paradas. Tudo isso por um preço levemente superior cobrado pelos urbanos. O crescimento de fretamentos e do transporte escolar, a crise econômica e o alto índice de desemprego também são apontados como causas para redução no número de usuários do serviço público, embora em menor proporção.
A Visate se manifestou por email (via assessoria) sobre o atual cenário: "É preciso discutir urgentemente o futuro do transporte público de Caxias do Sul". Dados da concessionária também apontam para uma redução de 31,94% na receita da empresa, no período de 2010 a 2018 (cálculo feito com base no passageiro equivalente).
Discussões acirradas
A divergência de ideias entre Visate e prefeitura ganhou acirradas discussões nos últimos dois anos: de um lado, o poder público cobra qualidade do serviço a preços mais reduzidos. Por outro, a empresa se defende argumentando a falta de estrutura nas ruas da cidade e os altos custos para manter o serviço. Isso resultou num plano para a elaboração de um novo edital de licitação para o transporte coletivo, que deve colocar uma nova empresa no cenário a partir de 2020 e apontar um caminho para o futuro do transporte público caxiense.
Para a empresa, a discussão também deve incluir outros questionamentos: "Será por demanda? Com itinerários fixos ou variáveis? Com as mesmas linhas que existem atualmente? Com tarifas variáveis ou fixas?"
Questionada sobre as chances de sobreviver diante de um cenário pessimista, a direção da Visate observa:
"Em Caxias, a concorrência é muito grande e ganhou força com a "explosão" do chamado "transporte por aplicativo". O desafio é enorme.
Qual a saída para melhorar a qualidade do serviço na cidade?
"Políticas de incentivo, como infraestrutura adequada, modernização da oferta dos serviços, preços mais acessíveis sem repassar o custo do transporte integralmente para a tarifa (subsídios) e, principalmente, uma gestão ágil e eficiente por parte do município", observa a empresa.
Sobre o futuro do transporte coletivo em Caxias, a empresa destaca que, " diante da nova realidade do setor e as dificuldades, cada vez maiores, entre a concessionária do serviço e o poder público municipal, a Visate aguardará a publicação do edital de licitação para verificar se é viável continuar prestando o serviço.
O que diz a Secretaria de Trânsito
A Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM) explica, em nota, que o poder público utiliza como indicador o Índice de Passageiros Equivalentes por Quilômetro (IPKe): número de passageiros transportados x quilometragem rodada.
“Em dezembro de 2008, o índice foi de 2,1491. Em janeiro de 2019, o IPKe ficou em 1,4884. Ou seja, redução de 30,8%. Se considerado somente os dados de passageiros pagantes, a redução é de 32,46%. Na relação de passageiros totais (pagantes + benefícios), a redução é de 16,83%.
A queda acompanha uma tendência nacional, que mostra que a população tem buscado outras alternativas de locomoção além do transporte público. É um somatório de ações que contribuem para a queda: crise, transporte por aplicativos com descontos e tarifas variáveis, táxi, mais pessoas usando bicicleta em pequenos deslocamentos, facilidade na compra de carros e motos, entre outros.
Além disso, há questões de falta de confiabilidade da comunidade no serviço prestado pela concessionária em Caxias, como atrasos ou omissões de viagens, práticas que prejudicam o usuário e contribuem para que menos pessoas procurem o serviço. A SMTTM tem trabalhado para qualificar o serviço e torná-lo mais atrativo. Na reta final de contrato, a secretaria entende que a concessionária deve concentrar seus esforços na prestação eficiente do serviço, o que não vem fazendo, visto a quantidade de autuações emitidas (cerca de 400 desde 2017) e pelas constantes reclamações que chegam por meio do Alô, Caxias.
A SMTTM ressalta, ainda, que o transporte coletivo urbano segue como o principal meio de transporte dos caxienses, transportando cerca de 4 milhões de pessoas todos os meses. Não se trata de um transporte em crise, mas sim de um serviço que precisa de melhorias e de atualização para que continue cumprindo com a sua função com a comunidade e seja cada vez mais eficiente.
A administração está trabalhando na elaboração de um novo edital de licitação para o transporte coletivo no próximo ano, que buscará qualificar o serviço para os usuários com o compromisso de uma tarifa justa e um transporte de qualidade”.
O que diz a Visate sobre as multas
De acordo com a concessionária o número de autuações aplicadas (cerca de 400 desde 2017) é pequeno dentro de um universo de 7,8 mil viagens por dia. "Recebemos cerca de 400 multas, mas dentro do nosso universo é muito pouco. Tanto, que nosso Índice de Cumprimento de Viagem (ICV) foi monitorado no último mês e o resultado foi de 99,7%. "
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